Em depoimento ao Senado, ex-chefe de gabinete diz que demissões ocorreram porque os promotores não apoiavam prioridades do O secretário de Justiça dos Estados Unidos, Alberto Gonzales, e uma ex-conselheira jurídica do presidente George W. Bush aprovaram pessoalmente a demissão, em dezembro, de oito procuradores federais americanos. A informação foi confirmada por Kyle Sampson, ex-chefe de gabinete de Gonzales, durante depoimento ao Senado nesta quinta-feira, 29
A declaração do ex-alto funcionário do Departamento de Justiça contradiz afirmações públicas feitas pelo secretário em 13 de março, quando ele afirmou que não sabia das articulações entre a Casa Branca e membros do seu gabinete para a demissão dos procuradores.
“Eu não acho que as declarações do secretário de que ele não estaria ligado às demissões sejam precisas”, afirmou Sampson, que pediu demissão no início do mês, ao responder a perguntas dos senadores em uma sessão da Comissão de Justiça do Senado americano. “Eu me lembro de ter discutido a idéia de pedir a renúncia de alguns promotores com ele (Gonzales).”
Sampson acrescentou que o secretário de Justiça participou, em 27 de novembro de 2006, de um encontro no qual discutiu o assunto em detalhes.
O depoimento complica a situação de Gonzales, que desde o início do mês está na mira de democratas e alguns republicanos do Congresso. Vários documentos divulgados pelo Departamento de Justiça parecem desmentir suas declarações sobre seu papel na demissão dos procuradores.
As afirmações de Sampson também comprometem Bush, que nas últimas semanas defendeu com veemência a posição assumida pelo secretário. Nesta quinta-feira, um porta-voz da Casa Branca voltou a dizer que o presidente confiava no secretário.
Escândalo
Documentos divulgados pelo Departamento de Justiça – na maioria e-mails – evidenciaram discussões entre altos funcionários da Casa Branca e do Departamento para a demissão dos promotores. Embora o presidente tenha direito constitucional de contratar e demitir os procuradores, o caso gerou incomodo por haver suspeitas de que a decisão tenha sido motivada por razões política.
Segundo Sampson, as demissões ocorreram “porque (os promotores) não apoiavam suficientemente as prioridades de Bush”.
O ex-chefe de gabinete, que renunciou a seu cargo no início do mês por causa do escândalo, defendeu a atitude como “legítima” e contestou as alegações dos democratas de que as demissões – segundo eles “altamente impróprias” – representam um ato de intimidação para manter os outros promotores “na linha”.
Motivação política
Ainda assim, Sampson não descartou a possibilidade de que as demissões sejam classificadas como políticas. “A distinção entre razões ´políticas´ e ´relacionadas à performance´ são, do meu ponto de vista, artificiais”, disse ele.
“Alguns foram obrigados a renunciar porque não estavam apoiando as prioridades do presidente e do secretário de Justiça. De certa forma, isso pode ser descrito como uma decisão política”, acrescentou.
Sampson negou que os promotores tenham sido demitidos por interferência em investigações de atos de corrupção envolvendo integrantes do governo. “Até onde sei, nada desse tipo aconteceu”, prossegue ele.
Repercussão
Vários senadores e dois dos oito procuradores demitidos pelo Departamento de Justiça recorreram à televisão americana para tentar divulgar um escândalo que destrói a confiança pública na classe política e ameaça a permanência de Gonzales no cargo.
O escândalo traz à tona assuntos ligados à ética, uma possível obstrução de justiça e a independência do sistema jurídico dos EUA.
Tanto democratas como republicanos exigem respostas claras, ou pelo menos uma solução negociada, para determinar se houve motivações políticas por trás das demissões ocorridas em dezembro de 2006.