Universal do Reino de Deus: a igreja polêmica
Por Vanuza Ramos
Desde o início da década de 90, quando incomodou o cenário evangélico brasileiro, a Igreja Universal do Reino de Deus conta com mais seguidores do que inimigos; criou um enorme séquito e estabeleceu novas diretrizes para o movimento cristão no Brasil, que deixou a timidez de lado, ganhou as ruas e veículos de comunicação. Cultos de exorcismo passaram a ser exibidos por TV aberta e igrejas de várias denominações proliferaram pelos bairros e cidades do Brasil, até ameaçando a primazia da Igreja Católica no país. Não por acaso, o censo de 2000 registrou um aumento da porcentagem dos evangélicos entre a população. O número pulou de 9,05% (1991) para 15,45% (2000) – ou seja, de cerca de 13 milhões para 26 milhões de pessoas.
À frente desse crescimento, absoluta, estava a Universal do Reino de Deus, liderada pelo controverso bispo Edir Macedo. Dessa fatia de 26 milhões de fiéis, pelo menos oito milhões são seguidores de Macedo, acusado de mercantilizar a fé brasileira e, com pressa, criou tentáculos pelo mundo, inclusive pelos Estados Unidos.
O crescimento avassalador entre os brasileiros não aconteceu na terra do Tio Sam, como muitos acreditavam. Das igrejas que a Universal possui no país, menos da metade são voltadas para brasileiros. Na Flórida, por exemplo, há 11 igrejas e apenas um em língua portuguesa – em todo país são mais de 100 templos.
Com sua mensagem aos sofridos, “promovendo curas e libertando almas”, a igreja tem participação tímida em língua portuguesa, mas mantém seu rebanho cativo. O templo de Pompano Beach abriga pouco mais de 100 membros efetivos. São em sua maioria pessoas que buscam na religião apoio psicológico para enfrentar a vida nos EUA. “A nossa mensagem é de que tem um Deus que pode mudar a vida das pessoas”, destaca o jovem pastor Daniel dos Santos, que há poucas semanas está no comando do templo de Pompano.
Na igreja alugada, eles realizam cultos em quatro dias da semana. Aos domingos se reúnem em Encontro com Deus.
Às segundas-feiras, realizam a Reunião da Prosperidade, quando oram pelas causas e necessidades financeiras. “Porque Deus quer que aqui se tenha vida em abundância”, destaca Daniel.
Às quartas, acontece a reunião da Armadura de Deus, e às sextas, a de Libertação e Limpeza Espiritual. Essa é uma das mais polêmicas no meio evangélico e secular. Tratam-se das sessões de exorcismo, carro-chefe da igreja, e que muitas vezes incitou comparações com os cultos espíritas, o que o pastor rebate veementemente. “Não somos como os espíritas; não queremos criticar ninguém, mas o problema dos espíritas é que eles colocam os caboclos como santos e entidades do bem, quando na verdade não são”, afirma.
Libertação e cura – Os cultos de libertação são também de cura, outro fator criticado na igreja. Daniel é taxativo quando questionado sobre o tema: “Nossa prova são os testemunhos. Muitas vidas são reconstruídas na igreja; nosso forte são os depoimentos de pessoas que foram libertas”, afirma o líder, ele mesmo exemplo de cura. “Eu padecia de epilepsia e me curei. E muitas outras pessoas também foram e são curadas. Na Universal o milagre é natural; pessoas que foram desenganadas, que tinham câncer, foram curadas”, diz.
As histórias de conversões não param por aí. Traficantes, assassinos e pessoas com outras formas de desvios de personalidade e comportamento foram libertas pela igreja, que tem atuação direta dentro de presídios.
Outros milagres também são registrados em relação à situação imigratória, segundo o pastor Daniel, que diz já ter presenciado casos de pessoas sem a mínima chance de legalização que, com oração e fé, mudou essa situação.
