Neusa Martinez
Caro leitor, na carreira diplomática existe hierarquia e, mesmo que não façamos parte desse mundo, é de bom-tom chamarmos a pessoa pelo título adequado. Principalmente nós, brasileiros, que moramos no exterior, pela facilidade com que encontramos estes profissionais nos consulados, nas embaixadas ou em eventos sociais.
Quando o diplomata chega à categoria mais alta, ou seja, ministro de Primeira Classe, devemos chamá-lo de embaixador e sua esposa de embaixatriz, mesmo que ela não faça parte do corpo diplomático. No caso da mulher ocupar o cargo máximo, é chamada de embaixadora e o seu marido de “marido da embaixadora”!
Com relação ao cônsul, chamamos de consulesa tanto sua esposa como a diplomata que exerce esse cargo. Porém, esta não é uma regra rígida, fazendo com que alguns tratem de cônsul a mulher que detém este cargo. Há quem se recuse e ache inadmissível tratar alguém de “a cônsul”. O mais incrível é que o marido dela também é apontado como “marido da cônsul ou da consulesa”. É isso mesmo, não existe nenhum título nobre para esses maridos.
Uma vez que o diplomata é promovido a embaixador passará a ter este título, mesmo que depois chefie algum consulado. A família do diplomata, geralmente, o acompanha nos países em que vai trabalhar, sendo que, dependendo da função, dificilmente permanecerá mais de cinco anos no mesmo lugar. Festas de gala, cerimoniais, recepções para chefes de estado e eventos dos mais variados tipos são freqüentes na vida dessas pessoas. Mesmo assim, algumas embaixatrizes e consulesas têm suas próprias profissões e conseguem exercê-las mundo afora.
Este é o caso da artista plástica paranaense Bia Wouk, casada com o embaixador João Almino, atual cônsul-geral de Miami. Eles se conheceram em Paris, quando ela fazia um curso no Louvre e ele estava no início da carreira diplomática. Casaram-se e tiveram duas filhas: Letícia, nascida em Brasília, e Elisa, nascida em Washington. Durante estes 25 anos de casada, Bia tem conseguido conciliar os papéis de mulher de diplomata, mãe e artista bem sucedida. Além de Paris, o casal já morou em Beirute, México, Brasília (duas vezes), Washington, San Francisco, Lisboa, Londres e, agora, Miami. Em todos estes lugares, com exceção de Beirute, Bia Wouk expôs seus trabalhos em galerias e museus renomados. Seus desenhos e telas também ganharam exposições individuais e coletivas nos Museus de Arte Moderna de Curitiba, sua cidade natal, de São Paulo e do Rio de Janeiro, MASP, Bienal Internacional de São Paulo, Gallery of the Trade Bureau, em Nova York etc.
Na semana passada, o designer Mauricio Ferrazza e eu estivemos na casa de Bia, onde conversamos por duas horas ou mais. Foi agradabilíssimo e nem sentimos o tempo passar! Ela não só abriu as portas de sua casa, onde fica seu ateliê, como também de seu coração. A embaixatriz nos contou como conheceu seu marido, como criou suas filhas em diferentes países, como foi viver em Beirute em plena guerra e falou o que acha culturalmente de Miami e da comunidade brasileira que encontrou aqui. Bia não escondeu sua grande paixão – as artes plásticas – e nos confidenciou que está trabalhando duro para sua próxima exposição, na Solange Rabello Art Gallery, no Miami Design District, em novembro deste ano.
Contudo, querido leitor, estou com um grande problema: como devemos chamar uma embaixatriz que também é artista? Excelentíssima embaixatriz Bia Wouk ou simplesmente Bia? Após ler a entrevista com a “nossa Bia”, diga-me se você também não ficou em dúvida…
AcheiUSA – Quantas horas dedica à pintura diariamente?
Bia Wouk – Em média, cinco horas por dia. É preciso ter disciplina, porque o trabalho de arte não é só inspiração. Geralmente de manhã trabalho em pintura e de tarde em desenho, quando carrego a prancheta para qualquer lugar e vou rabiscando. Não uso computador, é tudo feito à mão.
AcheiUSA – O que você está preparando para a exposição na galeria da Solange Rabello?
Bia – Está marcada para o dia 10 de novembro e tudo o que estou fazendo agora é só para esta exposição. Para ficar uma coisa homogênea, faço uma série de trabalhos em torno de algumas idéias. Em geral, levo um ano preparando cada exposição. Para o novo espaço da Solange Rabello, como não dá para sobrecarregar com obras grandes, vou fazer um equilíbrio entre as telas que têm 1,40 por 1,60 metro, com desenhos menores. No total, serão uns 20 desenhos e mais umas quatro telas.
