O governo brasileiro expressou indignação no sábado (24), depois que dezenas de imigrantes deportados dos Estados Unidos chegaram de avião algemados, chamando o fato de um “flagrante desrespeito” aos seus direitos.
O Ministério das Relações Exteriores disse que exigiria uma explicação de Washington sobre o “tratamento degradante dos passageiros no voo”.
A briga ocorre no momento em que a América Latina enfrenta o retorno do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao poder com uma agenda anti-imigração de linha dura, prometendo repressão à migração irregular e deportações em massa.
Quando o avião pousou na cidade de Manaus, no norte do país, as autoridades brasileiras ordenaram que as autoridades norte-americanas “retirassem imediatamente as algemas”, informou o Ministério da Justiça em um comunicado.
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, informou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre “o flagrante desrespeito aos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros”, segundo o comunicado.
O Brasil solicitará “explicações ao governo dos Estados Unidos sobre o tratamento degradante dispensado aos passageiros” no voo de sexta-feira (23) à noite, informou o Ministério das Relações Exteriores no dia X.
O governo disse que 88 brasileiros estavam a bordo da aeronave.
Edgar da Silva Moura, um técnico de informática de 31 anos, estava no voo, após sete meses de detenção nos Estados Unidos.
“No avião, não nos deram água, estávamos com as mãos e os pés amarrados, nem sequer nos deixaram ir ao banheiro”, disse ele à AFP.
“Estava muito quente, algumas pessoas desmaiaram.”
Luis Antonio Rodrigues Santos, um freelancer de 21 anos, relatou o “pesadelo” de pessoas com “problemas respiratórios” durante “quatro horas sem ar condicionado” devido a problemas técnicos no avião.
“As coisas já mudaram, os imigrantes são tratados como criminosos”, disse ele.
Repressão
A ministra dos Direitos Humanos do Brasil, Macaé Evaristo, disse a jornalistas que “crianças com autismo (…) que passaram por experiências muito sérias” também estavam no voo.
Imagens da televisão brasileira mostraram alguns passageiros descendo da aeronave civil, com as mãos algemadas e os tornozelos presos.
“Ao tomar conhecimento da situação, o presidente Lula determinou que uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) fosse mobilizada para transportar os brasileiros até seu destino final, a fim de garantir que pudessem concluir sua viagem com dignidade e segurança”, disse o Ministério da Justiça.
Trump prometeu uma repressão à imigração ilegal durante a campanha eleitoral e iniciou seu segundo mandato com uma enxurrada de ações executivas destinadas a reformular a entrada nos Estados Unidos.
Em seu primeiro dia no cargo, ele assinou ordens declarando uma “emergência nacional” na fronteira sul dos EUA e anunciou o envio de mais tropas para a área, prometendo deportar “estrangeiros criminosos”.
Vários voos de deportação desde segunda-feira (20) chamaram a atenção do público e da mídia, embora essas ações também fossem comuns em presidentes anteriores dos EUA.
Em uma ruptura com a prática anterior, no entanto, o governo Trump começou a usar aeronaves militares para voos de repatriação, com pelo menos um pouso na Guatemala nesta semana.
O avião que aterrissou em Manaus não era uma aeronave militar, confirmaram os jornalistas da AFP na cidade.
Uma fonte do governo brasileiro disse que os deportados que chegaram a Manaus viajaram “com seus documentos”, o que mostra que eles concordaram em voltar para casa.
Estima-se que existam 11 milhões de migrantes sem documentos nos Estados Unidos, de acordo com as estatísticas do Departamento de Segurança Doméstica. Os Estados Unidos também expulsaram 265 imigrantes para a Guatemala na sexta-feira.