Jorge Moreira Nunes
Há quase um ano, em setembro de 2013, nos chegou a notícia, através das redes sociais, de que o Ministério das Relações Exteriores não só havia decidido criar um Conselho de Cidadãos para o estado da Flórida como também os membros do tal conselho já haviam sido escolhidos e empossados pelo cônsul do Brasil em Miami, Hélio Vitor Ramos Filho, e estavam prontos para o trabalho.
A notícia causou surpresa a todos nós da imprensa comunitária, porque ninguém jamais recebeu comunicado oficial algum informando sobre as intenções do Itamaraty, nem mesmo depois de formado o Conselho. O critério da escolha dos conselheiros não foi divulgado, mas as instruções do MRE eram de que o cônsul escolhesse pessoalmente os representantes, num total de treze. Como seria difícil para um diplomata, com relativamente pouco tempo de permanência na representação no exterior, fazer a exata avaliação de quem seria relevante para compor o Conselho, era de se esperar que ele precisasse de ajuda para a escolha, o que se confirma quando analisamos a composição do grupo, formado em boa parte por pessoas que, independente da sua qualificação ou não para a representação, são interligadas por projetos, atividades e interesses comuns. De um modo geral, o grupo acabou compondo uma imagem válida de representação, no final das contas.
Assim, de uma hora para outra a comunidade brasileira no estado da Flórida ganhou representantes junto ao Ministério das Relações Exteriores, cuja maior missão seria a de substituir o malfadado CRBE – ou Conselho dos Representantes dos Brasileiros no Exterior -, criado pelo governo Lula em 2008 e posto para escanteio depois que a presidente Dilma Rousseff tomou posse. O CRBE ainda teve uma reunião no final do ano passado, na Bahia, restrita a convidados, para onde foi o então representante oficial do recém-criado Conselho Comunitário, Silair Almeida, que antes já havia sido escolhido por votação popular como um dos representantes para a América do Norte no CRBE. Silair tem um significativo histórico de atuação comunitária.
O que seria mais importante nessa história toda era o papel do Conselho na sua missão propriamente dita, ou seja, de atuar como porta-voz da comunidade no que diz respeito às suas eventuais necessidades, que possam ser supridas pelo governo brasileiro através do Itamaraty. Várias dessas necessidades, como reinvidicações sobre o saque do FGTS no exterior, consolidação de contribuições para a previdência social, revalidação de diplomas universitários brasileiros no exterior e apoio a iniciativas culturais, já haviam sido extensivamente discutidas durante os três encontros do CRBE no Rio de Janeiro, promovidos anos antes pelo MRE.
Durante todo o ano que passou, entretanto, reinou no Conselho o mesmo silêncio que foi a tônica desde a sua criação e implantação. Não chegou à nossa redação nenhum comunicado oficial do Itamaraty específico sobre as atividades do Conselho de Cidadãos da Flórida. As informações que conseguíamos obter vinham de conversas informais com membros do grupo ou através de terceiros, informações que não poderiam tecnicamente configurar como oficiais sobre as atividades do Conselho. Pior ainda, na sua maioria elas davam conta de assuntos internos irrelevantes, como disputas políticas entre grupos pela hegemonia no Conselho ou inesperadas defecções e nomeações de lideranças, mas nada a respeito de alguma medida ou discussão objetiva que trouxesse algum benefício para a comunidade.
Assim, foi de bom grado que finalmente recebemos na semana passada um comunicado oficial sobre as atividades do Conselho de Cidadãos da Flórida, através da recém-nomeada responsável pela comunicação do grupo, Sandra Freier. Numa simpática nota, Freier oferece uma ponte entre nós da imprensa comunitária e o Conselho, num genuíno esforço de reverter a impressão de desprezo com relação ao nosso trabalho que o grupo deixou durante o ano que passou. Um ano depois de criado, pela primeira vez o Conselho entra em contato conosco explicando suas atividades, descrevendo sua composição e relatando seus objetivos. Na nota, Freier lista algumas conquistas objetivas do Conselho, como a permanência dos consulados itinerantes em Orlando e a campanha pela implantação de um novo posto de votação, também em Orlando. Um projeto de mapeamento da comunidade brasileira na Flórida, com o apoio financeiro do MRE (no valor simbólico de 600 reais), também é descrito no documento como uma das iniciativas do Conselho.
Vamos esperar que daqui em diante o Ministério das Relações Exteriores e o Conselho de Cidadãos da Flórida apaguem a impressão de desprezo pela mídia comunitária que eles deixaram nestes últimos doze meses. Vamos esperar que eles admitam a importância da imprensa em português nos Estados Unidos, e que a reconheçam como a melhor forma de conexão com as necessidades da comunidade e o melhor caminho para fazer chegar até ela o resultado dos esforços do Conselho e do MRE, no sentido de facilitar a vida da diáspora brasileira nos Estados Unidos e no mundo.
Se pudéssemos dar um conselho ao Conselho, diríamos que o foco da sua atuação tem de sair do meio das quatro paredes onde os membros se reúnem e discutem em vão suas atribulações internas e passar para a ação efetiva e o relato dos fatos que se relacionam mais diretamente com a sua razão de existir, que seja a de atender, junto ao governo brasileiro, às necessidades das mais de 200 mil pessoas que compõem a comunidade brasileira no estado da Flórida.