Meu irmão Marcello era muito amigo da Hebe Camargo, que foi inclusive sua madrinha de casamento. Ela o visitou em Miami diversas vezes, e em uma ela contou o que aconteceu em uma joalheria de lá. Ela foi com um motorista brasileiro até uma joalheria de um shopping e pegou algumas “coisinhas” que somavam uns milhares de dólares. O vendedor não fazia ideia de quem ela era, e quando ela deu o cartão de crédito ele disse “Terei que ligar para pegar autorização, tudo bem?” e ela “Tudo bem, mas você me conta o que eles responderem?”. O vendedor não entendeu nada, mas concordou. Ao voltar, deu um sorriso amarelo e ela “O que eles te disseram?” e ele “Que posso vender a loja toda para a senhora…”. Ela sempre estava bem vestida e maquiada, mas como o vendedor não a conhecia ficou com receio de tomar um chapéu no pagamento, que talvez pudesse ser um cartão roubado ou algo assim.
Por outro lado, nem sempre quem tem dinheiro aparenta ter. Uma conhecida de meu irmão José era cunhada do dono de uma loja que vende roupas “genéricas” aos montes para pessoas que revendem, vem gente do país todo comprar. São marcas famosas, como Bona Karam, Lacoce, Rollister, Guçi e por aí vai – as pessoas compram em quantidade, tanto que na entrada as atendentes distribuem sacos de lixo para que possam colocar as compras dentro. O dono era carroceiro – sim, daqueles que puxam carroça na rua juntando materiais recicláveis. Um dia comprou algumas peças de roupas e as revendeu a seus conhecidos, com o lucro comprou mais, vendeu e fez isso um monte de vezes até juntar dinheiro para alugar uma loja. Chamou seus irmãos para ajudar – no fim da primeira semana colocaram uma montanha de dinheiro em cima da mesa e se entreolharam – até acharam que poderia ser pecado ter tanto assim! Ele não confiava muito em bancos, então guardava boa parte do dinheiro em um buraco atrás de sua cama. Durante muitos anos ele morou em um apartamento bem simples, sem geladeira porque “gastava muita luz”.
Bom, sua cunhada adorava meu irmão–como ela era muito simples, pedia a opinião dele sobre o que era chique. Certa vez ele sugeriu que ela poderia comprar alguma joia bonita para se enfeitar – já que roupas ela usava as “de grife” de sua loja. E assim ela foi com ele até uma joalheria conhecida em São Paulo no Shopping Iguatemi – e foi de camiseta e Havaianas. De nada adiantava meu irmão falar para ela se arrumar melhor, ela dizia que se sentia confortável daquela forma. Ao entrar na joalheria, as vendedoras torceram o nariz e nem dirigiram o olhar em sua direção – tipo sorrindo sarcasticamente e dizendo “o que essa pedinte está fazendo aqui dentro?”. Todas, exceto uma que sacou na hora e foi atendê-la. Pois bem, essa vendedora provavelmente ganhou naquele dia a sua maior comissão! As outras ficaram chupando o dedo com cara de tacho.
De vez em quando ela nos pedia para trazer do exterior bolsas, perfumes, canetas, etc. A mesma coisa se passava conosco, já que entrávamos em lojas como Louis Vuitton de bermudas e camiseta. As vendedoras só nos atendiam melhor depois que entregávamos uma lista com os modelos que queríamos comprar e que somavam mais que seus salários. Admito que era engraçado ver aqueles narizes empinados murchando rapidinho!