Brazilino, personagem criado há duas décadas por Phydias Barbosa, será agora veiculado regularmente em nossas páginas
O escritor e jornalista brasileiro Phydias Barbosa
DA REDAÇÃO – O escritor Phydias Barbosa vive em Miami desde 1981. Imigrante brasileiro nos Estados Unidos há mais de duas décadas, ele conhece como poucos as dores e delícias de viver em um país que não é sua terra natal. A experiência lhe dá as credenciais para brincar com isso e, inclusive, criar um personagem inspirados nos imigrantes, o Brazilino. Sucesso na imprensa comunitária brasileira, o alter ego nascido nos anos 1990 andou meio de fora dos holofotes, mas agora volta ao público em grande estilo. A partir dessa edição, Phydias passa a colaborar regularmente com o AcheiUSA, e assim o Brazilino está de casa nova. Na entrevista a seguir, o escritor conta como teve a ideia de criar o personagem e comenta o momento atual no mundo para a imigração.
AcheiUSA – Phydias, como surgiu o Brazilino?
Phydias Barbosa – Um dos anunciantes do “Brazilian Courier”, jornal que editei na década de 1990 aqui na Flórida, era o advogado de imigração Claudio Piereck. Para comentar alguns dos casos interessantes que ele conduzia no escritório da Michael Bender Associates, na Brickell Avenue, em Miami, Claudio me enviou alguns artigos onde trocava o nome de prováveis clientes e os chamava de “Brazilino” ou “Brazilina”. Mais tarde, resolvi continuar escrevendo artigos e blogs sobre “causos” brasileiros nos Estados Unidos, seguindo a trajetória extrovertida e humorística que pautou a linha do periódico “Brazilian Courier”.
No destque crônica publicada no jornal
Brazilian Courrier na década de 90
AU – Por que você ficou um tempo sem escrever crônicas com o personagem?
PB – Depois que fechamos o jornal na Flórida, em 1994, o personagem Brazilino continuou existindo, nas páginas do JornalORebate.com (RJ), no “Brazilian Times” (Boston) e no meu blog braziliancourier.blogspot.com (que serve mais como um arquivo online das histórias que escrevo). Para conteúdo sobre Brazilino nos anos 90 e meados dos 2000 era só parar algumas horas no Cafê Belô de Boston ou no Brazilian Tropicana de Pompano Beach que a inspiração logo aparecia.
AU – O mundo está ficando difícil para os imigrantes. É candidato que quer fechar o cerco a eles nos Estados Unidos, países na Europa criando medidas para desencorajá-los… O que o Brazilino diria a essas autoridades?
PB – Brazilino é pacífico, ele “pensa” em mandar todos à PQP, porém, como é minimalista – totalmente desprovido de excessos – muito materialista, azarento e/ou incompetente, ele espera (e reza para isso) que os responsáveis em impulsionar estes êxodos e diásporas, totalmente associados ao capitalismo desenfreado e à midia antropófoga, se liguem em alguns dos princípios do cristianismo, do budismo, espiritismo, umbandismo, ou do islamismo e sejam menos cruéis e mais caridosos. Que um dia possam se espelhar em Gandhi, Maomé, Madre Tereza de Calcutá, Cristo, Zumbi, Chico Xavier e Martin Luther King. Me senti péssimo como ser humano quando vi aquelas crianças, cujos pais refugiados sonhavam com uma vida nova na Europa, na travessia do Mediterrâneo. O sonho acabou no porão de um barco frágil que naufragou e as levou para o fundo do mar.
AU – Deixando um pouco de lado o Brazilino, o que fez com que você viesse para os Estados Unidos e aqui ficasse?
PB – Uma super-produção cinematográfica americana do Sandy Howard, grande produtor de Hollywood dos anos 60 aos 90 e tal, realizada no Brasil em 1980, intitulada “Savage Harvest” (e disponível no YouTube). Neste filme, fui o Diretor de Produção e Location Scout. Quando terminamos as filmagens, o produtor me convidou para ir à Califórnia conhecer de perto as produções e estúdios de Hollywood e fazer um estágio. Fui para Los Angeles para passar 3 meses, fiquei 9 anos, meus três filhos nasceram no país e este ano faz 34 anos que vivo aqui, entre 3 Estados que sempre me atraíram muito: Califa, Flórida e Massachusetts. E já sou avô de um “americaninho”, o Marcelo Little Barbosa, fez 2 anos dia 30 de agosto.
AU – Há uma nova onda de emigração do Brasil. Muitos se propõem a deixar o país devido à insatisfação com a política. O que você acha disso?
PB – Acho que muita gente está antecipando decisões antes mesmo de saber o que os espera no estrangeiro. Não me entenda errado. Todos devem viajar e conhecer outros países: Estados Unidos, Canadá, Europa, Austrália. Porém, insatisfação política vai da posição de cada um. Seja a favor ou contra o governo, todos sempre fomos “insatisfeitos” com o andar da carruagem e da corrupção em nosso país. Porém, antes de sair é preciso saber se o emigrante tem bala na agulha suficiente para encarar libras, euros e dólares. E o pior, o estigma da ilegalidade, que, com tanta gente se acotovelando em Miami e Londres, diminui consideravelmente a oferta de trabalho e mão de obra nessas cidades e regiões. Se para quem já vive aqui (cidadão, residente ou indocumentado) a barra está pesada, imagine para quem chega e tem que disputar mercado. Fiquei triste ao ler recentemente numa página de “brasileiros” aqui do Estado da Flórida no Facebook, onde uma mãe, recém chegada com o marido e filha, não tinha grana pra comprar fralda para a criança. E precisavam da ajuda de alguém para conseguir um teto para dormir alguns dias até que o marido pudesse descolar um trabalho na pintura. A propaganda errônea que fazem de Miami no Brasil faz muita gente virar Brazilino com incompetência para tomar uma decisão que os pudesse fazer melhorar de vida. E nada contra os que têm $500 mil ou mais para investir e conseguir a residência. Porém, terão que encarar impostos e controvérsias ao longo de sua existência no país. Muitos vão trocar seis por meia dúzia, mas de novo, vale tudo para escapar da violência e do desserviço político no Brasil.