AcheiUSA – Você tem algum ritual ou usa uma roupa própria para pintar?
Bia – Sempre escuto jazz e escolho uma trilha sonora para cada quadro. Tem de ter, para não ficar só ouvindo o barulho do lápis. No momento em que ligo a música, já entro no universo daquele trabalho. Tem uma frase do Leonardo da Vinci que diz: “Pintura é uma coisa mental”. Comigo, não cai uma gota de tinta no chão. Como trabalhei muitos anos como desenhista, sempre digo que faço pintura de desenhista. É um trabalho com linhas, que não dá para fazer sujeira. É uma mistura de lápis com óleo e a maneira de trabalhar o óleo é quase como se fosse uma aquarela. Sou extremamente obsessiva, as tintas e lápis estão classificados por cor e marca.
AcheiUSA – Como você começou na pintura?
Bia – Todas as memórias que tenho dos meus tempos de criança, estou no quarto de brinquedo desenhando. Mais desenhava do que brincava. Já a data da minha primeira exposição individual foi em 1973, na Bienal Internacional de São Paulo. Em 1975, fui fazer pós-graduação em Paris. Foi uma combinação interessante, porque estudei na Escola de Belas Artes, onde tinha aulas de desenho e gravura, e aulas teóricas de história da arte no Louvre. Essa é uma escola que fica dentro do Louvre, em uma das alas do museu.
AcheiUSA – Quando construíram a pirâmide na frente do Louvre teve muita polêmica. Você acompanhou isso?
Bia – Nessa época eu não estava mais morando em Paris. Mas estava em Paris quando o Centro Pompidou foi inaugurado e houve grande polêmica. Como é um edifício extremamente moderno e tinha sido construído em um dos bairros mais antigos de Paris, o Marais, as pessoas protestaram, diziam que aquilo era um horror, que não tinha nada a ver com a arquitetura. Mas o Pompidou foi integrado totalmente à paisagem da cidade e hoje é um dos museus mais freqüentados de Paris.
AcheiUSA – Você aproveita em seu trabalho a paisagem das cidades que já morou?
Bia – Expus em Paris uma série que chamei de vitrines, com desenhos em torno dos lugares por onde caminhava na capital francesa. Na parede de minha casa ainda tenho um quadro, em que desenhei uma livraria com todos os detalhes da faixada e, em baixo, desenhei alguns lápis com os nomes dos escritores, cujo livros havia comprado naquela livraria. Era uma série grande, da minha memória de Paris.
AcheiUSA – Quais foram as séries em que você retratou Nova York e Brasília?
Bia – Foram duas séries autobiográficas, em que estou caminhando por Nova York durante o dia e por Brasília à noite. Parti da fotografia para compor estes trabalhos. Inclusive as fotos foi o João quem fez, ele é fotógrafo também. Trabalhei nessa série nos anos 80 e depois parei de fazer desenho e comecei a trabalhar com óleo sobre tela. A partir desse momento, o trabalho não é mais figurativo, mas tem a ver com as várias formas de escrita. As letras se repetem, tem rabiscos e uma escrita inventada, que se organiza como um texto. Como os meus pais eram lingüistas, todo o meu trabalho como artista sempre teve a ver com alguma forma de escrita.
AcheiUSA – Quais são os seus pintores preferidos?
Bia – Gosto muito do Mark Rothko, um americano da Escola de Nova York; do Jackson Pollock; da Agnes Martin, uma canadense que morreu recentemente com 90 anos; gosto muito do Cy Twombly, que trabalha também com escrita rabiscada, parecida com a minha, e do Robert Ryman. Dos brasileiros, Tarcila do Amaral é minha favorita, Mira Schendel, suíça naturalizada brasileira, Hélio Oiticica, Lygia Clark, enfim, adoro todos os construtivistas dos anos 60.
AcheiUSA – A nossa arte tem sido reconhecida no exterior?
Bia – Hoje em dia, a arte brasileira tem muito mais circulação. Isso, em parte, graças não só às galerias brasileiras mas também às galerias e museus americanos e europeus que passaram a se interessar por arte brasileira. Eles descobriram que a arte brasileira dos anos 60 era tão ou mais interessante do que a feita nos Estados Unidos na mesma época. Os artistas que têm circulação hoje em dia são Ernesto Neto, que mora em Nova York, ou Vik Muniz que está em todas as coleções dos Museus de Arte Moderna de Nova York, Chicago, San Francisco e Los Angeles. O Tunga, com certeza, é outro artista que tem muita circulação nas grandes exposições, como, por exemplo, a Bienal de Veneza.
