Ação do presidente da Câmara pode ser sinal de que o tema será abordado finalmente em 2014
O presidente da Câmara de Deputados (Speaker of the House), John Boehner (republicano de Ohio), contratou uma ex-ajudante do senador John McCain (republicano de Arizona) para que o assessore em temas de imigração.
O diário Arizona Republic disse no sábado (30) que a contratação de Rebeca Tallent revive as esperanças de que o tema da reforma imigratória avance em 2014 após o fracasso nas negociações deste ano na Câmara de Deputados.
Tallent recentemente ocupou o cargo de diretora do Centro de Política Bipartidária em Washington DC e anteriormente trabalhou para o senador McCain, um partidário da reforma imigratória integral que tire das sombras os indocumentados.
Em um e-mail enviado no último dia de trabalho no Centro, Tallent escreveu que em sua nova posição tratará de conseguir avançar o tema da reforma imigratória, disse o diário.
Defensores e adversários da reforma imigratória assinalaram que a decisão de Boehner é um sinal claro de que a liderança republicana quer atuar.
“Este é um sinal de que Boehner está pensando seriamente em fazer algo em matéria de imigração”, disse ao diário John J. Pitney Jr., cientista político do Claremont McKenna College no sul da Califórnia e especialista em assuntos do Congresso. “A grande pergunta é em que consiste isto”.
O Grupo dos Oito
O senador McCain integrou o grupo bipartidário que redigiu o projeto de lei S. 744 aprovado pelo Senado em 27 de junho. O plano inclui uma via para a cidadania aos indocumentados que estão no país desde antes de 31 de dezembro de 2011 e não tenham antecedentes criminais.
Antes de ser aprovado o projeto, Boehner advertiu que a Câmara debateria sua própria iniciativa e que faria isto por partes. E lembrou ainda a vigência da Regra Hastert, que só permite enviar ao plenário as iniciativas que têm o apoio da maioria da maioria.
Entretanto, para que Boehner envie um projeto ao plenário não basta apenas ter o apoio de 118 membros de seu partido, mas, sim contar com os 218 votos mínimos necessários no plenário para evitar uma derrota política.
Postura firme
Desde que o Senado aprovou o projeto S. 744, Boehner tem insistido em que a reforma imigratória seja abordada por partes e não um projeto integral como foi feito na Câmara Alta. Por exemplo, avalizaria um caminho para a cidadania, porém somente para os dreamers, ideia que poderia somar suficientes votos em sua bancada e assegurar sua aprovação no plenário.
Os democratas rechaçam esta opção e insistem que a Câmara Baixa aprove um plano como o do Senado. Em outubro um grupo liderado por Nancy Pelosi entregou uma versão baseada no projeto do Senado com mudanças em uma dura emenda de segurança. A bancada comandada por Pelosi assegura ter os votos necessários para aprovar a reforma imigratória a qualquer momento.
Entre 40 e 50 republicanos avalizam o projeto democrata e puseram Boehner em situações desconfortáveis, exigindo que ele rompa com a ala ultraconservadora do Tea Party.
O presidente Barack Obama também tem dito em várias ocasiões que “os votos estão aí” e pediram a Boehner que proceda a uma uma votação, mas os republicanos insistem em sua estratégia de olho nas eleições intermediárias de novembro de 2014.
A greve de fome
Enquanto Boehner move suas fichas, os democratas não abandonam a estratégia de juntar-se ao movimento social em apoio a uma reforma imigratória que tem Boehner e a liderança republicana como alvos de ataque. Na terça-feira (3), dirigentes e legisladores, entre eles, Joe Kennedy, participaram da enfatização da greve de fome que se realiza a poucas quadras do Capitólio.
O primeiro grupo, liderado pelo sindicalista Eliseo Medina, entregou o bastão a um segundo grupo liderado por Kennedy para manter a reinvidicação de uma reforma imigratória integral e abrangente e a suspensão das deportações.
A greve atraiu o interesse de diversos setores da sociedade civil e do próprio Obama, que na semana passada visitou os grevistas para enviar uma nova mensagem a Boehner a fim de que adiante o tema e convoque uma votação no plenário.
Obama tem dito que não há razão jurídica para deter as deportações e que estas só serão interrompidas se o Congresso aprovar a reforma imigratória. Seu governo deportou quase 2 milhões de indocumentados desde quando iniciou sua administração em 20 de janeiro de 2009, com uma média de 1,200 expulsões diárias.
Silêncio estratégico?
Boehner não se pronunciou sobre a greve nem respondeu a uma carta que Medina e o resto do grupo lhe deixaram em seu gabinete no final de outubro. Mas a contratação de Tallent pode ser a resposta esperada pelos grevistas, embora para alguns analistas também pode significar “uma bofetada” na postura da ala dura do Partido Republicano que resiste a dar aos indocumentados uma oportunidade para legalizar suas permanências.
O deputado Luis Gutiérrez (democrata de Illinois) disse ao Noticiero Univision que no interior da Câmara tem havido conversações entre parlamentares de ambos partidos para não deixar morrer o tema da reforma imigratória.
As organizações que defendem os direitos dos imigrantes reiteram que usarão o voto nos comícios de novembro de 2014 como arma para favorecer ou castigar os que apóiam ou repudiam a reforma imigratória.
Nos comícios presidenciais de 2008 e 2012 Obama conseguiu mais de 68% dos votos latinos que lhe permitiram chegar e permanecer na Casa Branca. Para os comícios de 2014, os democratas esperam manter e superar o apoio para não perder quotas de poder no Congresso e ganhar governos estaduais, e os republicanos esperam os mesmos resultados.