Por Vanuza Ramos
É, vida de imigrante não é fácil. Acordar cedo, entrar num barco, viajar cerca de meia hora até chegar no mar e poder imergir, por lazer ou a trabalho. Durante o percurso, claro, ainda tem que admirar belas paisagens de praias e bairros nobres de Deerfield Beach. O pior é estar no mar, naquela tranquilidade, só sentindo o balançar do barco, sem o incômodo das conturbações urbanas. Epa! Desde quando isso é sinônimo de vida dura? Não, não é.
Mas isso, ao contrário do que muitos imaginam, também é sinônimo de vida de imigrante quando ele escolhe trabalhar como mergulhador.
Viver dentro do mar e nadar com tubarões, golfinhos e peixes é a rotina desses profissinais. “Hoje tinha um tubarão enorme, nem sei de quantos metros porque ele estava um pouco longe”, relata excitado o janitor Ronaldo Mendes, que mergulha há seis meses, mas só por diversão. Nesse mesmo dia viu um filhote do animal, esse mais de perto. “O filhote tinha uns dois metros. Ele passou assim do meu lado”, conta ele, que já viu arraias, moréias e peixes que, quando morava em Goiás, nunca imaginou que existissem. Questionado sobre a coisa mais bonita que já viu embaixo d’água, ele nem sabe responder. “É difícil. Tudo é bonito lá embaixo”.
Tubarões não oferecem perigo
Quem também tem dificuldade em destacar algo especial é o catarinense Arilton Pavan, 40 anos, dono da Dixie Divers, no The Cove Mall. Desde os 17 ele mergulha e hoje é instrutor. Aliás, ele é um dos poucos que tem habilitação para formar instrutores. “É difícil dizer o que é mais bonito. Tudo é diferente. Se você mergulha aqui ou na Califórnia, você vai ver coisas diferentes”, se esquiva da escolha o instrutor. Na Flórida, entre as belezas do mar, consta desde o ano passado duas estátuas de anjo, colocadas no mar por Pavan e amigos como forma de atrair mergulhadores-turistas. As águas do estado também escondem barcos afundados que são grande atração para mergulhadores de primeira viagem e para caçadores de tesouros.
Com tanto tempo de profissão Pavan poderia até já ter se acostumado com as belezas do mar, mas isso é algo impossível. A cada mergulho parece que se está mergulhando em um mar novo. E diante da óbvia pergunta: os animais não são perigosos? Ele responde, quase rindo: “esse esporte é considerado tão seguro quanto boliche”. Até mesmo os temíveis tubarões, garante Pavan, não assustam. “Eles não gostam das bolhas `que saem do tubo respiratório` e por isso não se aproximam”, explica.
Se as “temíveis criaturas marinhas” não causam pavor, os próprios mergulhadores causam. São eles seus principais inimigos quando não respeitam as regras do mar. “A gente escuta notícias de acidentes no mar, no Brasil, mas aqui é difícil ocorrer isso. Se respeitarem as normas nada acontece”, diz o catarinense, destacando que ocorre que, no Brasil, muitas pessoas mergulham sem treinamento e sobem muito rápido, daí têm problema de descompressão pulmonar. Também acontece de subirem sem aviso e serem atingidos por embarcações. Mas nos EUA há pontos específicos para mergulho, demarcado com bandeiras, nos quais os barcos não podem circular livremente. É mantida uma certa área de segurança.
Também acontece de muitos brasileiros quererem explorar a sua capacidade respiratória até o fim. Ou seja, querem respirar até a última gota de ar dos tubos de oxigênio. “A gente desce com 3.000 psi (oxigênio suficiente para 30 ou 40 min, dependendo da profundidade) e quando chegamos nos 500, temos que voltar. Mas muitas vezes os brasileiros não querem voltar; querem ficar mais; até o fim `do oxigênio`. Eu já recusei clientes por causa disso”, lembra Pavan.
Profissão rende até U$ 2.000 por semana
Apesar das chateações, a profissão vale a pena. “É muito legal você poder viajar, conhecer gente diferente, e quando você vira profissional pode trabalhar em qualquer país”, afirma o instrutor. E a profissão é bem acessível. Para quem não tem aversão à água e à aventura e ainda, de sobra, quer ganhar bem, a opção é a melhor. Com um curso que pode ser feito localmente e com custo razoável – de 100 a 200 dólares- é possível se tornar um mergulhador. São 5 hr/aula na piscina, 5 hr/aula teóricas e 4 mergulhos no mar.
Uma das formas do imigrante ganhar a vida como mergulhador é limpando navios, por fora. Muitos talvez nunca tenham ouvido falar desse trabalho que vem sendo descoberto por alguns brasileiros. Limpando navios, embaixo da água, é possível ter um rendimento médio de 150 dólares por dia. E já há brasileiros abrindo companhias no segmento.Mas a maneira mais compensadora de exercer a profissão é mesmo como instrutor. Você faz seu horário, tem seus próprios clientes e pode ganhar de 1.500 a 2.000 dólares por semana. O curso custa mais caro – cerca de 3.000 dólares- e leva mais tempo de aulas teóricas e práticas. Ao final do curso o aluno recebe uma licença.
Mas para quem quiser apenas praticar o esporte por diversão, ou para fazer pesca, após o curso pode praticar quantas vezes quiser. Cada viagem, para dois mergulhos, custa 45 dólares. Os equipamentos têm que ser próprios e ficam em torno de 1.500 dólares – mas têm longevidade. Na Flórida há regras para pesca, geralmente definidas por temporadas. Nestes dias 30 e 31 de julho será a mini-temporada de lagosta. A grande temporada vai de 6 de agosto a 30 de abril, quando cada pessoa pode pegar até 6 lagostas. É também nessa temporada que as lojas e escolas de mergulhos ficam lotadas de pessoas que buscam, mais do que um meio de vida alguns momentos de aventura no fundo do mar.