AcheiUSA – Como você e João Almino se conheceram?
Bia – Foi em Paris. Eu estava fazendo o curso no Louvre e ele estava exercendo o primeiro posto como diplomata. O nosso primeiro encontro foi bem interessante. Quando fomos apresentados, por uma amiga que tínhamos em comum, ela disse assim: “Bia, você vai gostar de conhecer o João Almino porque ele também sai por Paris fotografando.” Achei que fosse fotógrafo! Primeiro conheci o trabalho dele com fotografia e só depois soube que era diplomata.
AcheiUSA – Como você lida com esta coisa de sempre ter de mudar de residência?
Bia – É uma coisa complicada. Sempre digo que o corpo chega, mas a cabeça não. A minha leva um ano para chegar.
AcheiUSA – Quando vocês mudam de país, a casa que o Itamaraty oferece já vem mobiliada?
Bia – Tudo o que você vê aqui é nosso. Somos que nem caracol, carregamos nossa casa nas costas (risos). Todo diplomata brasileiro faz isso, já os americanos devem ser diferentes. Minhas filhas passaram praticamente toda a vida fora do Brasil e as memórias, no fundo, são as nossas coisas que estão dentro de casa. Então, se morássemos numa casa que já fosse mobiliada, seria muito impessoal. Nunca pensei que fosse viver essa vida errante. Desses 25 anos que estou casada com o João, isso sem contar os três anos que morei sozinha em Paris, lá se vão 28 anos, se não levasse minhas coisas seria muito difícil me adaptar.
AcheiUSA – É verdade que muitos filhos de diplomatas têm sérios problemas psicológicos?
Bia – Existe sim. Sei de vários casos de crianças que têm dificuldade de adaptação e, por sorte, este não é o caso das minhas filhas. Elas sempre conseguiram absorver o que o lugar podia dar de bom. Se bem que elas nunca moraram em país complicado. Elas já moraram em Washington, San Francisco, Lisboa, Londres e, antes de vir a Miami, passamos três anos em Brasília. Por outro lado, não é uma vida para todo mundo, há personalidades que se adaptam e outras não.
AcheiUSA – Que língua vocês falam em casa?
Bia – Nós quatro falamos português, inglês, francês e espanhol. Em casa, sempre falamos português, mas entre elas, Letícia e Elisa falam inglês. É curioso isso. Elas moraram nove anos nos EUA, antes da nossa vinda a Miami, e os quatro anos em que moramos na Europa estudaram em escola inglesa. Optamos por isso, em vez de ficar pegando o sistema de educação de cada país. Resolvemos uniformizar e colocar o inglês como língua acadêmica, que acabou virando também língua de socialização para elas.
AcheiUSA – Elas escrevem em português?
Bia – Escrevem. Desde pequenininhas elas tinham que escrever um diário nas viagens e depois o João corrigia. Quando moramos em Lisboa, ainda não tinham vivido no Brasil, e tiveram dificuldade de entender português de Portugal. Dá para entender, não é? A única referência que tinham era em casa, sempre somos nós falando português e o resto do mundo outras línguas. Nos três anos que passaram no Brasil elas se descobriram brasileiríssimas e adoraram Brasília.
AcheiUSA – O que você está achando de Miami?
Bia – Miami é um lugar bem perto dos Estados Unidos! (Risos) Por um lado é uma coisa mais solta porque tem a América Latina toda. Como dizem, Miami é a capital da América Latina! Tem essa mistura, tanto para o bem como para o mal, mas não deixa de ser uma mistura interessante.
AcheiUSA – Como é para você morar nessa cidade, que muitos reclamam ser pobre culturalmente?
Bia – Não é Nova York, mas tem tudo para melhorar. Em Downtown está sendo construído o Center for the Performing Arts e talvez coloque Miami dentro de um circuito mais interessante de ópera, balé e teatro. Com relação às artes plásticas, acho que, em geral, as galerias daqui são bastante provincianas. Mas a chegada da Arte Basel, recentemente transferida para cá, obrigou algumas galerias a subir o nível. Para não ficar aquela coisa só para consumo interno ou de artistas que não tem circulação. Outra coisa interessante é que vários colecionadores, muito conhecidos, vieram de Nova York e trouxeram suas coleções particulares. Só para citar um, o Carlos la Cruz, que está em Key Biscayne, abriu sua casa à visitação. Pagar um mesmo espaço em Manhattan seria absolutamente impossível. Aqui, eles podem ter casas fabulosas e muito mais espaço para mostrar suas coleções.
