Existem, seguramente, dezenas de milhares de rótulos de cerveja no mundo, e a grande frustração (às vezes, oculta) dos que enveredam por esta trilha é que não vai dar para experimentar todos. Dependendo da saúde, da idade em que ocorre a descoberta do “novo mundo” a desbravar, e da di$$$ponibilidade, é possível, porém, alcançar números bem acima do razoável…
Quando estive em Nova York, anos atrás, meu “guia etílico” na cidade apresentou-me a uma figura singular. “Nuclear Pete”. Sujeito de meia idade, barriga protuberante, rosto avermelhado. Físico nuclear, como o apelido indicava. Há mais de 30 anos, dedica-se a colecionar rótulos de cervejas – a maioria, degustadas por ele mesmo. Tinha mais de 20 mil.
Naquela noite no Peculier Pub, um dos redutos cervejeiros mais tradicionais da cidade, no Soho, ajudei a aumentar um pouco sua coleção. Eu havia levado duas garrafas de cervejas brasileiras para presentear meu guia – um amigo virtual com quem eu havia debatido o roteiro cervejeiro durante meses. Uma seguia o estilo belga quadruppel, e a outra, o estilo inglês porter.
Pois o presenteado declinou da oportunidade de levar as duas para casa, e abriu-as ali mesmo, para compartilhar com o amigo. Não bebi porque não quis privá-los de um gole que fosse de ambas as cervejas, que conheço bem e considero primorosas. Pete retribuiu colocando na mesa uma outra de estilo belga que não me recordo exatamente. Trocadas as gentilezas, passamos às do cardápio.
Desde que comecei a explorar a diversidade cervejeira, em fins de 2005/início de 2006, não devo ter ainda quebrado a barreira dos 1 mil rótulos. Só comecei a registrá-los fidedignamente cinco anos depois, e devo ter em torno de 600 com fotos arquivadas em pastas, separadas por cervejaria. Desde meados de 2014, quando aderi ao Untapp’d, aplicativo para celular que permite fazer “mini-avaliações” de cervejas, foram mais de 350.
Algumas são bem mais alcoólicas, e muitas são mais caras, que as ditas “normais”, produzidas em massa pela grande indústria. E como conhecer um monte de cerveja sem fazer (muito) mal ao fígado e ao bolso? Pois é… demorei, mas enfim cheguei ao tema em pauta: o bottle-share é uma ferramenta importantíssima. O bottle-share é seu amigo.
“Compartilhar garrafas” é simples, prático, e econômico. Junta-se um grupo de amigos (podem ser apenas conhecidos, mas, de preferência, que sejam amigos), e, em vez de várias latas/garrafas da mesma cerveja, busca-se ter a maior variedade possível, com quantidades adequadas para que todos possam apreciar cada rótulo.
Qual a dose certa de cada cerveja? O ideal é que seja inversamente proporcional ao teor alcoólico e à… intensidade, vamos dizer assim, dos aromas e sabores. Certas cervejas, apesar de não terem altos volumes alcoólicos, para muitos, são difíceis de beber.
“Ah, mas e se eu gostar muito de uma cerveja, vou ter que me contentar só com um gole, meio copo?” Bom, aí, você tem que agradecer aos santos e deuses da cerveja a oportunidade de ter conhecido aquele rótulo. Porque vai poder não só procurá-lo nos estabelecimentos comerciais que costuma visitar, como conhecer outros rótulos do mesmo estilo, e verificar as semelhanças e diferenças entre eles.
No caso do episódio acima, claro, foi um “mini-bottle-share”, se tanto. Mas a essência estava presente. Tenho visto eventos assim cada vez mais frequentemente nos grupos virtuais de cervejeiros que frequento. Os resultados? Fotos e mais fotos de longas fileiras de rótulos cercadas por grupos de pessoas pra lá de felizes.