Após o anuncio discreto de que a espalhafatosa operação Lava Jato está em processo de desmonte, o pomposo juiz, em torno do qual a espetaculosa empreitada midiática ganhou renome, dá o seu canto de cisne ao anunciar a tão aguardada sentença ao maior “criminoso” de todos os tempos. Como numa batalha aonde o exército se retira declarando vitória sem realmente ter vencido nada, a operação da Policia Federal que consumiu milhões do contribuinte com a única e óbvia intenção de desmitificar e enquadrar a maior liderança que o pais ja produziu, se conclui com a condenação anunciada de Lula por um crime que ele não cometeu.
Não vale nem a pena comentar os méritos da decisão de Moro porque os veículos de comunicação que dão sustentação ao golpe que o Brasil vive ainda estão trabalhando ferozmente para encontrar uma linha sequer, no texto da conclusão do juiz que possa ser bombasticamente noticiada sem parecer muito ridículo. O Jornal Nacional de quarta-feira (12) dedicou uma edição inteira para tentar esclarecer e dar ares de legitimidade ao fato mas só despertou gargalhadas até em quem detesta o ex-presidente.
Que Lula seria condenado ja era esperado mas a expectativa era de que aparecessem provas irrefutáveis ou que Moro viesse com alguma carta na manga. Em suma, na falta de alguma mala de dinheiro, gravação de áudio suspeita, dinheiro no exterior, recibos de transações financeiras ou o que seja, o Ministério Público conclui que o triplequizinho é dele, apesar de não ser. O texto merece um estudo científico nas escolas de direito para servir como exemplo de ridicularidade. Parece mais a prova final de um aluno relapso, tido como brilhante mas que no fundo é um embromador. Resta agora o conselho de classe, a segunda instância do TRF, aprovar ou não o aluno. Se a turma da segunda instância aprovar, então devermos atirar pela janela séculos e séculos de conhecimento jurídico que já não servem pra nada.
O precedente que se abre é muito perigoso. Constatar um crime sem materialidade de provas, baseando-se apenas no que fulano e sicrano disseram é tão criminoso quanto e até um dos dez mandamentos condena. Qualquer um que assista aos seriados policiais na tv sabe que para se condenar alguém é preciso haver prova material e pelo menos um cadáver. Na falta de um ou de outro, o elemento é inocente ate que se prove o contrário. Não no Brasil. Criminosos confessos como Temer, Aécio, Maluf, Collor e outros, com rastros e provas monumentais de suas mazelas não pagam nem multa de trânsito enquanto outros precisam de punição nem que seja pelo grito. Juristas do mundo todo devem considerar o Brasil um circo e a máxima atribuída ao finado general De Gaulle passa a ter um valor sinistro, sim o Brasil não e um pais sério.
Na verdade, na verdade mesmo, o que está em jogo não é a inviabilização do futuro político de Lula mas garantir que seu retorno não atrapalhe interesses econômicos internacionais que estão ao ponto de transformar o pais numa nação de escravos. O que os veículos de comunicação não noticiam é que desde a instauração do golpe politico o pais vem gradativamente sofrendo o desmonte de mecanismos e ferramentas que poderiam garantir prosperidade no futuro. Logo na primeira semana de mandato o mordomo de vampiro entregou o pré-sal às companhias de petróleo estrangeiras, a seguir cortou os incentivos e subsídios dados à cultura e educação, acabou com investimentos na área científica, aparelhou todos os escalões com seus apadrinhados e agora trabalha ferozmente para aprovar leis trabalhistas e previdenciárias que so agradam às multinacionais mais intensamente do que em salvar o próprio mandato.
O futuro do triplex é incerto mas daqui a pouco tempo sera esquecido, assim como a monumentosa Lava Jato, cujo único saldo positivo foi expor um sistema corrupto e mandar pra cadeia alguns bois de piranha. Apesar de alardearem a recuperação de bilhões de dólares, provenientes de propinas, os valores só aparecem no papel. Moro e sua equipe devem se candidatar a cargos públicos ou abrir uma igreja. Quanto a Lula, este pode até ser preso mas, caso seja, irão juntas nossas expectativas de uma sociedade mais justa, até de quem pensa o contrário.