Logo após a chegada da notícia da morte de Fidel Castro em Miami, na noite de sexta-feira (25), em todas esquinas na cidade mais cubana dos Estados Unidos se viam bandeiras de Cuba sendo agitadas, buzinaços, panelaços e comemorações emocionadas, como se fosse uma vitória esportiva. A polícia interditou quarteirões inteiros para deixar a multidão à vontade.
O governador da Flórida, Rick Scott, comentou sobre o êxodo cubano nas décadas passadas. “Depois de décadas de opressão, o povo cubano merece liberdade, paz e democracia. Conheci muitos cubanos que vieram para a Flórida para escapar da tirania, da brutalidade e o do comunismo do regime opressivo dos irmãos Castro”, disse em nota.
Quem dançava nas ruas de sábado, entretanto, ainda avisava que Cuba não mudaria da noite para o dia, porque o presidente Raúl Castro permanece no poder e o poderoso governo comunista vai demorar para ser substituído.
Mas Joseph Valencia, um arquiteto de 59 anos e ex-piloto da aeronáutica americana que saiu de Cuba aos 13 anos, disse ao jornal USA Today que a morte de Fidel era o primeiro sinal da queda, a primeira pista de que o comunismo terminará em Cuba e que uma nova era democracia virá.
“É o primeiro passo no caminho da mudança. Ela pode ser rápida ou lenta, mas é um começo”, disse.
“Não estamos celebrando a morte de ninguém”, disse Virginia Nunez ao USA Today. “Estamos comemorando o começo do fim de uma era de ditadura e de genocídio”.
A Miami Cubana
O primeiros cubanos deixaram a ilha logo depois que Castro chegou ao poder, em 1959. Eles esperavam que a revolução que derrubou o então líder Fulgêncio Batista durasse pouco, e então todos poderiam voltar para casa. Mas o regime castrista está de pé até hoje, e centenas de milhares de cubanos, há mais de cinquenta anos, chegam em massa à cidade, tentando escapar dos rigores da vida em Cuba e aproveitar-se dos privilégios imigratórios que possuem nos EUA. Uma lei assinada em 1966 permitia que qualquer cubano que chegasse aos Estados Unidos pudesse conseguir automaticamente o green card depois de um ano. Em 1995, a “lei dos pés molhados e secos”, do governo Bill Clinton, limitou esse privilégio somente para os que conseguissem por o pé em solo americano; os que fosse pegos pela Guarda Costeira eram devolvidos para Cuba. Surgiram então os famosos ‘balseros’, imigrantes cubanos que usavam de todos os recursos possíveis para chegar ao solo americano com a promessa do green card fácil e dos prazeres do capitalismo.
No final da década de 1970, o governo de Castro concordou em soltar 3.600 presos políticos e disse que eles estavam livres para irem para onde quiserem. Em seguida, o ditador cubano declarou que o porto de Mariel estaria aberto para qualquer um que quisesse ir embora da ilha, desde que houvesse quem lhes pegassem. O número de pessoas que chegou a Miami dessa forma, com o apoio do presidente americano Jimmy Carter, passou de 120 mil pessoas.
Mas o êxodo não parou por aí. Todos os anos, milhares de cubanos são resgatados do mar pela guarda costeira ou chegam exaustos à costa americana.
Hoje, a população de origem cubana em Miami passa do milhão e concentra-se nas áreas ao redor de Downtown, como Hialeah, Little Havana, Kendall, Coconut Grove, Coral Gables e nas áreas em torno da famosa Calle Ocho, a SW 8th Street.