Entrevista – Andréa Beltrão
O que têm em comum a romântica fotógrafa Luiza, do filme “O Pequeno Dicionário Amoroso” , a engraçada Marilda, que por sete anos roubou a cena no programa ‘A Grande Família’, e a amargurada Eva, da obra de Ingmar Bergman adaptada para os palcos? A resposta é simples: Todas foram interpretadas pela talentosa e versátil atriz Andréa Beltrão. “Sou abusada mesmo, gosto de fazer tanto cinema quanto teatro e televisão. Vou em busca de boas histórias e de personagens desafiadores, seja na comédia ou no drama”, revelou a carioca, em entrevista exclusiva ao AcheiUSA por telefone.
Mas foi a gloriosa trajetória no cinema – atuou em média em mais de um filme por ano em pouco mais de duas décadas de carreira – que lhe valeu a justa homenagem na 14ª edição do Brazilian Film Festival of Miami. Por isso, o público vai poder conferir alguns dos seus maiores sucessos na telona, durante a mostra paralela, no Cinema Paradiso. Simpática, Andréa mostrou-se ansiosa em vir pela segunda vez a Miami e, além de bater ponto no festival, prometeu aproveitar alguns momentos nas belas praias da região.”Está fazendo muito calor aí?”, perguntou a atriz, que vem com toda a família: o marido, Maurício Farias, e os três filhos.
AcheiUSA – Parabéns pela homenagem. Sensação boa, não?
Andréa Beltrão – É muito bacana ter o trabalho reconhecido, ainda mais num festival tão importante, tão representativo da cultura brasileira no exterior. Fiquei muito lisonjeada.
AU – E sobre a vinda para Miami, qual a expectativa?
AB – Esta será minha segunda visita à cidade. A outra foi justamente na primeira edição do festival, quando exibiram Carlota Joaquina. Estou ansiosa para reencontrar os amigos e fazer contato com o público brasileiro que vive no exterior. A recepção é sempre calorosa. Mas nesses dias quero aproveitar também as praias de Miami. Está fazendo muito calor aí?
AU: Muito. Além da mostra paralela, você está em outras produções da mostra competitiva, inclusive em alguns favoritos aos prêmios ‘Lente de Cristal’, como ‘O Bem-Amado’ e ‘Salve Geral’. São mais de 20 filmes na carreira. Pode-se dizer que você é essencialmente uma atriz de cinema?
AB – Sou abusada. Gosto de fazer tanto cinema quanto teatro e televisão. Vou em busca de boas histórias e de personagens desafiadores, seja na comédia ou no drama, na telinha, na telona ou na palco. As atividades são distintas e se completam. Por exemplo, na televisão já participei de programas que deram 30 pontos no Ibope, o que significa audiência de mais de 30 milhões de pessoas. Mas isso não é melhor ou pior do que atuar em teatro e vivenciar aquele momento único, que jamais vai se repetir, de acompanhar a reação da plateia. No cinema, o que me atrai são as inúmeras possibilidades e variáveis em um set.
AU – Você já recebeu dois prêmios Shell, o Oscar do teatro brasileiro, e quem sabe agora pode receber mais um prêmio, pela atuação no cinema.
AB – Não tenho qualquer expectativa em relação a isso. Na verdade, me sinto realizada quando consigo transportar os meus personagens para o mais próximo possível da realidade. E isso só é possível com muito estudo, leitura e confiança na equipe de trabalho.
AU – Como é conjugar carreira, família e ainda o papel de dona de teatro (Teatro Poeira, no Rio de Janeiro, em parceria com a também atriz Marieta Severo)?
AB – Às vezes preciso de mais de 24 horas num dia, mas fica fácil quando se faz aquilo que ama. Sou organizada dentro do meu caos e não deixo de fazer nada que quero – curtir os filhos e o marido, aproveitar essa parceria gloriosa com a Marieta, correr na praia, fazer ioga.
AU – Então é isso que você faz para manter a boa forma?
AB – Sempre quis ser atleta, amo esportes. Acho que essa mentalidade está incorporada ao meu ser. Adoro comer, mas sempre me cuido, até porque na carreira preciso estar bem. Por exemplo, na peça ‘As Centenárias, preciso estar bem fisicamente para enfrentar o rojão de personagens múltiplos e exercícios num espetáculo quase circense.
AU – Você está mesmo deixando ‘A Grande Família’?
AB – Pois é, foi difícil, mas estava na hora de sair da zona de conforto. O programa é maravilhoso, costumo dizer que é o paraíso, por causa da equipe de atores e profissionais, mas vou em busca de novos desafios. Também foi bom para dar uma parada, pois o ritmo estava muito desgastante.
AU – Como foi interpretar em ‘O Bem Amado’ uma das irmãs Cajazeiras?
AB – Divertidíssimo e uma honra. As Cajazeiras originais são insubstituíveis, até pelo sucesso da novela e da minissérie. Quando íamos para o set de filmagem era quase como uma reverência, uma forma carinhosa de homenagem.
AU – Para finalizar, não poderia deixar de mencionar a Zelda Scott, de ‘Armação Ilimitada’, que marcou toda uma geração. Tem saudades?
AB – Nossa, demais. Aquele papel foi fundamental na minha carreira. O programa revolucionou a televisão brasileira e lá tive oportunidade de aprender todo o processo de gravação, inclusive edição, sonorização, posicionamento de câmera. Uma escola, que me ajudou a descobrir meu caminho na profissão. E até hoje sou lembrada pela personagem.