O governo Bush tem colhido bons resultados na maratona eleitoral latino-americana deste ano.
O governo Bush tem colhido bons resultados na maratona eleitoral latino-americana deste ano. Menos pelos candidatos que ganharam e mais por aqueles que perderam, em particular o peruano Ollanta Humala e o mexicano Andrés Manuel López Obrador.
Foram resultados que amorteceram uma guinada esquerdista e antiamericana, da qual obviamente o venezuelano Hugo Chávez é a expressão mais estridente.
E na percepção dos EUA sobre esta maratona continental como é que fica o Brasil, no qual a reeleição do presidente Lula é dada como certa, talvez não no primeiro, mas no segundo turno?
O Brasil, como de hábito, acaba se configurando como um continente à parte. Claro que Lula não é aliado do peito de Bush, mas é um dirigente com quem os americanos (do Departamento de Estado ou de Wall Street) conseguem trabalhar.
Há quatro anos, quando Lula era candidato petista pela quarta vez, ele ainda podia criar sobressaltos ao norte com sua retórica, mas hoje ele é cada vez mais visto como uma alternativa moderada ao radicalismo venezuelano.
Com leve ironia, um perfil do presidente-candidato que Haroldo Olmos, correspondente da agência Associated Press no Brasil, despachou para o mundo observa que “comparado a Hugo Chávez, da Venezuela, e a Evo Morales, da Bolívia, Lula parece às vezes quase um conservador”.
Aliás, na sua campanha eleitoral, o esquerdista mexicano López Obrador preferia muito mais ser comparado a Lula do que a Hugo Chávez, mas a propaganda eleitoral do conservador Felipe Calderón foi ardilosa e bem sucedida batendo na tecla de que o oponente estava mais para radical venezuelano do que para pragmático brasileiro.
Alca
O pragmatismo de Lula nunca significou se atirar nos braços de Bush, e no jogo diplomático a idéia fixa do atual governo para conseguir uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU levou a fiascos e colisões com a superpotência americana em questões geopolíticas e econômicas.
O confronto ficou patente na proposta americana de criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), um projeto que não decolou em parte devido à resistência de Lula, que não resistiu a seus arroubos retóricos para taxar o empenho de Washington como uma trama para “anexar” a América Latina.
Em uma recente conferência em Miami, o ex-embaixador brasileiro nos EUA, Rubens Fonseca, também foi taxativo. Ele estimou que a implantação da Alca “não está à vista”.
Muitos analistas acreditam que, num segundo mandato, Lula precisará se livrar da arapuca que foi esvaziar o projeto da Alca, ao mesmo tempo em que não conseguiu inflar o Mercosul, o bloco comercial do Cone Sul, que agora tem a andina e ambiciosa Venezuela de Hugo Chávez como incômoda associada.
Inserção
Como sintetiza Riordan Roett, um decano dos brasilianistas, professor da Universidade Johns Hopkins, “a questão mais ampla é como o Brasil pretende se inserir em uma economia crescentemente globalizada?”.
Kenneth Maxwell, diretor do Programa de Estudos Brasileiros da Universidade de Harvard, salienta que esta inserção não será movida pelo confronto ao estilo Chávez, que vê diabos americanos embaixo de qualquer cama (ao mesmo tempo em que vende petróleo para eles).
Por outro lado, Maxwell não acredita que Lula irá cair na “armadilha” criada pelo governo Bush para ser mais anti-Chávez do que ele gostaria de ser.
A ambição brasileira, de fato, é ser uma opção moderada na América Latina entre a influência norte-americana que declina e a da Venezuela que cresce.
Aqui, as chances de vitória de Lula são menores do que na eleição presidencial brasileira. Na capa de sua edição corrente, a revista The Economist estampa os sorridentes Lula e Chávez e pergunta: “Quem lidera a América Latina”?
A resposta no editorial é que o presidente brasileiro a caminho da vitória eleitoral está perdendo terreno para o líder venezuelano. Nesta maratona diplomática, Bush também fica para trás.