A Baja Califórnia no México é um dos lugares mais interessantes que já fui. Tem de tudo, a parte sul – Cabo San Lucas, é bem turística e um dos destinos preferidos dos americanos, principalmente pela curta distância dos estados do sul dos EUA. Cabo – como gostam de dizer – é tipo Cozumel ou Cancún, uma cidade agitada cheia de hotéis, restaurantes e turistas. Exatamente do que eu não gosto. Mas o resto da península tem lugares isolados e desertos, mais ao meu estilo. Para me locomover mais fácil nas estradas de terra aluguei um jipe Wrangler, que poderia chegar em qualquer lugar (ou quase isso). Aliás, esse Wrangler é bem diferente dos jipes que já andei antes – tipo aqueles duros, com bancos de metal atrás e zero de conforto. Quando entrei no carro me espantei com o luxo, silencioso, ar condicionado e outros trique-traques de carros de topo de linha!
As paisagens do interior são fantásticas, contudo foi um dos lugares mais perigosos que já visitei. Logo na primeira estradinha de terra achei um local interessante e fui me embrenhar no meio dos cactos. Era óbvio que teria que tomar cuidado com eles, afinal não preciso ser um botânico para saber que os espinhos machucam, e quando secam no chão deixam armadilhas capazes de furar o solado dos calçados. Se fossem só os cactos, tudo bem…. mas tem algumas espécies de plantas que deixam os espinhos dos cactos parecendo esfoliante suave. Suas folhas produzem uma seiva urticante, que dói muito ao mais leve contato e depois causam bolhas. Como disse, não sou botânico e não fazia ideia que essas plantas eram assim – é que sem querer encostei a perna em uma dessas @!#$@%!
Haviam aranhas enormes, taturanas peludas (certamente urticantes) e mosquitos sedentos de sangue que aparentemente gostavam do sabor de repelente de insetos. Não incomodaram tanto quanto os escorpiões que saiam debaixo de quase toda pedra que eu virava para procurar por conchas. Pelo menos só encontrei poucas cobras cascavéis, essas sim poderiam estragar a viagem.
Mas a vista compensava qualquer desses inconvenientes. Me enfiei em estradas completamente desertas, com paisagens deslumbrantes – torcendo para não chover. Na Baja Califórnia a chuva cai tipo tempestade de verão, bilhões de litros em poucos quilômetros quadrados tudo de uma vez. As estradas de terra viram armadilhas com corredeiras e buracos capazes de engolir um carro. Mas tive sorte durante a viagem, não choveu quase nada. Contudo presenciei uma cena insólita: a cidade de La Paz não possui drenagem suficiente para escorrer a água da chuva toda para o mar, então algumas ruas em direção à praia viram rios. E nem precisa chover na cidade, basta chover forte nas montanhas próximas que as ruas ficam com quase meio metro de água, como presenciei – não havia uma nuvem no céu e tive que cruzar corredeiras para chegar ao meu hotel. Como todos estão a par disso, não tem problema – basta não estacionar seu carro nestas ruas. Ou arrumar um carro anfíbio com âncora.
O calor no meio do deserto era meio insuportável às vezes (dããã – é deserto, né?) e foi necessário levar muita água para se hidratar o tempo todo. Acho que bebia uns cinco litros por dia – fora as cervejinhas no final do dia, claro… e como eu adoro comida mexicana, estava em meu ambiente: aventuras durante o dia e boa comida com cerveja no fim do dia!
Eu realmente gostei do jipe! Um veículo prático e confortável para rodar em pisos esburacados, mesmo com crateras enormes. Ideal para usar em São Paulo.