Alternativa é investir agora para formar atletas do futuro
Antonio Tozzi
O Brasil deu a impressão de que seria a grande surpresa nestes Jogos Olímpicos de Verão em Londres ao ganhar três medalhas logo no primeiro dia da competição. Entretanto, tudo não passou de impressão.
À medida que as modalidades vão apresentando seus melhores atletas, o Brasil vai sendo relegado ao segundo escalão do esporte mundial. Até o fechamento desta edição, nosso país contabilizava somente quatro medalhas (uma de ouro e uma de bronze no judô feminino, uma de bronze no judô masculino e uma de prata na natação). Ainda é cedo para saber quantas medalhas os atletas levarão de volta para o Brasil, mas já é possível afirmar que muito precisa ser feito para a participação brasileira no Rio de Janeiro em 2016 não se transformar em fiasco.
Vale dizer que não podemos jogar a culpa nas costas dos atletas a maioria deles amadores que lutam por sua própria conta para se dedicar a uma modalidade esportiva. O que é preciso ser feito é o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) iniciar um projeto sério de formação de atletas para 2016.
Quando se fala em formação de atletas, isto quer dizer empenho efetivo dos governos (federal, estaduais e municipais) na viabilização deste projeto juntamente com clubes e empresas que seriam recompensados por integrar este projeto.
O primeiro fator é, sem dúvida, investir forte na formação de atletas com boas performances individuais. Michael Phelps e suas 20 medalhas olímpicas está aí para confirmar. Os chineses fizeram algo do tipo antes dos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008. Até então, a China tinha uma participação discreta pelo tamanho de sua população, algo como ocorre hoje com a Índia. Entretanto, um projeto sério (temos de admitir que na China o negócio é feito de maneira ditatorial) transformou o país na segunda potência olímpica mundial, rivalizando-se com os EUA e ocupando o papel antes desempenhado pela extinta União Soviética.
Claro que os esportes coletivos não podem ser esquecidos, até porque temos tradição em futebol, vôlei e basquete e surpreendentemente em handebol. Mas é preciso ter em mente que os esportes individuais são os grandes geradores de medalhas.
Como fazer isto? Para tornar o projeto em realidade, é preciso fazer uma seleção dos potenciais campeões de cada modalidade e dar a eles uma estrutura de treinamento invejável, se possível até mesmo com uma pequena remuneração, para que as famílias de baixa renda se sintam incentivadas a enviar suas crianças para o esporte de competição.
Paralelamente a isto, a mídia precisaria mudar seu comportamento e especializar-se em outras modalidades esportivas. Muitas vezes, assistimos a programas esportivos onde os participantes entendem somente de futebol e ficam incentivando rivalidades clubísticas junto aos torcedores.
Lembro-me uma vez que o produtor de um programa na TV Gazeta deixou a informação de que o ucraniano Sergey Bubka, um dos maiores saltadores olímpicos com vara de todos os tempos, havia quebrado o recorde mundial saltando 6m01, quando na verdade a marca era de 6m10. Comentário de um dos futeboleiros: Nove centímetros a mais ou a menos quase não tem diferença. Detalhe, para baixar um tempo assim, o sujeito precisa treinar muito e enfrentar os melhores competidores do planeta.
Ou seja, há muito para se mudar se quisermos nos tornar referência em termos de esportes olímpicos. A boa notícia é que ainda dá tempo.