Árvore que dá fruto – O pastor responde com calma quando o assunto são as críticas em relação ao suposto “mercantilismo da fé” desenvolvido por Macedo. “Só fazemos nosso trabalho de salvar almas e trabalhamos pela fé. Mas a fé não paga aluguel, não paga luz. Temos, na igreja, despesas como em qualquer casa”, justifica pastor Daniel, acrescentando que parte das críticas dirigidas ao seu líder são “perseguição”. “Ninguém joga pedra em árvore que não dá fruto; até Jesus foi perseguido, por que não seríamos nós?”, destaca.
A igreja é dirigida pelo Espírito Santo, segundo enfatiza o pastor. “Mas temos um líder e entendemos que esse líder é um enviado do senhor”, afirma.
Pastores sem formação – Apesar de desenvolver trabalhos similares aos de outras igrejas evangélicas, a Universal também se difere pela maneira com que escolhe e nomeia seus líderes, que não precisam ter formação teológica, o que causa crítica por parte de outras religiões. “A nomeação depende da forma como a pessoa se entrega para a obra de Deus”, explica o pastor Daniel. O primeiro passo é ser obreiro, depois a pessoa pode se tornar auxiliar de pastor e só depois, dependendo do desempenho, pode assumir o pastorado.
Outra das diferenças está na posição em relação aos vínculos empregatícios dos pastores, que não ficam tempo suficiente na mesma congregação para não criar confusão de identidade com a igreja. “É para evitar que os membros se apeguem ao pastor mais do que à igreja”, explica Daniel.
Em relação à sua funcionalidade, a igreja se diferencia por ter sua administração centralizada no Brasil. Ou seja, todo dízimo recolhido é administrado pela igreja central, no Brasil, e redistribuído para o resto do mundo. Os cultos realizados são sobre os mesmos temas, e acontecem nos mesmos dias, em qualquer parte do mundo. E quando há campanhas religiosas elas também são realizadas simultaneamente nos 90 países onde a igreja mantém templos. É o caso da Campanha de Israel, que dura seis meses. São meses colocados em um envelope, juntamente com uma contribuição financeira. Os envelopes são todos encaminhados para a administração central, que leva os pedidos até à terra santa, Israel, uma vez por ano. Acredita-se que cada pedido enviado é atendido.
Milagrosa ou não, virtuosa ou viciosa, amada ou odiada, fato é que a Igreja Universal segue seu caminho, incólume, realizando curas e mudando vidas em várias línguas. Nos EUA até dispõe do reforço da TV Record, de propriedade de Edir Macedo, ainda que usada com moderação fora do Brasil, e mantém mais de 100 templos, onde abriga milhares de fiéis.
Gostem seus concorrentes ou não, a igreja continua fincando raiz e ganhando almas que, ignorando todas as críticas contra seus líderes – inclusive a recente prisão de um pastor com 10 milhões de reais supostamente provenientes de dízimo, fato ocorrido há seis meses no Brasil – e acusações de lavagem de dinheiro, seguem pagando para ver a fé remover montanhas.
Como surgiu a Igreja Universal no Brasil e no mundo
A Igreja Universal surgiu em 1977, quando Edir Macedo, pregando em uma praça do Rio de Janeiro, realizou seus primeiros cultos. “Orientado pelo Espírito Santo e revestido de uma fé inabalável”, como gosta de dizer, logo arregimentou fiéis que lhe permitiram alugar um galpão e assim surgiu a igreja. Já em 1980 instalou a primeira IURD- Igreja Universal do Reino de Deus no exterior, em Mount Vermont, no estado de Nova Iorque. A “Universal Church”, como é chamada, foi só o primeiro passo. Pouco depois, outros bairros nova-iorquinos, como Manhattan e Brooklin, viram o poder da Universal, que também conseguiu conquistar outras cidades e estados norte-americanos.
Em seguida, a igreja conquistou outros países nos continentes sul-americano, europeu, asiático e africano. Nesse último, cresceu vorazmente e já conta com mais de 300 igrejas.
Após 28 anos de existência, a IURD está presente em mais de 90 países.
No Brasil, se popularizou nos anos 90 por realizar cultos em estádios de futebol, para públicos superiores a 200 mil pessoas. Atualmente conta com mais de oito milhões de fiéis no Brasil e outros milhões pelo mundo afora.