AcheiUSA – Você pensou em participar de algum movimento que esteja interessado em agitar ou trazer a cultura brasileira de qualidade para Flórida?
Bia – Acho que o Centro Cultural Brasil-USA tem feito um trabalho bastante bom, dentro do possível. O governo brasileiro, infelizmente, nunca se importou muito em divulgar a cultura brasileira como deve ser. A exceção foi só em momentos de grande importância, como os 500 anos do Brasil. Naquela época, houve exposições, música, teatro, balé, cinema etc. em várias capitais no mundo. Porém, teve muitas empresas privadas envolvidas. Não existe uma vontade política, é triste isso! A cultura brasileira é a coisa mais interessante que temos para mostrar. O Broward Center for the Performing Arts, de Broward, foi muito feliz quando trouxe recentemente o Jobim Sinfônico. Pela primeira vez a obra sinfônica do Jobim foi tocada nos EUA.
AcheiUSA – Você não pensou em se envolver mais diretamente?
Bia – Não pensei em me envolver e vou dizer o motivo. Ao longo dos anos, o que consigo fazer é o meu trabalho. Posso até indicar nomes, conheço as pessoas no Brasil, os críticos e artistas, mas prefiro não me meter nessa área. Nunca usei nenhum órgão do governo brasileiro, nenhum espaço para expor, então, pela mesma moeda, prefiro me excluir. Não quero correr o risco de falarem que tal artista só está expondo porque é meu amigo. Se precisarem e perguntarem, abro meu caderno de endereços e passo o contato, apenas isso. Tenho de ter uma distância confortável para poder trabalhar.
AcheiUSA – Quais são os deveres de uma embaixatriz?
Bia – Sempre tento manter minha identidade de alguma maneira separada da parte diplomática. Não sou embaixatriz o tempo todo. Acompanhei a carreira do João desde quando ele era terceiro secretário, que seria o cabo, até embaixador. Evidente que tenho uma série de compromissos, mas, se ficar fazendo só a social, pode ocupar o meu dia inteiro. Tenho meu trabalho, minha vida, meus interesses e vou nos compromissos que acho ser minha presença indispensável.
AcheiUSA – Pensei que uma embaixatriz ou consulesa tivesse alguma obrigação, por exemplo, na parte social.
Bia – Não existe nenhuma regra dizendo que temos obrigações, mesmo porque não recebemos nenhum salário para isso. Você faz porque obviamente é a tradição no Itamaraty, mas tem muito diplomata que nem casado é…
AcheiUSA – Como você tem recebido as recentes notícias de corrupção em vários setores governamentais brasileiros?
Bia – Espero que desse escândalo saia algo de bom. Que realmente a reforma política saia, e essa vergonha (caixa dois, corrupção etc.) chegue ao fim no Brasil. Sempre são aquelas reformas que não são exatamente reformas, o Congresso e o Senado se protegem, mas acho que dessa vez ou se vai a fundo ou a gente não sabe o que pode vir acontecer.
AcheiUSA – Quais são os comentários dos brasileiros que moram em Miami?
Bia – Na realidade, converso mais com meus amigos no Brasil e eles se espantam todos os dias. É difícil até para a gente acompanhar, porque é tanto escândalo que chega a ter um por dia.
AcheiUSA – Qual é a imagem do Brasil no exterior?
Bia – A imagem do Brasil, como país, sempre foi boa. É uma delícia chegar num outro país e dizer “sou brasileiro”. As pessoas adoram nossa música, comida, cultura e sempre têm as maiores simpatias com o povo brasileiro. Cheguei em Paris para estudar no final da ditadura militar, em 1975, portanto antes da anistia, mas as pessoas separavam claramente a ditadura do que era realmente o Brasil. Mesmo em Beirute, onde moramos durante a guerra, com a cidade absolutamente em frangalhos, com milícias controlando a cidade, quando a gente passava com o carro que tinha a bandeira brasileira eles gritavam: “Brasil! Pelé!” Isso, no meio da guerra! Realmente, ser brasileiro é um passaporte para o mundo.
AcheiUSA – Vocês passaram por alguma situação grave em Beirute?
Bia – A nossa casa foi atingida, não por ter sido visada, mas por fragmentos de obus, um míssil de longa distância. Pela primeira vez, armamento pesado desse tipo foi usado dentro de cidade. No dia que chegamos em Beirute, estávamos no hotel e acordamos com um bombardeio terrível. Descemos até a portaria e perguntamos o que estava acontecendo. Disseram: “É a Embaixada do Iraque jogando bomba na Embaixada do Irã.” Isso foi em 1980, e Beirute era uma caixa de ressonância de tudo o que acontecia no Oriente Médio.
