DA REDAÇÃO, COM MIAMI HERALD – Seria irresponsável afirmar que o “fenômeno das notícias falsas” que tomou conta do Facebook e outras redes sociais durante a campanha eleitoral americana foi determinante para o resultado das eleições. Não há informações que comprovem isso.
Ainda assim, notícias falsas – não as questionáveis, mas as comprovadamente desmentidas como falsas – se espalharam de tal forma durante a campanha que todos os americanos deveriam começar a prestar atenção no fenômeno.
O site Buzzfeed divulgou uma análise detalhada do fenômeno, revelando que nos três últimos meses da campanha “as 20 maiores notícias falsas de sites fraudulentos e blogs hiperpertidários geraram 8 milhões e 711 mil compartilhamentos, reações e comentários no Facebook.”
Um número substancialmente maior que os 7 milhões e 367 mil interações semelhantes geradas pelas 20 maiores notícias eleitorais divulgadas pelas 19 mais importantes fontes de notícias, incluindo o The New York Times, The Washington Post, Huffington Post, NBC News e outros.
Em resumo, as notícias falsas geraram mais atenção que as provenientes da “grande mídia.”
As notícias falsas incluem histórias de que o Papa Francisco teria apoiado Donald Trump, que Hillary Clinton vendeu armas para o ISIL, que Clinton foi desqualificada para a presidência e que um agente do FBI ligado às investigações sobre os emails de Clinton teria sido encontrado morto.
As notícias falsas foram predominantemente pro-Trump e anti-Clinton. Uma explicação é a de que os operadores que usam sites fraudulentos como fonte de renda simplesmente descobriram que esse tipo de abordagem para a notícia falsa representa um grande filão e maiores lucros.
O Buzzfeed descobriu que mais de 100 websites geradores de notícias falsas vêm da Macedônia, na antiga Iugoslávia.
A questão não é saber se as notícias falsas foram ou não determinantes para a eleição. A questão é que, a não ser que os americanos selecionem cuidadosamente as fontes de notícias espalhadas pelas redes sociais, e aprendam a discernir a credibilidade da informação, pode ser que a disseminação de notícias falsas cause sérios danos à nação.
Parte do problema é que as redes sociais são organizadas de modo a mostrar ao usuário coisas parecidas com as que ele já viu anteriormente. Basicamente, o leitor quer ler novamente o que gostou de ler.
Esse sistema é perigoso, porque tem o efeito de uma câmara de eco. Acaba fazendo com que os usuários vejam tudo somente por um ponto de vista. O “efeito câmara de eco” torna difícil para o leitor discernir entre o falso e o real. Se todas as mídias falam exatamente o que você pensa, então você deve estar certo, não é?
A política torna as pessoas agressivas. Liberal, conservador ou independente, se o leitor lê alguma coisa que desabone o candidato de sua preferência, a tendência natural é rejeitar a notícia.
Se você entrar num café e perguntar em volta sobre um assunto qualquer, não vai considerar a sugestão que receber? Pode ser que haja um especialista entre os fregueses, mas em geral as pessoas só têm um conhecimento superficial dos assuntos. Só porque alguém disse ou escreveu sobre determinado assunto isso não o torna verdadeiro.
Então porque o ceticismo quando se trata de informações online?
“Se não conseguirmos diferenciar entre argumentos sérios e propaganda, então teremos problemas”, disse o presidente Barack Obama durante uma entrevista coletiva ao lado da chanceler alemã Angela Merkel, na semana passada.
Algumas pessoas dizem que o problema se tornou tão sério que já estamos vivendo numa era de “pós-verdade.”
É algo para se refletir. Os jornalistas deverão daqui para frente aprender como competir com a informação falsa e descobrir porque os leitores são atraídos pelos sites fraudulentos.
Como leitores, devemos todos procurar fontes responsáveis de notícias, que realizam o trabalho de checagem da veracidade da informação. E os fatos devem estar sempre sujeitos à verificação. É por isso que os melhores e mais confiáveis sites põem links e fontes da informação nas suas matérias, de modo que o leitor possa aprofundar-se no assunto.
Seja cético. Confira perspectivas diferentes. Trate a internet como aquele café acima: ouça as diferentes pessoas e decida você mesmo.
Se você acha o New York Times liberal demais, tudo bem, mas procure refletir um pouco sobre o que eles escrevem. Não gosta da Fox News? Sem problemas, mas dê uma conferida de vez em quando para ver o que passa por lá.
Não se tranque dentro de uma câmara de eco.