Histórico

Brasileiro mente em formulário para requerer o visto de turista e acaba preso

Advogado fala sobre os perigos de mentir quando o assunto é imigração

Ana Paulo Franco

João* morou ilegalmente em Boston de 1995 a 2007, fez high school, trabalhou, aprendeu inglês e desde então vivia tranquilamente com a esposa Cristina* e o filho do casal de dois anos em Belo Horizonte (MG). No início de 2015, João decidiu voltar para a América com a família. Ele preencheu para os três o formulário DS160, que é obrigatório para requisição do visto, e omitiu uma informação importante: ele disse que nunca morou nos Estados Unidos e que tinha apenas visitado o país. A mulher e o filho de João nunca vieram para os EUA e a ideia era que João viesse para a Flórida um mês antes dos dois.

O casal foi até a repartição consular no Rio de Janeiro para tirar os vistos de turista. Enfrentaram a fila, fizeram a entrevista – ele não mencionou que havia morado nos EUA na entrevista – esperaram 50 minutos para que o agente consular desse a resposta. A resposta foi positiva, visto aprovado.

Com o visto de turista nas mãos, João comprou passagem e viajou para Miami em abril passado. Chegando ao aeroporto, depois de passar pelo guichê da imigração, ele foi mandado para a famosa e temida “salinha”. “Ele estava tranquilo com o visto e pensou que passaria pela imigração. Qual não foi sua surpresa, os agentes viram no sistema que ele havia morado ilegalmente no país e disseram que ele estava preso por fraudar o visto, por ter mentido no formulário de preenchimento do visto”, disse a esposa de João que ficou apavorada com a situação.

“Ele ficou um mês preso em Miami, participou de três audiências na Corte e foi deportado. Fiquei desesperada, sem notícias e com medo de ele não voltar tão cedo. Estou dando o meu depoimento para que outras pessoas não mintam no formulário do visto, não vale a pena”, disse Cristina. Ela, que nunca esteve nos EUA, quer vir com o filho para passear futuramente, já que o marido tem uma penalidade de dez anos para cumprir.

O advogado de imigração Ludo Gardini disse ao AcheiUSA que tem diversos clientes que sofrem as consequências por terem mentido para a imigração, seja em formulários de vistos, seja no consulado ou seja no preenchimento de documentos nos EUA. “Nunca minta para a imigração. Hoje, com toda a tecnologia e cruzamento de dados que eles têm disponíveis, é quase impossível mentir para eles. Mesmo que o consulado não detecte a mentira no Brasil, a coisa pode entortar aqui dentro”, disse o advogado.

Ele conta que tem um cliente que está preso por ter mentido, foi descoberto, está preso e vai perder o green card. “Eles estão dificultando cada vez mais a legalização das pessoas. Colocando diversos empecilhos e buscando qualquer tipo de rastro que porventura a pessoas possam ter deixado. Eles estão também trocando informações com a Polícia Federal brasileira. Ou seja, não minta. Aja dentro da lei que tudo dará certo”, finaliza Gardini.

*os nomes na reportagem foram trocados a pedido dos entrevistados.

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