Imigrantes ilegais estão sendo vítimas do Ministério de Imigração canadense
O novo governo canadense adotou um “estilo americano” em relação à imigração ilegal, a tal ponto que os defensores dos direitos humanos já falam da “abertura da proibição” contra os indocumentados.
A coordenadora do grupo “Ninguém é ilegal”, Sima Zerehi, acaba de qualificar a atitude do governo conservador do primeiro-ministro Stephen Harper, que assumiu o cargo no final de janeiro, como “a importação de medidas de força do estilo americano”. Expressando sua preocupação pelas últimas ações das autoridades imigratórias do Canadá, Zerehi considerou ter sido iniciada a “abertura da proibição” contra os imigrantes em situação ilegal.
Em março passado, o ministro de Assuntos Exteriores de Portugal, Diogo Freitas do Amaral, teve de ir com urgência a Ottawa para impedir que o Ministério de Imigração do Canadá expulsasse várias familias portuguesas que moram há anos neste país de forma ilegal.
Freitas do Amaral reuniu-se com os ministros da Imigração, Solbe Monte, e de Assuntos Exteriores, Peter McKay, que lhe asseguraram que as autoridades canadenses não estavam concentrando seus esforços na comunidade portuguesa e que as expulsões não eram sinal de endurecimento de suas práticas.
Mas o que ocorreu nas últimas semanas com duas familias costarriquenhas disparou o alarme entre grupos que defendem os direitos dos imigrantes, políticos da oposição e o ministro da Segurança Pública. Em 27 de abril passado, funcionários do Ministério da Imigração detiveram em seu domicílio de Toronto Francella Sossa, sua filha de dois anos e seus pais.
Com a família em um veículo – o marido de Francella, Gerald Lizano, livrou-se da batida porque estava em seu trabalho-, os agentes se dirigiram ao colégio onde estudam os outros dois filhos do casal, Kimberly e Gerald, e os detiveram na presença de seus companheiros de classe.
Kimberly, de 15 anos, e Gerald, de 14, foram posteriormente liberados, mas Francella continua num centro de detenção junto com sua filha Joshlynn. Enquanto isto, é desconhecido o paradeiro de Gerald Lizano.
Um dia depois, 28 de abril, os funcionários do Ministério da Imigração voltaram a agir contra outra família da Costa Rica. Desta vez, foram primeiro à escola onde estudam Lisbeth e Hacel Araya (de 7 e 14 anos) e ameaçaram levar as garotas, se seus pais não se apresentassem imediatamente.
A mãe, Denia Araya, foi rapidamente até a escola, onde foi detida e levada junto com suas filhas a um centro de detenção, e posteriormente todas foram postas em liberdade.
O uso das crianças como isca causou indignação tanto no Canadá como na Costa Rica. O governo costarriquenho enviou uma carta ao governo canadense solicitando explicações pela forma como os funcionários canadenses haviam atuado nos dois casos. O embaixador da Costa Rica em Ottawa, Carlos Miranda, confirmou na segunda-feira (08/05) que as autoridades de San José esperam a resposta do governo Harper, mas classificou de raro o ocorrido com as duas famílias.
Três deputados da oposição, dois liberais e uma social-democrata também se uniram no Canadá aos críticos e se ofereceram como garantia para que Francella Sossa possa ser liberada por um juiz de imigração.
Até mesmo o próprio ministro de Segurança Pública do governo de Harper, Stockwell Day, qualificou os procedimentos empregados de “anormais” e prometeu uma investigação dos fatos.
Mas Zerehi disse que o atual governo conservador do Canadá envia mensagens contraditórias sobre sua política e que a verdade é que desde a chegada ao poder de Harper as detenções de imigrantes ilegais aumentaram significativamente.