No último sábado, 8 de agosto, por volta das 5pm, a polícia do condado de Duval, em Jacksonville, respondeu a um chamado para o endereço 3700, San Pablo Road South. Ao chegar ao local, os policiais ouviram gritos de socorro de uma mulher e arrombaram a porta. A mulher era Anita Abdel-Majid, brasileira, 50 anos, natural de Catanduva (SP).
Os agentes perceberam que ela havia sido esfaqueada e acionaram a ambulância. No entanto, Anita foi declarada morta no local pelo Corpo de Bombeiros e Resgate de Jacksonville.
A outra pessoa na cena era o portorriquenho de descendência árabe Nabil Abdel-Majid, 49 anos. Ele também apresentava ferimentos a faca e foi levado para o hospital. Na terça-feira, 10, ele recebeu alta e foi preso sob acusação de assassinato da companheira de 25 anos e mãe dos seus dois filhos.
Segundo a Unidade de Homicídios do Jacksonville Sheriff’s Office, ele está sendo acusado de assassinato em segundo grau, quando há a intenção de matar ou causar sérios danos à integridade física da vítima, o que pela legislação penal da Flórida pode acarretar em prisão perpétua.
Violência doméstica
Uma pessoa ligada à família da vítima que não quis se identificar disse ao AcheiUSA que Anita vivia uma relação abusiva com o ex-companheiro. “Eu sempre soube das brigas, ela vivia uma vida infeliz”, disse. Segundo a fonte, situações de agressão física e violência psicológica eram comuns. “Ele mandava várias mensagens por dia, era possessivo. Dizia que queria morrer, mas ia levá-la com ele”, relatou.
O comportamento perturbador do homem fez com que a família o internasse em clínica psiquiátrica algumas vezes, mas ele nunca chegou a concluir um tratamento. “Ficava alguns dias e saía. Era ela quem cuidava dele, a família não queria saber, e olha o que ele fez com ela”, desabafa.
Apesar da violência sofrida com frequência, a vítima nunca chegou a registrar ocorrência policial. Nem mesmo depois que os dois filhos do casal, de 23 e 25 anos, se mudaram para Boston, deixando-a sozinha com seu futuro assassino. “Ela ficou sozinha com esse monstro”.
Também disse que Anita nunca tentou se defender fisicamente, tampouco revidar as agressões recebidas e que a alegação feita pelo assassino de que houve uma briga em que ambos ficaram feridos não faz sentido. “ Ele disse que agiu em legítima defesa, que ela o atacou, isso não é verdade. Ela era frágil e nunca o atacaria”.
Momentos finais
Às 4:51pm, Anita enviou um vídeo para o celular da pessoa ouvida pelo AcheiUSA. O boletim policial indica que os agentes chegaram ao apartamento minutos depois das 5pm. “No vídeo ela estava rindo e feliz com uma amiga”.
A amiga é Flávia Macedo, uma das últimas pessoa a ver Anita em vida. Ela conta que as duas tinham ido trabalhar juntas e, naquele dia, a vítima estava com um hematoma nas costas. “Saímos do trabalho por volta das duas da tarde, fomos fazer compras e depois eu a deixei em casa”.
Flávia conta que achou estranho quando ligou várias vezes para o celular da amiga e ela não respondeu. “Meu chefe estava ligando pra ela, ninguém sabia de nada. Ela deixava todos nós do trabalho preocupados com ela”, conta.
Anita trabalhava em uma companhia de limpeza, e o marido ficava em casa. Entre suas atividades ele mantinha um canal do YouTube sobre tecnologia.
“Eu a deixei em casa rápido, ela me deu um abraço e um beijo e disse “até amanhã, eu trago comida para você”, e entrou. Ela não tinha ideia do que ia acontecer.
Flávia também reforça a opinião que o assassino causou os ferimentos em si própri, para se beneficiar da situação de legítima defesa. “Ele fez isso a si mesmo para que todos pensassem que ela fez. Ela era magra e pequena. Ela não machucaria ninguém”, desabafa.
A polícia foi acionada pelos vizinhos do apartamento, que ouviram os gritos de pânico.
Denuncie seu agressor !
Segundo a Linha Nacional de Violência Doméstica dos Estados Unidos , os casos de violência doméstica nos EUA cresceram 12% entre os meses de março e maio deste ano. Infelizmente, este número deve ser maior, dado que muitas mulheres não denunciam seus agressores.
Entre as imigrantes, principalmente se forem indocumentadas, o silêncio diante da violência sofrida pelo companheiro é ainda mais comum.
Nos EUA, a lei conhecida como VAWA ( Violence Against Women Act) garante proteção a qualquer indivíduo vitima de agressão física ou psicológica independentemente de sua condição imigratória, cor, etnia, orientação sexual ou religião.
Se você sente que está correndo risco de vida, não hesite, ligue 911 e peça ajuda. Se você não fala inglês tente dizer “Portuguese, Brazil”. Isto é suficiente para que o atendente do 911 entenda que você precisa de um intérprete brasileiro. Um intérprete será conectado imediatamente. Certifique-se de falar todos os detalhes do acontecimento.
Segue abaixo uma lista de organizações que trabalham com vitimas locais e imigrantes residentes nos EUA. Vale ressaltar que essas organizações também auxiliam a comunidade LGBT.
National Domestic Violence Hotline (EUA) : 1- 800- 799 SAFE (7233) ou 1-800-787-3224 (TTY). Este canal oferece atendimento às vítimas de violência domética 24 horas por dia, em diferentes idiomas.
Florida Council Against Sexual Violence: 888-956- 7273
Florida Coalition Against Domestic Violence: 1-800-500-1119 / Florida Relay 711 / TDD Hotline: 1-800-621-4202
National Resource Center on Domestic Violence: Voice 1 800 537-2238 | TTY 1 800 553-2508
YWCA eliminating racism empowering women: 1-800-799-SAFE (7233) / 1-800-787-3224 (TTY)
National Sexual Assault Hotline of the Rape, Abuse and Incest National Network (RAINN): 1-800-656-HOPE (1-800-656-4673)
National Center for Missing and Exploited Children: 1-800-THE-LOST (1-800-843-5678)
The National Center for Victims of Crime: 1-800-FYI-CALL (1-800-394-2255) / 1-800-211-7996 (TTY) / 1-866-4-VICTIM (1-855-484-2846)