DA REDAÇÃO, COM THE WASHINGTON POST – A retórica racista que anda permeando a disputa presidencial nos Estados Unidos ganhou um triste capítulo na segunda-feira passada.
Em vez de deixar a gorjeta de praxe para a garçonete que atendia à sua mesa, um casal escreveu “Só damos gorjetas para cidadãos” na conta apresentada e eles em um restaurante da cidade Harrisonburg, na Virgínia.
A mensagem era para a garçonete Sadie Karina Elledge, nascida nos Estados Unidos, descendente de mexicanos e hondurenhos. Indignado, o avô de Sadie, o advogado John Elledge, resolveu postar no Facebook a foto da notinha com o recado.
Embaixo da foto, ele escreveu: “Vocês são um total e completo pedaço de b***a.”
Antes, ele já havia escrito palavras mais duras:
“Ficaria feliz em ir para a cadeia se pudesse dar pelo menos um bom soco na cada do filho da p*** que pagou a conta na lanchonete onde a minha neta trabalha e deixou um recado na nota dizendo “Só damos gorjetas para cidadãos.”
Elledge, branco, disse ao jornal The Washington Post que é particularmente sensível às agressões dirigidas a sua família multicultural.
O advogado passou os anos 1980 em Honduras, trabalhando para a igreja episcopal. Deu aulas de inglês para crianças numa escola bilíngue, e conheceu Íris, a hondurenha com quem casou.
Iris já era mãe de duas crianças, que vieram junto com o casal para os EUA. A família foi morar em Harrisonburg, cidade da Virgínia que conta com três universidades, o que traz bastante diversidade para Harrisonburg. Assim como uma agência de auxílio para refugiados baseada na cidade.
É uma boa cidade para criar uma família multicultural e misturada, disse Elledge ao Post.
“Temos seis lindos netos. Sadie é a terceira mais velha. O pai dela é hondurenho, meu filho, e a mãe mexicana. Somos uma família inteiramente bicultural, uma típica família bicultural.”
Por três décadas houve poucos episódios de discriminação, contou o advogado. Uma vez, na escola, um garoto pediu a Sadie para “fazer um burrito”, mas ela não se incomodou.
O escritório de advocacia de Elledge fica no centro da cidade. Uma das netas trabalha com ele no escritório e a outra, Sadie, trabalha no restaurante Jess’ Lunch, onde deixaram a nota preconceituosa para ela.
Depiois que Elledge exibiu a nota nas redes sociais a história se espalhou rapidamente entre os amigos, incluindo alguns advogados e investigadores que tentaram identificar a pessoa que rabiscou a assinatura na nota.
Mas, antes que eles pudessem descobrir quem era, o casal voltou ao restaurante, revoltados depois de ver a postagem na rede.
O homem “chegou aos gritos por causa dos quatro dígitos (do cartão de crédito)”, disse ao Post o gerente do restaurante, Tom Marchese. “Não é nem o seu cartão. Você está mais preocupado com isso ou com o que foi postado nas redes sociais”, perguntou Marchese. “Com os dois” respondeu o indivíduo. “Eu perguntei por que ele estava gritando comigo, e disse que fosse berrar com quem escreveu a postagem”, contou Marchese.
A essa altura, John Elledge entrou no restaurante. Soube que as pessoas que tinham escrito a mensagem para Sadie na nota tinham voltado, e resolveu enfrentá-las frente a frente.
“Não nos falamos muito”, disse Elledge ao Post. A mulher estava furiosa porque postei a foto… e o sujeito muito agressivo. Ela ficou me perguntando por que eu havia postado. Eu respondi que aquilo acima da assinatura dela era um insulto à minha neta, e que postei mesmo. Sem perdão.”