AcheiUSA – Acho que todo mundo tem curiosidade em saber quantas peças de roupas uma embaixatriz têm no seu guarda-roupa. Você nos poderia dizer?
Bia – Na verdade nunca contei… Sou extremamente minimalista e com certeza não faço o gênero “perua”! Escolho minhas roupas pelas cores neutras e sempre usei designers brasileiros. Gosto muito da Andrea Saletto, das roupas da Maria Bonita, onde compro há vinte e tantos anos. Têm peças antiqüíssimas que adoro e acabo guardando. Tenho Kenzo, que comprava em Paris – agora ele parou de desenhar – e até hoje, quando uso alguma roupa dele, as pessoas acham lindas e ficam curiosas em saber de quem é. Mas só guardo as coisas interessantes, peças originais ou diferentes. Adoro acessórios e tenho paixão por sapatos. Se saio para comprar uma roupa e vejo um sapato não tem jeito. Vou comprá-lo.
AcheiUSA – Quantos pares de sapatos você tem?
Bia – Não conto, nem por decreto! (Risos) Minha grande alegria, em Londres, era ir naquelas grandes sales da Harrods. Era muito divertido, porque o pessoal chegava às 9 horas da manhã, na hora em que abria a loja, e via aquele mundo de mulher entrando e o mais incrível é que a maioria ia direto para a área de sapatos. Tem uma cena no “Sex in the City”, em que Carrie é assaltada por um sujeito que rouba o sapato dela. Daí, ela diz (imitando a personagem): “Oh, não leve o meu Manolo. Ele me custou 400 dólares! Leva tudo, menos o sapatinho!”
AcheiUSA – Como você faz para manter a forma?
Bia – Malho, mas se você pensa que gosto, está enganada! Desde os 30 anos (estou com 52 anos), portanto há 22 anos faço ginástica dia-ria-men-te, durante uma hora e meia. Acho que vira hábito e o corpo sente falta. Faço de 30 a 40 minutos de esteira, depois musculação e perdi as contas de quantos abdominais faço. Finalizo com alongamento, numa mistura de yoga e pilates. Sou disciplinada tanto no trabalho quanto na saúde. Não dá para ir a coquetéis e jantares e ficar sem se exercitar, no dia seguinte corro para a academia.
AcheiUSA – Você já fez amizade em Miami? O que está achando da nossa comunidade aqui?
Bia – As pessoas são super simpáticas e percebi que a comunidade é bastante ativa. O Fórum Brasileiro, que aconteceu em agosto, organizado pelo Centro Cultural, é um exemplo de como inserir as pessoas na vida da cidade, ao mesmo tempo que mantém uma identidade brasileira. Outra coisa: nunca vi tanto brasileiro em nenhum outro lugar do exterior. Sabia que havia muitos, mas não nessa proporção. Aqui é um espectro da sociedade brasileira. Temos desde aquele cara que veio para fazer a América, que deve ter entrado ilegalmente e foi construindo seu trabalho pouco a pouco, até o empresário que veio estabelecer-se nos EUA. Se a Flórida fosse um país seria um dos primeiros da lista de grandes negócios com o Brasil. Em San Francisco ou Londres tem muitos brasileiros, mas nada se compara à Flórida. O que acontece naquelas cidades é que cada um vive sua vida, o brasileiro está espalhado e não tem organização. Com certeza, a nossa comunidade no sul da Flórida está muito mais organizada, em vários setores.
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AcheiUSA – Como foi seu primeiro encontro com a Bia?
Solange Rabello – Logo no primeiro encontro estava certa de que se tratava de uma pessoa inteligente e dinâmica. No campo artístico, o que me chamou atenção foi o fato de que Bia é uma artista acima de tudo sem fronteiras, por sua própria história de vida – não é fácil acompanhar a vida de um diplomata –, e que permite a interferência e alteração do mundo nas suas obras.
AcheiUSA – Qual sua visão sobre a obra de Bia Wouk?
Solange – Os trabalhos dela têm um compromisso com a inteligência e com a beleza, sem apelo a qualquer ilusão ou romantismo. Em sua singularidade, propõem uma viagem pelo imaginário como possibilidade de alguma subjetividade.
AcheiUSA – Como surgiu a idéia de convidá-la para expor na Solange Rabello Art Gallery?
Solange – Bia complementa a trajetória da galeria. A exposição dela será perfeita para a abertura da alta temporada. Estamos conectadas com a qualidade e, neste sentido, está sendo um verdadeiro prazer trabalhar na composição desta exposição, marcada para novembro próximo. Seu trabalho plástico expressa uma visão da atualidade. Com certeza, será imperdível!