A história da psicóloga brasileira Valéria Gomes, de 51 anos, natural de Jacareí (SP), vai virar um livro e tem roteiro para também virar um filme. Valéria passou 26 dias presa no BTC – Broward Transitional Center – em Pompano Beach, entre outubro e novembro de 2015, mesmo estando em processo de mudança de status de visto de turista para estudante. Segundo Valéria, ela só conseguiu sair depois que a própria imigração aprovou seu visto de estudante, ou seja, ela estava presa como ilegal e teve o visto aprovado. Ela acusa o ex-namorado americano de tê-la denunciado à imigração, já que eles não tinham qualquer motivo para ir atrás dela.
Em entrevista ao AcheiUSA, a brasileira contou sua história. Valéria chegou aos Estados Unidos em agosto de 2014 como turista, decidiu mudar o status imigratório para estudante, fez todo o processo com a escola e estava aguardando a resposta da imigração quando conheceu o então namorado americano.
“Em março de 2015 (8 meses depois) conheci um americano e começamos a namorar. Eu tinha meu apartamento montado, comprei meu carro e estava vivendo o sonho da minha vida, apenas aguardando meu visto definitivo para iniciar as aulas, mas estudava no Miami Dade meio período. Depois do meu namorado muito insistir, em um mês fui morar em sua casa, ele se mostrava apaixonante e dedicado. Depois que mudei tudo se transformou e a violência doméstica moral se iniciou em 15 dias”, relatou Valéria.
Segundo a psicóloga, o namorado tinha ataques de bipolaridade, ao mesmo tempo que a tratava bem, no outro dia a mandava embora. “A cada vez que ele me via querer sair da casa dele, ele chorava e falava de amor e família, me pedia perdão. Eu dava mais uma chance e toda violência e assédio continuavam”, disse.
Depois de 7 meses vivendo “entre o céu e o inferno”, como ela mesma descreve, Valéria decidiu colocar fim no relacionamento e disse que iria sair de casa. O namorado, mesmo sabendo que ela aguardava a resposta da imigração, a teria denunciado para a polícia e para a imigração. “Cinco policiais armados entraram na minha casa, me colocando armas na cabeça, me algemando mesmo me vendo deitada e doente com as pernas roxas (devido às agressões dele dois dias antes). Não me deram a chance de mostrar minha documentação ou mesmo chamar minha advogada”, denuncia.
Ela afirma que a agente de imigração disse que os documentos da brasileira não haviam sido localizados no sistema e que ela estava ilegal. “Então fui presa, fiquei algemada e fui colocada na portaria do meu prédio onde eu morava exposta a humilhação de estar algemada e para que todos me vissem naquela situação degradante. Fui então levada para o ICE, onde fiquei por 12 horas presa em uma cela, congelante e depois fui transferida para o BTC.
“Eu fiquei sem contato com ninguém por mais de 50 horas e me desesperava e estava aterrorizada, apenas pensava em minha filha, ela devia estar desesperada porque ela sabia o que eu estava vivendo com meu ex-namorado”.
Ela relata que passou momentos de medo, pânico, tristeza, entre outros traumas. “Queria morrer, porque fiz tudo corretamente e eu não entendia estar passando tanta crueldade”. “Eu fiz tudo da maneira certa, porque eu não teria coragem de ficar ilegalmente em um País e estava em um lugar onde as pessoas (homens e mulheres, mais ou menos 600 pessoas), estão contrabandeando drogas, eram realmente ilegais, entraram no País pelo mar, atravessaram a fronteira a pé e enfrentaram muito perigo”, relatou.
Com a ajuda de um advogado, Valéria conseguiu provar sua inocência e foi libertada sem pagar fiança. Ela decidiu voltar para o Brasil para ficar junto da filha e da família e para fazer um tratamento de saúde. “Não estou bem, estou com pânico, sofro de problemas na coluna e vivi um verdadeiro inferno nos EUA”, disse. Ela afirma que não voltará a morar nos EUA, mas que quer voltar um dia ao País de cabeça erguida, já que, segundo ela, foi presa injustamente.
Consulado oferece serviço de ajuda às vítimas
O Consulado-Geral em Miami dispõe de um Setor de Assistência a Brasileiros, onde as vítimas podem receber esclarecimentos sobre seus direitos, bem como orientação jurídica e psicológica. Em breve, será publicada uma cartilha do Ministério das Relações Exteriores com informações úteis sobre divórcio, guarda de filhos e violência doméstica.
É importante ressaltar, porém, que o Consulado-Geral não dispõe de recursos para custear a contratação de advogado de defesa, mas pode ajudar a encontrar profissionais que ofereçam esse serviço gratuitamente (“pro bono”). O Consulado-Geral também possui contatos de instituições de apoio para onde as vítimas podem ser encaminhadas.
Um aspecto que os funcionários do Consulado-Geral sempre destacam nos atendimentos a vítimas de violência doméstica é que todo brasileiro, independentemente de sua situação migratória nos EUA, possui seus direitos e pode recorrer às autoridades locais, como a polícia e os tribunais, que por lei são obrigadas a proteger pessoas em situação de vulnerabilidade.
O contato com o Consulado-Geral pode ser feito por meio dos telefones (305)-285-6208/6258/6251 ou pelo correio eletrônico “assistência.miami@itamaraty.gov.br”.
Em caso de ameaça iminente ou durante uma agressão, o ideal é que a vítima tente contatar imediatamente o 911 para solicitar apoio policial. Outro contato importante, oferecido pelo Departamento de Justiça norte-americano: “The National Domestic Violence Hotline”, um serviço de atendimento telefônico gratuito para vítimas de violência doméstica: 1-800-799-SAFE (7233) e 1-800-787-3224.