DA REDAÇÃO – O democrata Roberto Alves, 37, filho de uma brasileira com um português, lançou este mês a sua pré-candidatura para prefeito da cidade de Danbury, Connecticut. Alves, que está no seu primeiro mandato como vereador, espera assumir o lugar que por cerca de 20 anos foi ocupado pelo republicano Mark Boughton.
Boughton renunciou ao cargo no dia 18 de dezembro de 2020, após aceitar o convite do governador do estado Ned Lamont para o posto de Comissário do Departamento de Receita do estado. Boughton ganhou fama pela linha dura contra os imigrantes da cidade, em especial os indocumentados.
Danbury nunca foi administrada por um imigrante a despeito do fato da cidade ter cerca de 30% da população constituída por pessoas que nasceram fora do país. Alves espera mudar isso no próximo pleito, que acontece em outubro desde ano.
Apesar de ter nascido em Portugal, Alves relata que sua origem tem mais ligações com o Brasil. “O meu pai nasceu em Portugal, mas foi criado no Rio de Janeiro, onde conheceu a minha mãe, que era filha de portugueses”, diz ele com um sotaque levemente carioca.
Os pais resolveram ir para Portugal logo após se casarem, onde Alves e a irmã nasceram. Em seguida, a família decidiu regressar para o Brasil onde permaneceram até que Alves completasse cinco anos. “Aos cinco anos eu vim morar em Danbury. Assim como todo imigrante, meus pais trabalharam duro para nos criar fazendo todo serviço que normalmente os imigrantes fazem quando chegam aqui”, explica.
Aos 37 anos, Alves trabalha como engenheiro de vendas e despacha à noite na prefeitura, trabalho este que não é remunerado. O vereador é casado e tem duas filhas.
Despertar para a política
Para Alves e a esposa, Danbury oferece uma rica diversificação cultural, o que para ele é importante na formação da personalidade das filhas. Porém, ele vê as escolas públicas ainda deficientes. A solução não era mudar de cidade, mas mudar a cidade. “Nós decidimos que não sairíamos de Danbury, mas para isso teríamos que entrar na política para mudar as coisas que os atuais políticos estavam falhando”, afirma Alves que ainda critica o fato da cidade ter uma população grande de imigrantes brasileiros, mas nenhum dos 21 vereadores fala português.
Alves se candidatou a vereador pela primeira vez em 2017, mas não conseguiu se eleger. Ele concorreu novamente em 2019, com mais experiência e uma equipe melhor estruturada. “Eu acredito que o fato de eu ser um imigrante, uma pessoa criada na cidade e que sempre trabalhou junto à comunidade em trabalhos voluntários, fez a diferença para a minha eleição”, explica, acrescentando que ele concorreu com outros seis candidatos democratas sendo o mais votado.
Motivações
O vereador vê na melhoria das escolas uma das grandes motivações para ser prefeito de Danbury. Alves diz que há muito o que melhorar. “Os republicanos sempre culparam o governo estadual por não transferir recursos suficientes para as escolas, mas isso não é verdade. É a prefeitura que não está investindo”, denuncia ele dizendo também que se as escolas melhorarem, o valor das propriedades aumentará e as crianças terão melhores empregos no futuro. “Eu quero investir nas crianças”.
O ex-prefeito Mark Boughton ganhou fama nos seus dez mandatos consecutivos como um prefeito anti-imigrante. Ao longo dos anos, Boughton fez parceria com o ICE, a polícia da Imigração, apoiou batidas contra trabalhadores diários e leis municipais que visavam dificultar a vida dos imigrantes. Alves diz que a cidade precisa de uma pessoa como ele, que também é imigrante e que, mais do que outros, entende exatamente a importância no desenvolvimento da cidade.
Além da educação, Alves diz que estão entre as prioridades a infraestrutura da cidade e os altos custos de moradia, especialmente para os imigrantes. “Um levantamento da United Way realizado em 2018 mostrou que metade dos residentes da cidade não ganham o suficiente para morar na cidade confortavelmente, sendo aluguéis, custo de creche, alimentação e escassez de transporte público o que mais pesa. Nós precisamos mudar isso”, diz.
O partido democrata de Danbury fará sua convenção em julho para escolher quem será o indicado. “Eu sei que se a convenção fosse amanhã, eu seria o indicado, mas isso somente irá acontecer no meio do ano.”, acredita ele.