É um espetáculo encenado e transmitido ao vivo pela internet, com a novidade de que os atores interagem entre si por meio de vídeo e os cenários são as casas de cada um deles. O resultado é a criação de uma nova linguagem, que mistura teatro, audiovisual e experimentação. A ideia deu tão certo que está sendo exportada agora para os EUA, devidamente adaptada para o idioma e a cultura na América.
A peça “A Arte de Encarar o Medo” entrou em cartaz em junho no território brasileiro. Os fundadores da Cia. de Teatro Os Satyros, Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, se inspiraram nas vivências da pandemia de Covid-19 para criar o espetáculo e tentar garantir o sustento dos profissionais envolvidos. Eles batizaram o feito de “teatro ciborgue” – que mistura o cibernético (máquina) com o organismo humano.
A trama se passa num futuro distópico e indeterminado, em que a população chegou à marca dos 5.555 dias de quarentena. Isoladas e angustiadas, as pessoas tentam reconstruir histórias de uma vida anterior à pandemia. Amigos criam um grupo na internet para se conectar. Eles não entendem como ainda existe energia elétrica e acesso à web, porque as emissoras de televisão e os jornais deixaram de existir e as cidades foram abandonadas. A depressão, a solidão, o medo do contágio, a angústia pela proximidade da morte e o desespero diante dos ataques diários contra a democracia brasileira são pano de fundo.
Dezoito atores, craques em tecnologia, interagem em cenas realizadas remotamente e transmitidas em tempo real por meio da plataforma digital Zoom, cada um de suas casas. Curiosamente, alguns desses atores nunca se encontraram pessoalmente na vida real. Um deles mora em Portugal e outro na Suécia. Essa peça ainda está em cartaz de sexta a domingo, com ingressos a partir de R$ 20. Mas tem também cortesia solidária (gratuito para quem não tem condições de pagar). Informações em satyros.com.br.
Do Brasil para o mundo
As apresentações brasileiras alcançam em média 600 aparelhos de visualização por noite. A peça também já estreou com sucesso uma versão África/Europa, contando com elenco de três continentes e englobando 10 países.
Agora, “The Art of Facing Fear” chega aos EUA, onde fica em cartaz aos sábados (17h) e domingos (15h) até dia 27 deste mês. A produção em inglês conta com atores de diversas partes do país, tais como Califórnia, Nova York, Oregon, Nevada, Geórgia e Alasca.
“Não nos conhecemos pessoalmente, mas de alguma forma nossa humanidade nesta pandemia nos torna muito próximos uns dos outros. Há um sentimento de comunidade humana e de que todos pertencemos à mesma raça e estamos experimentando versões da mesma coisa agora”, disse o diretor das três versões da peça, Rodolfo García Vázquez, durante o primeiro ensaio com o elenco dos EUA.
Artifícios técnicos
Vale a pena assistir o espetáculo pelo conteúdo, que é uma sucessão de esquetes, passando pela comédia, crítica social, suspense e drama, além de momentos de pura plasticidade e poesia visual. Mas também é curioso conferir a montagem por conta dos artifícios técnicos utilizados.
Em uma hora de transmissão ao vivo, cada ator faz mais de um personagem. Portanto, há troca de figurino, cenário e iluminação para cada um deles. Os espectadores podem até ter a impressão de que as cenas ocorrem em locais diferentes. Mas o ator André Engracia Melo, que mora em Los Angeles e faz parte da montagem americana, revela que encena tudo em um único cômodo da sua casa.
O paulistano criou cantinhos com fundos diferenciados para cada cena e concatena todos esses posicionamentos no quarto com troca de figurino, manejo do seu notebook e a interpretação em si. “A gente precisa atuar, ser contra-regra, operador de luz e câmera, tudo ao mesmo tempo!”, diz, se divertindo. Melo acha gratificante a identificação que a peça tem provocado no público: “É como se eles se dessem conta de que não estão sozinhos em suas angústias e preocupações. Tem efeito catártico.”
Na América, o espetáculo é produzido por Company of Angels e Rob Lecrone, em parceria com Os Satyros (Brasil) e Darling Desperados (Suécia). A Company of Angels é uma das mais antigas de Los Angeles – com 60 anos de existência – e já teve atores renomados como Richard Chamberlain, Vic Morrow e Leonard Nimoy em suas produções.
Os ingressos – a partir de dois dólares – estão à venda no site companyofangels.org/aoff, sempre até uma hora antes do espetáculo. Os espectadores recebem o link do evento meia hora antes por e-mail. Após cada apresentação, o elenco fica à disposição para um bate-papo no próprio Zoom.
THE ART OF FACING FEAR |
Elenco: Jessica Berón, Rogelio Douglas III, Bryan Ha, Megan Skye Hale, Mia Hjelte, Jessenia Ingram, Zed E. Jones, Rob Lecrone, Andre Engracia Mello, Mia Mountain, Nakasha Norwood, Michael James Nuells, Therese Olson, Danielle Rabinovitch, Amable Junior Rosa, Terrence Robinson. Texto: Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez Direção: Rodolfo García Vázquez Horários de exibição: sábados, às 17h (PST), e domingos, às 15h (PST). Até dia 27 de setembro. Ingressos: A partir de dois dólares. À venda até uma hora antes do espetáculo em companyofangels.org/aoff. O link do Zoom é enviado por e-mail meia hora antes do início. |
Artista plástica reflete sobre fluxo
Sabe aquela sensação de existir plenamente no presente, no aqui e agora, alinhando-se perfeitamente ao universo à sua volta, como se você e o seu entorno fossem um só? É o que a artista plástica Drica Lobo chama de “fluxo”. Esse é o tema da sua primeira exposição solo.
Batizada de “Decoding the Flow” (Decodificando o Fluxo), a exposição está aberta até este sábado (12) na galeria Shockboxx, em Hermosa Beach, no Condado de Los Angeles. De acordo com a paulista, trata-se de uma experiência interativa que “celebra a conexão com todas as coisas vivas, examinando a sintonia oculta que nos une.”
Drica destaca que sua exploração do tema não é religiosa, mas sim “sobre nosso estado de ser”. A intenção é “fazer a ponte entre o mundo da percepção e o mundo do mistério”, por meio de um fluxo lúdico e dinâmico de uma instalação envolvente.
A abertura da exposição aconteceu no final de agosto via Zoom, para contornar os desafios impostos pela pandemia. Também por isso é necessário agendar horário de visitação à galeria, que fica aberta para grupos de até cinco pessoas por vez. É sempre necessário usar máscara. Outra opção para conferir as peças, que estão à venda, é fazer uma visita virtual ao espaço. Mais informações no site dricalobo.com/decodingtheflow.