A brasileira Maria Araújo, moradora de Miami e há 20 anos nos EUA, está prestes a adotar três irmãos – dois meninos e uma menina – que vivem em um orfanato em São Paulo desde que foram retirados da guarda da mãe. Duas das três crianças são filhas do irmão de Maria, que também não teve condições de criá-las por outras razões.
Depois de toda a burocracia envolvida no processo de adoção e dar entrada nos papeis para a imigração das crianças, Maria se viu em uma situação financeira complicada, e precisa de $30 mil dólares para trazer para cá as três crianças. Maria, funcionária de um restaurante e divorciada, alugou um quarto em sua casa para ajudar no orçamento e está fazendo refeições para fora, mas ainda assim não conseguiu levantar todo o dinheiro. Para ajudar no orçamento, ela abriu uma página de financiamento coletivo, um GoFundMe, onde as pessoas podem contribuir para que ela consiga o montante.
Em entrevista ao AcheiUSA, Maria explicou que essa situação foi completamente inesperada, porque ela não imaginava de jeito nenhum que adotaria três crianças a essa altura da vida.
“Há três anos fui de férias para o Brasil e fiquei sabendo que dois filhos do meu irmão estavam vivendo em um orfanato porque tinham sido retirados de casa pelo conselho tutelar. Eu costumo dizer que tenho a adoção no sangue. Minha mãe morreu jovem e criei minhas duas irmãs menores como se fossem minhas filhas. Depois vieram minhas filhas de sangue. Quando vi essas crianças pequenas precisando de ajuda, decidi adotá-las”.
A criança mais velha das três, um menino de dez anos, não é sobrinho de Maria, mas ela não vê sentido em adotar as outras duas mais novas e deixá-lo para trás. “Quero trazer os três para cá, quero dar a eles um futuro, uma família”.
Caso ela consiga o dinheiro, pretende buscar as crianças em outubro deste ano. A legislação brasileira exige que ela passe seis semanas com os sobrinhos em período de experiência antes da posse definitiva. “São muitas exigências, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, e a maior parte já consegui cumprir. Agora preciso desse dinheiro para a conclusão do processo”.
O processo de adoção
Para desenrolar todo o complicado processo burocrático de adoção Maria contou com a ajuda da advogada mineira Camila Turquia Brandewie, que vive em Denver, no Colorado, e trabalha em uma organização não governamental (ONG) que tem mais de 45 anos de experiência em adoções internacionais, a Hand in Hand International Adoptions.
Pelas mãos de Camila, 21 famílias que vivem nos Estados Unidos já adotaram 41 crianças brasileiras. Entre elas, a família Pratt, cuja história foi relatada pelo AcheiUSA em março de 2017. O casal Brandon e Jennifer Pratt adotou quatro irmãos de Recife (PE).
Camila ajudou Maria em todo o processo e acredita que ela não vai ter problemas para trazer as crianças de São Paulo. “O processo está bem encaminhado. O alto custo no caso dela se deve ao fato de serem três crianças, mas acredito que ela vai conseguir levantar esse dinheiro”.
Para um brasileiro adotar uma criança no Brasil e levá-la para os EUA é preciso, por exemplo, que o indivíduo seja também cidadão americano e que tenha uma diferença de 16 anos entre ele e a criança a ser adotada. Caso seja casado, apenas um dos cônjuges precisa ser cidadão dos Estados Unidos. É necessário também fazer o processo de adoção por meio de uma organização especializada, que ajuda com toda a papelada.
A advogada respondeu algumas perguntas básicas sobre adoção internacional de crianças:
AcheiUSA – Quais os requisitos para um brasileiro que vive no exterior adotar uma criança no Brasil?
Camila – Os requisitos são apenas que você seja ser cidadão ou cidadã americana e ter 16 (dezesseis) anos de diferença entra a sua idade e a da criança que você vai adotar. Caso seja casado, apenas um conjugue precisa ser cidadão americano.
AU – Ele precisa de muito dinheiro? Quanto custa em média todo o processo e quanto tempo demora?
Não precisa ter muito dinheiro, qualquer pessoa com certo planejamento financeiro consegue adotar. O valor exato depende do número de crianças que serão adotadas e em qual estado a família reside. O processo de adoção internacional tem que ser necessariamente intermediado por um organismo credenciado sem fins lucrativos. As taxas pagas ao organismo são estritamente relacionadas ao custo do processo, para traduções juramentadas, taxas de visto e imigração e processamento de documentos. As taxas não são pagas de uma vez só, mas em parcelas e à medida que as famílias avançam no processo. Em geral, para começar as famílias pagam um valor por volta de $1 mil. No meio do processo, há um outro pagamento por volta de $9 mil e ao final do processo, antes da família viajar para buscar as crianças e finalizar tudo, tem mais uma taxa de $9 mil.
Dinheiro nunca deve ser o fator que impeça uma família de adotar. Felizmente, existem diversas opções para pagar um processo de adoção internacional nos Estados Unidos, como programas de financiamento, grants, fundraising, adoption tax credits e outros. Ao trabalhar com um organismo credenciado as famílias estão protegidas por todas as legislações aplicáveis para lhes garantir um processo ético, correto e atendendo ao maior interesse dos menores.
AU – Uma pessoa solteira pode adotar uma criança?
Sim, o Brasil aceita pretendentes à adoção solteiros, casados e também casais do mesmo sexo.
AU – Quais os primeiros passos para a pessoa que vive nos EUA adotar uma criança no Brasil?
O primeiro passo é entrar em contato com um dos organismos credenciados para fazer adoções entre Brasil e Estados Unidos. A Hand In Hand International Adoptions é o organismo onde eu trabalho e que faz mais adoções entre Brasil e Estados Unidos no momento. No nosso website tem mais informações e o passo a passo do processo de adoção internacional (www.hihiadopt.org).
AU – Quantas famílias braso-americanas já adotaram crianças no Brasil desde que o programa foi implementado em 2015?
O programa de adoção da Hand In Hand foi implementado em 2015 e já foram adotadas cerca de 40 crianças ou adolescentes. Existem muitas crianças no Brasil que precisam de famílias e a maioria delas fazem parte de grupos de irmãos. Eu já fiz adoção de dois, três e até quatro irmãos para uma família. Estas crianças ou adolescentes são muito especiais e, pode acreditar, se apaixonar por eles é muito fácil. Ao conhecê-los, você se encanta com suas histórias de vida, histórias tristes de negligência, fome, abandono, mas há também histórias lindas de resiliência, força e esperança. Adoção é uma forma muito bonita e gratificante de fazer crescer sua família. Para mais informações sobre adoção, visite o site do www.hihiadopt.org.
Para ajudar Maria a trazer os três irmãos para o Brasil acesse o site do GoFundMe.