Negócios

Agronegócio é alternativa à poupança no Brasil

Na busca pela diversificação, Fiagros, CRAs e LCAs crescem nas carteiras das pessoas físicas

Muitos investidores estão trocando cadernetas de poupança por títulos de agronegócios (Foto: Colheita de soja/Divulgação)
Muitos investidores estão trocando cadernetas de poupança por títulos de agronegócios (Foto: Colheita de soja/Divulgação)

DA REDAÇÃO – Com rentabilidade que corresponde a cerca da metade da inflação acumulada nos últimos 12 meses (11,73%), a poupança ainda é o investimento preferido dos brasileiros. Mas está perdendo adeptos. Somente nos primeiros três meses do ano, houve uma saída recorde de R $40,4 bilhões da caderneta. O movimento tende a se intensificar diante da continuidade da alta da taxa de juros, pressão inflacionária e maior educação financeira, com novos produtos de renda fixa provocando o crescimento da diversificação das carteiras.

“Um país com inflação e taxas de juros de dois dígitos torna outros tipos de ativos muito mais interessantes para quem tem um pouco mais de capital ou acesso a outros tipos de investimentos. Hoje em dia é muito fácil e rápido abrir conta em bancos e corretoras, o que pode ser determinante na hora de se investir. Aliando-se a isso, o acesso por smartphones às inúmeras notícias sobre investimentos também colabora para essa migração de recursos”, explica o CEO do App Renda Fixa, Francis Wagner.

Uma das alternativas buscadas pelas pessoas físicas têm sido as aplicações ligadas ao agronegócio, diante do crescimento do setor. Na contramão da poupança, os investimentos em LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), por exemplo, têm registrado forte crescimento. Em volume, o incremento superou a casa de 100% entre dezembro de 2020 e março de 2022, de R $106 bilhões para R$216 bilhões.

“Além do baixo risco, os papéis estão oferecendo retornos cada vez mais atrativos por estarem atrelados ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário) ou ao IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Como atrativo a mais, as LCAs oferecem ainda a isenção do pagamento de Imposto de Renda no caso de pessoas físicas”, lembra André Ito, sócio da MAV Capital, gestora de recursos independente e especializada em créditos estruturados e ativos ilíquidos.

Segundo Ito, o brasileiro está mais maduro na hora de escolher seus investimentos e a busca pela diversificação da carteira faz parte deste processo. Dados da B3 mostram que, em 2016, 21% das pessoas físicas possuíam mais de cinco ativos em carteira. Em 2021, esse número subiu para 37%. Esta tendência continua com mais força em 2022, diante da continuidade da alta da taxa básica de juros.

O analista do App Renda Fixa lembra que alternativas interessantes são as Letras de Crédito, que podem ser imobiliárias ou do agronegócio. “Tais títulos não possuem liquidez diária, pois têm um período de carência de, no mínimo, 90 dias. Findo esse período é possível ter liquidez diária, além disso, esses ativos também são protegidos pelo FGC”, ressalta. Em geral, as LCAs são de longo prazo, portanto, antes de aplicar é preciso verificar o vencimento e o percentual de alocação.

Com relação aos Fiagros (Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais), a maioria dos investidores que aportam neste tipo de investimento é de pessoas físicas (98%). Segundo a B3, o crescimento da demanda foi de 416% em apenas seis meses. E não é à toa: também isentos de IR, tais fundos oferecem a constância dos pagamentos e a pujança do agronegócio, que reduzem o risco do investidor.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou na quinta-feira (23) a revisão da projeção do valor adicionado (VA) do setor agropecuário de 2022, que passou de crescimento de 1,0% para estabilidade, ou seja, crescimento nulo no ano. A revisão foi motivada pela piora na projeção feita pelo Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), do IBGE, da produção de soja este ano, com uma queda de 12,1%, ante um recuo de 8,8% anteriormente divulgado. No caso do valor adicionado da produção vegetal, um dos componentes do setor, a revisão foi de alta de 0,3% para redução de 0,9%; e na produção animal, a estimativa era de crescimento de 2,9%, ante previsão de alta anterior de 3,0%.

A nova previsão do valor adicionado da produção vegetal pode ser explicada pela estimativa mais recente do LSPA (IBGE) de queda na produção de soja, principal produto do componente. Mas, conforme previsão anterior, a redução da produção de soja é parcialmente contrabalançada pelo bom desempenho esperado para outras culturas como milho e café, seguindo as contribuições positivas de segmentos da produção animal, como bovinos e suínos. O milho deve apresentar crescimento de 27,6% em sua produção e a segunda safra de milho, que começa a ser colhida neste trimestre, tem previsão de crescimento de 38,9%. Caso mantenha esse desempenho, o grão deve ser o principal responsável por compensar a queda no VA da soja. 

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