Enquanto a reforma imigratória se arrasta no Congresso, o debate sobre os racismo torna-se cada vez mais pronunciado.
Desde troca de insultos até ataques violentos, os ativistas dizem que uma onda anti-imigrantes parece estar crescendo nos bairros e nos locais de trabalho dos EUA. Alguns líderes políticos chamaram as medidas contidas na proposta de imigração que estão no Congresso de “racistas.”
“O clima tem ficado cada vez pior e racialmente insuportável”, disse Devin Burghart do Centro para Nova Comunidade, que acompanha as atividades anti-imigrantes. “Não é simplesmente um debate sobre política de imigração… É sobre raça e identidade nacional e quem e o que somos como americanos.”
Alguns ativistas dizem que tudo começouy com a Câmara de Deputados. Quando os parlamentares aprovaram um projeto de lei em dezembro que transformava os imigrantes ilegais em criminosos, muitos sentiram que isto foi dirigdo para os latinos, que compõem 80 por cento dos cerca de 11 milhões de imigrantes ilegais. O ex-presidente Jimmy Carter disse que o projeto de lei tinha “tons racistas”, e isto serviu para empurrar mais de 1 milhão de pessoas para as ruas, a fim de protestar contra estas medidas nos últimos meses.
Alguns reagiram da mesma maneira depois do Senado ter aprovado uma emenda em seu projeto de lei de imigração no mês passado declarando o inglês como idioma nacional. O líder da minoria democrata no Senado, Harry Reid, do estado de Nevada, qualificou a emenda como “racista” e “divisionista.”
O autor da emenda, o senador republicano de Oklahoma, James Inhofe, retrucou dizendo que as declarações de Reid eram “ridículas”. O deputado republicano James Sensenbrenner, do Wisconsin, que redigiu a maior parte do projeto de lei da Câmara de Deputados, divulgou um estudo sobre as políticas imigratórias de seis países e descobriu que cinco – inclusive o México – consideram a entrada ilegal no país um crime federal.
Mas Luis Valenzuela, da Aliança de Imigração de Long Island em New York, disse que as medidas são hostis a muitos imigrantes. Os projetos de lei “estabelecem um clima geral bastante racista”, enfatizou. “Isto dá combustível para ações dos extremistas.”
Mark Potok, do Centro de Direitos da Pobreza no Sul, que acompanha crimes de ódios raciais há décadas, afirmou que grupos de ódios raciais “consistentemente tentam explorar qualquer discussão pública sobre qualquer tipo de ângulo racial, e a imigração tem funcionado para os grupos de ódio raciais nos EUA mais do que qualquer outro tema nos últimos anos”.
A Liga Anti-Difamação, uma entidade que combate o anti-semitismo e outros preconceitos, distribuiu um relatório no mês passado que dizia ter crescido a “retórica odiosa e racista” dirigida aos imigrantes latinos a “um nível sem precedentes recentemente”. O relatório não divulga um número geral sobre discursos e crimes de ódio raciais, mas detalhou vários exemplos:
– Dois homens no Tennessee foram condenados à prisão em dezembro por quebrar janelas e pintar símbolos nazistas num mercado mexicano local.
– Vídeo games na Internet, tais como o “Border Patrol”, fazem com que os jogadores alvejem personagens caracterizados como latinos.
– Hal Turner, que tem um talk show por Internet em New Jersey, divulgou um “manual de limpeza étnica” no seu Website alguns dias depois dos protestos de 1º de maio.
Perto de Houston, dois adolescentes brancos foram presos em abril, acusados de espancar um jovem latino e sodomizá-lo com um cano. Dias depois, em Long Island, um adolescente branco foi acusado de ameaçar dois latinos com um machado e uma serra elétrica. A polícia disse que insultos étnicos foram usados nos dois casos.
Em Herndon, Virginia, opositores de um local onde ficavam os trabalhadores diaristas para serem recolhidos, tiraram fotografias dos trabalhadores e ameaçou segui-los até suas casas, disse Bill Threlkeld, diretor do Projeto Esperança e Harmonia, a entidade que administra o site. Quando um homem protestou contra o site usando uma camiseta “Somente Brancos”, uma controvérsia local tornou-se um assunto étnico, comentou Threlkeld.
O sociológo Gonzalo Santos, da Universidade do Estado da Califórnia, em Bakersfield, disse que a imigração é o mais recente exemplo dos temas sociais que estão tomando proporções raciais grandes nos EUA. “As pessoas falam de imigração como se a raça não importasse, dizendo ‘Não, não tenho nada contra imigrantes ou mexicanos, não gosto apenas da parte ilegal.’ Mas estas palavras funcionam como códigos”, diz. “Temos experiência em questões raciais neste país através de temas como política de bem-estar social, programas anti-pobreza e agora imigração.”
Cecilia Muñoz, do Conselho Nacional La Raza, disse ser importante os advogados de imigração não escorregarem para os preconceitos. A maioria das pessoas, por outro lado, estão focadas em discussões civis nas políticas públicas, e não em etnicidade, ela disse.
“Assumir que todos que discordam de nós neste debate devem ser racistas é completamente falso”, alerta Cecilia. “Mas estamos sentindo os efeitos de coisas que podem ser descritas como racismo e ódio. Recebemos cartas com insultos étnicos. Pessoalmente fui chamada de ‘wetback’ (palavra usada para descrever os mexicanos que entram ilegalmente pela fronteira) e de uma palavra começando com ‘n’ que não gostaria de dizer. Isto ocorreu nos últimos dois meses.”
Ao mesmo tempo, tem aumentado a preocupação com a segurança . Pela primeira vez numa conferência anual realizada no ano passado, La Raza ofereceu um programa para grupos comunitários sobre como evitar provocações para evitar distúrbios. “Funcionou bem”, disse a dirigente. “Planejamos fazer isto novamente este ano”.