COLABORAÇÃO de Tracy Bonilla – Ao passar pela rua de uma agência que oferece serviços financeiros e de comunicação com os Estados Unidos no centro de Governador Valadares (MG), é comum observar clientes que aguardam o tão esperado dinheiro que residentes nos EUA transferem para o Brasil. Na cidade, essa agência oferece o serviço de remessa de moeda estrangeira desde 1998. O processo auxilia os valadarenses que residem no exterior e seus parentes que ficaram no Brasil na construção e realização de seus projetos.
Com um sorriso no rosto, o professor Roberto Flores, de 47 anos, aguarda o recebimento do dinheiro de seu filho que vive nos EUA. Ele conta que o dinheiro é uma ferramenta de oportunidades: “Meu filho nasceu lá, e quando nossa família voltou para o Brasil, ele ficou. O bom é que dá para ajudar muito a gente aqui. Eu morei onze anos por lá e há dez anos vivo aqui. É engraçado pensar, antes eu enviava o dinheiro para minha família e hoje eu recebo do meu filho”.
A rotina da agência é quase que automática para todos que entram: os clientes chegam, pegam suas senhas e esperam atendimento. Ao serem chamados a atendente pega a documentação e o número do envio para realizar o pagamento. É possível observar que alguns clientes já são conhecidos pelo nome, e a maioria deles recebem envios de parentes.
De acordo com o diretor geral da rede de agências na América Latina, Luiz Citro, a entrada de dólares em Governador Valadares já atingiu o pico de 25% da arrecadação do município. “A moeda americana entra no Brasil de várias formas, mas o envio feito por imigrantes brasileiros é a terceira maior, ficando atrás apenas dos investimentos diretos e do turismo. Grande parte dos envios vem dos Estados Unidos, mas países da Europa, como Portugal, Itália e Alemanha também fazem um papel importante para manter o fluxo de moeda estrangeira no Brasil”, revelou.
Dependência do dólar
Muitos valadarenses dependem dos parentes imigrantes para investir no próprio negócio, comprar casas, carros ou estudar. Uma das clientes vê o dinheiro enviado pelo pai, que há anos mora no Canadá, como uma forma de planejar o futuro. “Ele foi buscar uma vida melhor para mim e para minha irmã e é graças a ele que nós estamos em uma faculdade. ”
Em média, 4 bilhões de dólares entram no Brasil todos anos, isso representa 0,21% do PIB nacional. Em 2007, o ano anterior à crise mundial, a quantia era ainda maior: 7 bilhões de dólares foram enviados ao Brasil. As datas comemorativas impulsionam o envio. Segundo Luiz Citro, “o pivô das maiores transações diárias no mundo é o Dia das Mães, mas no Brasil temos o pico de transações no final do ano. A época de Natal faz com que as pessoas mandem mais dinheiro para a família”.
As eleições americanas
O filho de uma cliente aposentada, de 73 anos, mora nos Estados Unidos há 12 anos. Por ser indocumentado, já mudou várias vezes dentro do país fugindo da polícia de imigração. “Sempre que ele pode, ele manda alguma coisa, às vezes eu uso para pagar os remédios ou as contas de casa”, conta a aposentada.
Com as eleições presidenciais americanas chegando, o pré-candidato Donald Trump assusta muitos imigrantes indocumentados. Além das famosas promessas de deportação em massa, projetos de leis como o da regularização das remessas de dinheiro para outros países ameaçam quem depende do dinheiro enviado pelos imigrantes.
Para Luiz Citro, a eleição de um novo presidente não é motivo para preocupação “Esse discursão acontece há muito tempo. O Brasil é a sétima maior economia do mundo, mas estamos em 21º em termos de remessa. As remessas em países como, por exemplo, a Rússia, representam 1,8% do PIB, e 2,4% da China. Nos Estados Unidos, tem uma diferença em a relação à formalidade da pessoa no país e o serviço de envio de dinheiro. ”
Entre 2008 e 2010, a economia interna dos Estados Unidos estava desequilibrada e boa parte do mundo também passava por uma crise. Com isso os brasileiros compraram mais dólares. “O real ficou valorizado, em 2010 foi a crise no exterior e o mercado melhorou no Brasil. A valorização do real fez com que as pessoas viajassem”, afirma Luiz Citro.