Estou morando em Bergeggi no norte da Itália, uma pequena cidade próxima de Gênova. No verão, o vilarejo que tem população de um pouco mais de mil habitantes passa a receber dezenas de milhares de turistas. As praias em sua maior parte são privadas, há necessidade de se pagar para entrar (é possível se associar e pagar por ano, ou por dia – mas pode custar até 100 euros), contudo, tem alguns trechos públicos – geralmente bem pequenos e entupidos de gente. Além disso soar estranho para nós brasileiros–uma praia ser privada, outro fato é que não são praias com areias brancas, e sim com seixos de rios que eventualmente precisam ser repostos, já que a maré os leva embora. A água se torna azul turquesa no verão, o que deixa o mar parecendo o Caribe – exceto a “areia”…. Eu nunca curti muito praia na minha vida, mas fui uma vez com a Bianca naquele monte de pedregulho à beira-mar. É “mó” esquisito, se chegar perto da água, os seixos escorregam e você afunda.
Essa região é conhecida como a Riviera di Ponente, e muitos turistas vêm de outros países europeus e de outras cidades italianas, como Turin e Milão (várias pessoas mantêm casas de veraneio aqui). Alugar um imóvel nas férias pode custar até três mil euros por um fim de semana – e alugar um para se morar é praticamente impossível. Meu irmão deu sorte quando alugou sua casa, o proprietário havia acabado de colocar o anúncio, em minutos nosso funcionário ligou e conseguiu alugar. À época ainda não tínhamos a cidadania, o que dificultava ainda mais. A vantagem é que meu irmão pôde conversar diretamente com o proprietário, que já havia estado em São Paulo – conversa vai, conversa vem, ele fechou contrato! Eu morei com ele por alguns períodos, mas digamos que a convivência excessiva entre irmãos pode terminar em caso de polícia (vejam o caso de Cain e Abel) e comecei a procurar um apartamento.
Eu também dei sorte, procurando online encontrei um micro apartamento para alugar em Bergeggi próximo ao meu irmão – havia poucas fotos no anúncio, mas o que me atraiu foi a vista do terraço! Minha funcionária ligou e conseguiu agendar uma visita – eu estava em Miami e meu irmão que foi fechar o contrato. É tipo apart-hotel, foi construído para ser hotel, mas o proprietário dividiu os apartamentos e deixou alguns para serem alugados anualmente. Pago um preço relativamente baixo para a região, principalmente considerando-se que água e luz estão embutidas no condomínio (a energia elétrica aqui custa uma fortuna). A desvantagem é que não tinha micro-ondas, nem forno, só um pequeno fogão – e digamos que eu não pretendo cozinhar muita coisa, já que a cozinha fica literalmente dentro do meu quarto. Eu comprei um micro-ondas e uma Air Fryer – que quebra um galho danado para preparar comida congelada. Obviamente que na semana que mudei já fiz um monte de melhorias, até pintei algumas grades do terraço. Como minha mãe me ensinou, devemos cuidar de onde estamos, mesmo não sendo nosso. Não tinha quase nada de armários, então fui até a Ikea com meu irmão e comprei uma cômoda! Já montei muitos móveis na vida, e todas as vezes fico com vontade de chorar quando abro o pacote e vejo a quantidade de partes e parafusos. Eu sempre monto direito, mas algumas vezes sobram algumas peças.
Agora, o que vale ouro na região é ter onde estacionar! Vejo gente estacionar no alto da montanha onde moro para ir a pé para a praia! Estamos falando de uns 3 quilômetros, e o pior é ter que voltar para pegar o carro no fim do dia! Vai gostar de praia assim na Cochinchina… O mês de agosto aqui é um caos, por isso como tenho vaga garantida eu não me preocupo muito – principalmente após ter comprado um Fiat Cinquecento, bem pequenininho! O negócio é tão ruim, que param até em cima da grama na curva da estrada – e claro, são multados. Acho que nós brasileiros somos mal-acostumados, no máximo paramos a algumas quadras e andamos – só que temos flanelinhas. Aqui, se deixar suas coisas dentro do carro à vista, quando voltar estarão lá. Isso é uma das grandes vantagens de se morar na maior parte da Europa – há respeito com o bem alheio. Eu também raramente tranco o carro em São Paulo – tá bom, o carro é velho e a fechadura quebrou, se eu fechar, não abre mais!
Ah, esqueci – temos uma vantagem enorme no Brasil! Podemos comprar de tudo na praia, água de coco, sorvete, queijadinha…