As (muitas) diferenças culturais entre brasileiros e americanos são retratadas pelo jornalista Seth Kugel de forma bem-humorada no canal “Amigo Gringo”, criado pelo americano para mostrar suas observações sobre os brasileiros e o que eles costumam fazer quando viajam para os Estados Unidos. O canal – totalmente em português – ‘Amigo Gringo’ no Youtube já tem 432 mil inscritos e página com o mesmo nome no Facebook conta com 72 mil likes/seguidores. O canal foi criado em 2014.
O jeito de falar inglês dos brasileiros, as gafes cometidas quando visitam os Estados Unidos e vice-versa, algumas dicas de inglês e de como se comportar quando viajar para fora são alguns dos pontos abordados por Seth e seu time de colaboradores.
Os vídeos são postados todas às terças e sextas-feiras no Youtube e compartilhados nas redes sociais. No último post, por exemplo, o amigo gringo fala sobre a lei trabalhista na Terra do Tio Sam. “Os americanos não têm direito a férias? Rogério quer tirar folga do seu trabalho de modelo de ioga, mas claro que o chefe Eric não deixa. É que no Brasil, a lei trabalhista garante até 30 dias de férias. Na França, na Suécia, na Espanha também. Mas nos Estados Unidos? Zero dias!!”.
Em um post anterior, Seth fala sobre os brasileiros sempre colocaram o i no final de algumas palavras em inglês. “O sotaque brasileiro tende a colocar o som de “i” no final de algumas palavras, o que pode soar engraçado ou fofinho para os falantes de inglês”, dando como exemplo palavras como hot dog, red hot, king kong, entre outras.
Kugel já visitou mais de 40 países quando escrevia uma coluna sobre turismo no jornal “New York Times” e diz que seu destino preferido será sempre o Brasil, onde viveu. Os vídeos mais conhecidos são os que mostram nova-iorquinos reagindo a aspectos da cultura brasileira.
Confira a entrevista exclusiva que Seth concedeu ao AcheiUSA, respondida em português.
AcheiUSA – O canal ‘Amigo Gringo’ está comemorando três anos de sucesso. O que você mais aprendeu nesses dois anos, qual a preferência dos seus seguidores?
Acho que o que mais aprendi fazendo o canal é o conflito interno de muitos brasileiros: de um lado, criticam seu próprio País, mas do outro são muito sensíveis quando os outros falam dele. No canal falamos do Brasil e dos brasileiros de forma leve, mas com muito cuidado de não insultar – insultamos os americanos mais do que os brasileiros. Mas mesmo assim, é difícil não ofender. A boa notícia é que na maioria dos casos, o público do canal critica de forma construtiva, e ao final eu aprendo muito da comunicação que chega nos comentários. Quanto à preferência dos seguidores, os vídeos que mais bombam são os de reação gringa, onde os gringos reagem a vários aspetos da cultura brasileira. Mas o nosso público fiel é mais apaixonado pelas personagens do canal: o turista brasileiro sem noção, por exemplo – o Rogério. Ou o João do Litoral, que fala inglês traduzindo tudo ao pé da letra.
2 – Já sabemos que você é fã do Brasil e, além da farofa, o que mais o atrai na cultura brasileira? E nos brasileiros?
Eu gosto do ambiente em momentos sociais no Brasil, seja em evento de família, no bar com amigos, uma festa tipo Carnaval ou Réveillon ou até a confraternização com os colegas do trabalho. Os brasileiros sabem desfrutar desses momentos da vida melhor que os americanos.
Também gosto do fato de o Brasil ser um país tão enorme e diverso. Quando alguém começa a conhecer um país que não é o seu, abre um mundo inteiro. Mas 14 anos depois de começar a aprender português, tem muitos lugares, muita literatura, muita história, muita natureza, etc, que ainda preciso conhecer.
3 – Sabemos que os turistas brasileiros são muito criticados por não gostarem de dar o famoso tip para o garçom nos EUA. Na sua opinião, porque isso acontece?
Eu não acho que sejam só brasileiros. A cultura da gorjeta aqui é diferente e difícil de entender – é uma “doação” voluntária, mas não dar é considerado ofensivo. Acho que as nacionalidades que não entendem como funciona a gorjeta – e são muitos – não entendem que para os garçons, taxistas, etc, a gorjeta é grande parte do seu salário, eles contam com as gorjetas. Se fosse para dar uma opinião um pouco mais complexa, é comum ouvir que os brasileiros apoiam muito a estrutura familiar e os americanos a estrutura da sociedade civil. Aí o americano vê a gorjeta como parte do contrato social, é algo que se faz, e não fazer meio vergonhoso. Não dar gorjeta para um americano seria mais ou menos como não atender o seu celular quando sua mãe liga! Mais ou menos!!!
4 – No seu canal você fala sobre turismo em Nova York. Qual a principal dica você dá para os turistas brasileiros?
A dica principal é não prestar atenção a nenhuma lista de atrações “imperdíveis” em Nova York. Quantas pessoas que odeiam os museus vão para o “Met” porque está em muitas listas? Se gosta de parques, vai para os parques, de arte, vai para os museus, de compras, vai comprar, de comida, vai comer. O pior é um turista tão obcecado com ver os lugares mais “importantes” da cidade que corre tanto que não dá para desfrutar a cidade.
5 – A comunidade brasileira que vive no Sul da Flórida é formada, em sua maioria, por mineiros. Você também gosta dos mineiros, não é?
Acho que todos gostam dos mineiros. O que mais gosto de fazer no Brasil é viajar pelo interior de Minas, conhecendo as cidades e as cachoeiras e, claro, os restaurantes tradicionais. ADMITO que tem algo a ver com eu ser meio formiguinha e gostar dos doces…especialmente o doce de leite. Humm, vocês podem até pensar que não gosto dos mineiros, que gosto só da comida deles, mas não é verdade! Os mineiros são muito queridos.