Hoje é terça-feira de carnaval. Dia em que, tradicionalmente, o Rio de Janeiro estaria recebendo multidões na marquês de Sapucaí para acompanhar o último dia de desfiles das escolas de samba, além dos blocos de rua espalhados por toda a cidade. Mas, em tempos de pandemia, o carnaval mais famoso do mundo foi silenciado.
Para homenagear as vítimas da doença que já matou quase 240 mil pessoas no Brasil, o Sambódromo ganhou uma iluminação especial com as cores da escolas de samba do Rio.
Na sexta-feira passada (12), dia em que o carnaval começa oficialmente, as chaves da cidade, em vez de serem entregues ao rei Momo, foram para as mãos dos profissionais de saúde que atuam no combate à covid-19.
Os desfiles de São Paulo também não aconteceram. Em vez disso, todas as repartições e serviços públicos estaduais e do poder público municipal da capital paulista terão expediente normal nos três dias.
Em Recife, a prefeitura também cancelou a festa. No marco zero, ponto tradicional dos foliões, os bares forem ordenados a fechar as portas. Para garantir que a lei seja cumprida, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) recomendou aos promotores que fiscalizem as atividades em municípios pernambucanos para impedir festejos. Até a segunda (8), ao menos 30 cidades já tinham sido alertadas da proibição.
O maior carnaval de rua mundo, de acordo com o livro dos records Guiness Book, em Salvador, também não vai para as ruas em 2021.
Carnaval já foi cancelado no Brasil?
José Maurício Conrado, especialista em Carnaval e professor de Marketing da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em entrevista ao G1, explicou que o carnaval já foi adiado outras duas vezes, em 1892 e em 1912, mas a população não acatou a mudança e comemorou a festa nas duas datas: a oficial e a nova que havia sido determinada.
Segundo especialista, em 1892 o ministro do interior, Cesário Alvim, decidiu mudar a data do carnaval para junho, motivado por problemas de infraestrutura e falta de limpeza das ruas. Nesse período, o Brasil lidava com o controle da febre amarela.
Em 1912, o motivo do adiamento foi a morte do ministro das Relações Exteriores, José Maria da Silva Paranhos Júnior, mais conhecido como Barão do Rio Branco. Ele faleceu uma semana antes das festas.
Durante a pandemia da gripe espanhola (1918-1920) – que deixou cerca de 50 milhões de mortos no mundo –, as festividades de carnaval foram mantidas no ano de 1919.
A decisão de cancelar o carnaval 2021, partiu dos governadores e prefeitos de cada estado que seguiram uma recomendação do Fórum dos Governadores de adiar a celebração. A medida foi apresentada ao ministro da saúde, Eduardo Pazuello.
Uma decisão difícil
O carnaval movimenta a economia brasileira e é, em muitos pontos turísticos, a maior oportunidade de arrecadação anual.
A não realização da festa afeta desde os vendedores de bebidas que trabalham nas ruas, aos grupos hoteleiros, que viram a ocupação dos quartos cair mais de 50%.
No Rio de Janeiro, as consequências econômicas deste cancelamento resultará em milhões de reais a menos nos cofres da cidade.
Em Pernambuco o impacto financeiro levou o governador do estado, Paulo Câmara, a criar um auxílio em caráter emergencial para artistas vinculados ao ciclo carnavalesco do estado.
A difícil decisão de cancelar o carnaval terá um forte revés econômico para todo o país, mas evitará que multidões propaguem o coronavírus que nunca chegou a ser controlado, e tem piorado nos últimos meses.
Em janeiro, o país voltou a superar a marca de mil óbitos por dia que havia sido registrada em setembro do ano passado.