‘Ser mãe é padecer no paraíso’, já dizia o velho ditado popular. Mas e ser mãe nos Estados Unidos? Longe da família, dos amigos, da avó que ajuda a cuidar da criança, com a dificuldade do idioma diferente do seu e, pior, com pouquíssimo tempo de licença maternidade? Algumas mulheres ainda têm a sorte de terem as suas mães e sogras por perto, mas isso é raro. Outras não têm qualquer direito trabalhista e são ‘obrigadas’ a trabalhar até o último momento da gravidez. As dificuldades são muitas, mas todas são unânimes em afirmar que vale a pena.
Como é o caso de Tâmara, moradora de Pompano Beach (FL). “Trabalhei até as 42 semanas da gravidez na faxina, mais precisamente até a sexta-feira e ele nasceu na segunda, ou seja, fiquei 8 dias em casa e voltei a trabalhar”, disse Tâmara.
Para falar um pouco sobre a rotina de ser mãe nos Estados Unidos, a brasileira Singrid Souza, moradora de Boca Raton (FL), criou a página “Mãe de Gringo” no Facebook. Mãe de dois filhos, ela afirma que criou a página por causa do interesse das pessoas, principalmente no Brasil, em saber como é ser mãe nos EUA. “Conheci muitas pessoas através do Snapchat onde sempre compartilhava uma ou outra experiência, e sempre surgiam curiosidades, perguntas e etc, daí resolvi criar a página. Gosto de escrever, tirar fotos e fazer pequenos vídeos. Então criei a página compartilhando experiências pessoais e cotidianas que envolvem questões culturais, dicas, entre outras coisas”.
Para Singrid, o principal desafio para mães de filhos que nascem aqui é fazer com o que eles falem português e que tenham contato com a cultura brasileira. “Meu maior desafio com as crianças é a questão cultural. Meus filhos ainda não conhecem o Brasil, e apresentar para eles um Brasil com o qual eles ainda não tiveram uma experiência, é desafiador. Nós pais somos brasileiros e por mais que já estejamos aqui há muitos anos, carregamos lembranças de uma infância, costumes e hábitos culturais que nos foram ensinados e queremos passar isso para os nossos filhos”. Ela afirma que as crianças falam português, mas não gostam, acham difícil. “Mas meu esposo e eu procuramos falar só português em casa para incentivar”.
Rotina corrida
Michelle Allentejo é mãe de Milena de 10 anos e que completará 11 anos no dia 30. As duas estão nos EUA há apenas seis meses e esse vai ser o primeiro aniversário da menina longe do pai, avós, primos e amigos. Para ela, todo o sacrifício da distância é compensado pela segurança e benefícios que os EUA oferecem. “Aqui a Millena tem ensino gratuito, material escolar gratuito, merenda e todo seu uniforme gratuito, fora a qualidade e atenção que todo o corpo docente escolar nos proporciona. Faria tudo de novo, pelo simples fato de todos os direitos da minha filha estarem assegurados. Sentimos falta das pessoas, porém, hoje em dia existem as redes sociais para estreitarmos laços com elas”, disse. Ela afirma que essa foi a melhor chance que teve na vida em poder dar à filha uma qualidade de ensino, cultura e dignidade.
A gaúcha Thammy Martins, mãe da Alicia, de um ano, concorda. Mesmo com todas as dificuldades do início – parto, aprender na marra como cuidar de um bebê, a falta da família – a segurança e a qualidade de vida compensam tudo. “O que eu mais sinto falta do Brasil como mãe é a família, a troca de experiências com as tias, primas e também me entristece saber que minha filha está crescendo longe da nossa família. Mas sei que ela vai lá visitar. No mais, consigo suprir tudo o que ela precisa. Consegui me virar bem como mãe de primeira viagem”.
‘Não tem diferença’
Já Marielle Vargas acha que ser mãe nos Estados Unidos é igual ser mãe no Brasil, na China, ou em qualquer lugar. “Ser mãe é ‘ser mãe’. É amar, cuidar, dar carinho, estar presente, educar, respeitar, brincar, e uma infinidade de outras coisas. Agora, para todo mundo é difícil ficar longe dos familiares e amigos. Enfrentar isso aqui não é para todo mundo. Quem consegue continuar morando aqui é muito forte, capaz, seguro de si, porque o trabalho aqui é escravo, a vida aqui não é moleza”, afirma Marielle. “No Brasil, eu tinha meus pais que me ajudavam, quando necessário, com meu filho. Aqui não tem isso, mas eu vejo outro lado da moeda, o do fortalecimento da minha família. Hoje eu e meu marido somos mais unidos, nos sentimos mais capazes e percebemos que isso trouxe mais força e autoconfiança para nosso filho”, acrescentou.
Viver longe dos filhos
Alessandra Alves mora em Miami e tem duas filhas: Isabela no Brasil e Fernanda na Austrália. Para ela, quando estar longe de tudo que você mais ama se torna um obstáculo a mais quando se vive fora, mas é uma realidade em que se aprende a conviver. “Ser mãe é aprender a viver com o coração batendo fora do peito e saber dar asas para voarem é saber respeitar a distância que os filhos nos colocam, o tempo que eles precisam e esperar ansiosos pela volta, é estar sempre pronta para ouvir e acolher. A saudade do abraço apertado que não se consegue largar e do chamego diário hoje é o que mais me faz saudosa “, disse. “Mas a vida é assim, nascemos, crescemos e criamos asas para voar. E nós criamos nossos filhos para voar”.
Alessandra, que é fisioterapeuta, resolveu vir para os EUA aprimorar sua profissão e afirma que hoje em dia a tecnologia opera em favor de quem mora fora. “Sem a tecnologia não sei o que faríamos, são diferentes fusos horários, diferentes culturas, diferentes cotidianos, mas nada muda os laços entre mães e filhos não mudam nunca, aliás, se fortalecem com os anos”.