Por Caroline Comeau
Todos nós temos um passatempo que nos liberta da rotina do dia a dia, seja quem for, esteja onde estiver. Essas atividades são fundamentais para a sociedade, pois permitem que as pessoas se conectem por meio de uma paixão em comum.
A arte é uma grande parte da nossa sociedade e sempre prevaleceu na história como um símbolo do talento humano. Desde o começo da humanidade no mundo pintamos nas paredes, e agora temos a tecnologia que facilita a divulgação dos murais modernos. É importante ressaltar que há uma diferença entre a pichação e o mural. O mural pode ser feito de pichação, mas o processo de fazer um mural requer mais tempo. A beleza de um mural existe para o público apreciar e interpretar e é muitas vezes permanente.
O Brasil tem alguns dos melhores artistas de rua do mundo; meu preferido é Eduardo Kobra. O estilo de Kobra é muito único que utiliza um efeito caleidoscópio nos retratos de pessoas famosas que já faleceram. Seus murais têm cores vivas e atingem novos recordes em termos de escala. Um dos seus murais mais famosos, criado em 2016, é chamado “Etnias” e está no Rio de Janeiro. Ele criou “Etnias” antes das Olimpíadas do Rio e as cores dos anéis olímpicos inspiraram as cores do mural. Isso representa a paz e a união entre os povos. O mural mostra cinco rostos de pessoas nativas dos continentes participantes dos jogos olímpicos. Fica claro que ele queria comunicar sua mensagem através da sua pintura e criou o maior mural até então para ajudar as pessoas a entender a essência da sua arte.
Cada vez que eu visito o Rio, encontro novas obras de arte de rua nas praias de Ipanema, Copacabana e Leblon. Há pouco, tive a oportunidade de ver um mural de Kobra que se chama “Talento e Superação”, inspirado no célebre piloto brasileiro de Fórmula 1, Ayrton Senna. Ao testemunhar os elogios e reações do público, percebi a importância dos murais e a sua influência na comunidade, e como um mural pode criar uma atmosfera diferente. Sempre fui fã de arte e desenho, e durante a minha viagem ao Rio em 2017 eu apreciei ainda mais a arte e os murais locais.
Isso me levou a explorar a cena artística em Gainesville. Ao lado do meu café preferido eu vi uma bandeira do “Urban Revitalization Project” (URP) em frente a uma garagem. Ao entrar nesta garagem, há notávei obras de arte em todas as paredes, de diferentes formas e tamanhos. O espaço é transformado pela arte: vai de uma antiga garagem assustadora para uma inovadora galeria de artes onde se pode estacionar.
Depois de pesquisar e conversar com o fundador do URP, Guido, lembrei de artistas holandeses (Jeroen Koolhaas e Dre Urhahn) que pintaram um mural chamado “Tudo de Cor para Você” na favela de Santa Marta no Rio. Guido e as artistas holandeses transmitiam a mesma mensagem de usar a arte como uma maneira de elevar uma comunidade e promover a união. Esses também são temas que Kobra explorou nos murais dele, para promover o pensamento internacional e transformar um espaço.
Eu tive a sorte de estar perto de uma organização que permite os jovens artistas a contribuir com essa ideia de revitalizar uma área urbana que foi esquecida. O momento foi perfeito para demonstrar minhas habilidades de desenho e pintura. Depois que eu falei com Guido e ele entendeu minha visão para o mural, ficou feliz e me deixou pintar com liberdade. Cada artista tem uma abordagem única quando se trata de criar uma obra de arte. Esse foi meu primeiro mural num espaço público e, antes de começar, percebi que era maior do que qualquer coisa que havia pintado, então o tema tinha que ser algo pelo qual eu sou apaixonada. Numa entrevista para a revista Magenta em 2017, Kobra disse que, para ele, “o desenvolvimento do conceito ou design da obra de arte leva mais tempo do que realmente criá-la”. Concordo plenamente e, por isso, eu desenhei as ideias do mural em uma escala menor a princípio.
A arte pode representar uma válvula de escape, e pode influenciar o espaço e a comunidade ao redor. Meus pais sempre se importaram com a arte e mantiveram vivos nossos laços familiares através dela, e isso influenciou a escolha da bandeira italiana moderna para o meu mural. É comum que as pessoas demonstrem suas paixões, por isso eu pintei meu modelo clássico preferido de carro italiano (275 GTB) com uma perspectiva moderna. A localização da parede também influenciou o desenho. Quando pensamos em carro, pensamos em meios de transporte; mas, na realidade, também são obras de arte. Vale ressaltar que hoje em dia o design dos carros modernos limita a criatividade porque a tecnologia prioriza segurança. Semelhante a arte de rua, se houver muita restrição, o design e a arte sofrem.
Enquanto eu pintava o meu mural, notei um outro mural no mesmo andar feito por um grupo chamado “Always True” (“Sempre Verdadeiro” em português) em homenagem ao irmão do fundador, Drew Howard. Tive o prazer de entrevistá-lo e conversar sobre seu processo de criação. Durante a entrevista, vi que compartilhamos a mesma perspectiva que a arte pode enviar uma mensagem. Semelhante à minha inspiração para o design, a família de Drew influenciou seu design do mural e o nome da empresa que ele criou. O processo de criação do mural do Always True foi muito espontâneo e o único aspecto premeditado foi o logotipo do grupo, que é a principal mensagem do seu mural. Kobra, por outro lado, aborda sua visão para a parede pintando seu conceito em uma lona menor e o replicando no espaço final. Ambas são abordagens diferentes, mas alcançam o objetivo de comunicar uma mensagem e promover uma conexão maior com o mundo ao redor.
Em Gainesville, cada vez mais se valoriza a arte de rua, especialmente os murais, pré-aprovados pelo URP (Projeto de Revitalização Urbana). Permitir que os artistas divulguem suas ideias e promovam lições importantes é essencial para o crescimento de Gainesville como sociedade. Estou feliz por ter contribuído a esse movimento cultural. Assim como em Gainesville, no Brasil há um movimento a favor da apreciação da arte de rua; arte que retrata temas diversos, do político ao social. Por isso, vale lembrar que a arte é só uma forma de expressar a necessidade humana por união e comunidade.
Texto produzido por Caroline Comeau (University of Florida) –, com supervisão da Professora Andréa Ferreira e da redação.