Segundo ativistas, imigrantes têm medo de denunciar abusos à polícia e números são subestimados
Desde 2007, quando o FBI, a polícia federal americana, registrou a ocorrência de 830 casos de crimes raciais no país, o número de abusos contra imigrantes tem caído: em 2008 foram 792 vítimas e, no ano seguinte, 692 pessoas” na maioria latinos” prestaram queixa contra este tipo de manifestação de ódio. O que pode parecer uma evolução no tratamento às minorias na simples análise dos números é, para ativistas, a prova de que o racismo, especialmente contra imigrantes de origem hispânica, está mais vivo do que nunca.
“Os crimes de ódio nos Estados Unidos são pouco reportados porque os latinos, as maiores vítimas deste mal atualmente, têm medo da polícia”, atesta Lisa Navarrete, vice-presidente do Conselho Nacional de La Raza, a maior entidade latina de defesa dos direitos humanos na América. Segundo ela, muitos desistem de denunciar os abusos pela possibilidade de deportação, mesmo na condição de vítima, e por isso os números oficiais são subestimados.
É verdade que os imigrantes, apesar do discurso das autoridades no tocante às garantias de imunidade, cada vez têm menos incentivos para reportar crimes dos quais foram vítimas “e os ativistas atribuem a culpa ao programa Comunidade Segura, do governo federal. Criada em 2008, a iniciativa utiliza dados de várias agências e das polícias locais para identificar indocumentados com antecedentes criminais. Mas, de acordo com dados do ICE, a polícia de imigração dos Estados Unidos, 28% dos pouco mais de 58 mil deportados através do programa no último ano fiscal não tinham cometido qualquer infração. Muito pelo contrário: foram encontrados pelos agentes por denunciar abusos.
Para Navarrete, os danos causados pelo ‘Comunidade Segura’ são imensos e será difícil resgatar a confiança dos imigrantes nas políciais locais. “Entre os indocumentados há a sensação de que não vale a pena reportar delitos”, diz a ativista. Para acrescentar ainda mais drama a esta situação, o programa será ampliado para todos os estados do país até 2013.
Ao mesmo tempo, as entidades de defesa dos direitos dos imigrantes têm insistido que o número de crimes de ódios estão aumentando, numa contradição aos números oficiais. Uma entidade do Alabama ” o Southern Poverty Law Center” acredita que o ódio contra as minorias está aumentando e hoje já são 319 organizações antiimigrantes nos Estados Unidos, um aumento de 3% em relação à última contagem, há um ano.
O debate sobre os crimes de ódio contra imigrantes, latinos em especial, foi reavivado há poucos dias, quando dois jovens americanos foram condenados a nove anos de prisão pela morte de um indocumentado mexicano, Luis Ramírez, na Pensilvânia. “A morte de Ramírez, que foi agredido até mesmo depois de perder os sentidos só porque era imigrante, é um claro exemplo de que a discussão sobre a reforma imigratória incendiou o preconceito racial”, acredita Brad Baldia, da Coalizão de Imigração e Cidadania (PICC, na sigla em inglês). Ele, apesar de satisfeito com a condenação dos assassinos, ressaltou que a pena foi branda, se levada em conta a gravidade do crime.
Ramirez, antes de morrer, ainda passou uma semana internado no hospital, em coma. “Torço para que a morte dele não tenha sido em vão e sirva para mudar a mentalidade antiimigrante no país”, afirmou o ativista.