Histórico

Brasileira lança linha de roupas para mulheres religiosas e comportadas

Depois de trocar de religião, de nome e de país, a brasileira Maria Patrícia de Sousa, usa um pouco da cultura brasileira em roupas mais longas

Joselina Reis

Esther Goldberger
Esther Goldberger trabalha em seu atelier no Canadá

Ela já foi professora de escola dominical em escola batista, agora é judia e criou uma linha de roupas só para mulheres que seguem a frente mais conservadora da religião, os ortodoxos. Maria Patrícia de Souza, brasileira de São Paulo, prefere ser chamada pelo seu nome judaico Esther Goldberger e é a proprietária da marca Dellasuza, em Montreal (Canadá).

O nome da empresa veio do seu antigo sobrenome português. “ Meu nome de solteira é De Sousa, e, como todo mundo sabe, nós, os “de Sousa”, viramos “Desuza” quando chegamos na América do Norte. Acrescentei um “La” ao “Desuza” e voilà! Dellasuza!”, conta.

Quanto à mudança de seu nome de batismo, ela lembra que é algo tradicional na religião que resolveu seguir. “Na verdade nao mudei, apenas acrescentei! Pessoas que nascem em famílias judaicas recebem um nome hebraico dos pais, e os que se convertem ao Judaísmo em vida adulta, escolhem um nome hebraico para si.”, explicou. De acordo com as regras da sua religião, o nome hebraico tem a finalidade de ser usado em cerimônias religiosas, como casamento, Bar e Bat Mitzvah, orações, etc. “É como se fosse um RG espiritual. No entanto, algumas pessoas preferem ser chamadas pelo nome hebraico, como é o meu caso”, acrescentou.

Como todo negócio, o início não foi fácil. O primeiro obstáculo foi vencer a opinião do marido que acreditava que a ideia não passava de um passatempo na vida da brasileira. Agora, pouco mais de cinco meses após a criação da marca, Ester ainda não colheu lucros altos, mas já consegue dar conta do pagamento de quatro funcionários e reinvestir em maquinário, tecido e educação (livros e mais livros sobre a arte de modelagem plana!). “O retorno financeiro tem sido o suficiente para nos manter ativos”, resume.
Leia abaixo a entrevista com a empresária brasileira.

AcheiUSA: Você já tentou levar seu produto para o Brasil? Como foi?
Ester Goldeberger: Iniciamos nossa empresa há apenas cinco meses e ainda não tivemos a oportunidade de levá-la ao Brasil, mas esse é um de nossos objetivos. Mesmo sendo uma terra tropical, há muitas mulheres brasileiras que gostariam de usar um vestido um pouco mais longo do que os que são oferecidos em lojas convencionais.

AU: Você planeja levar sua coleção para os EUA?
EG: A coleção já é oferecida no mercado americano e a resposta tem sido muito positiva, graças a Deus. Além da comunidade judaica, as roupas que vendemos estão disponíveis a todas as mulheres que gostariam de usar um estilo mais conservador, independente de cultura ou denominação religiosa.
Além de tudo, usar vestidos e saias mais longas é uma tendência de moda muito forte. No verão de 2014, as maiores fashion houses do mundo oferecerão roupas mais conservadoras, ou seja, saias abaixo do joelho e mangas mais longas às suas clientes. Espere e verá!

AU: Como está sendo a aceitação da comunidade judaica?
EG: Recebemos muitos e-mails de incentivo e muitas mensagens inspiradoras vindas de comunidades judaicas ao redor do mundo. Recebo mensagens de judeus brasileiros, alemães, americanos, suíços, australianos… O carinho tem sido muito grande e cada palavra é de tremenda importância para nós. Sejam sugestões, críticas construtivas ou apenas uma palavra amiga, somos muito gratos por todas as mensagens enviadas. Tal aceitação também nos incentiva a expandirmos Dellasuza e planejarmos uma distribuição em boutiques e lojas interessadas no ramo de roupas conservadoras.

AU: Você planeja investir em roupas desenhadas para outras religiões?
EG: Como disse anteriormente, não baseio minhas roupas a um grupo religioso somente. Você vai notar que não menciono religião no meu website. As roupas que faço são para mulheres que por alguma razão, seja pessoal, profissional, cultural ou religiosa, preferem manter a beleza de seu corpo como um mistério, ao contrário da super exposição do corpo feminino a que estamos habituados.

AU: Quais as diferenças entre uma coleção para a comunidade judaica e para a comunidade de outra religião?
EG: O Judaísmo Ortodoxo ensina que o verdadeiro valor de uma mulher está em sua alma e sua mente, expresso através de suas palavras e ações. Desta maneira, é mais importante atrairmos atenção por nossa personalidade do que tentar o mesmo objetivo usando a exposição do corpo.
Mulheres que seguem a ortodoxa geralmente usam saias com alguns centímetros abaixo dos joelhos e blusas que cubram os cotovelos e clavícula. Mais ou menos como as mulheres se vestiam na década de 50.
Mulheres cristãs, que também acham mais importante revelar seus pensamentos do que expor seu corpo, também preferem saias ao nível do joelho e blusas com mangas, curtas e compridas.
Mulheres muçulmanas que seguem uma vida religiosa e também acreditam que a verdadeira beleza da mulher está em sua personalidade, geralmente preferem roupas que cubram todo o corpo, deixando expostos somente o rosto e as mãos. Mulheres que seguem o hinduísmo também preferem roupas mais longas e reservadas.

AU: O que te atraiu no Judaísmo? Qual era a sua religião anterior?
EG: O que me atraiu ao Judaísmo foi sua história. Não somente a história de sobrevivência do povo judeu, mas todos os escritos e ensinamentos que foram registrados por seus sábios nos últimos 3000 anos. Minha família me concedeu uma educação religiosa protestante, e lhes sou muito grata por isso.

AU: Você já fez ou planeja fazer uma desfile? Onde?
EG: Planejo meu primeiro desfile para a coleção Fall 2014, em Montreal.

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