DA REDAÇÃO por Caio Campos – A jornada não é nada fácil: são mais de 35 mil quilômetros percorridos para ir e voltar. A adaptação climática, menos ainda: o frio pode chegar a até -51 graus Celsius no ápice do inverno. Mas nada disso faz com que o fotógrafo brasileiro Ricardo Serpa desista da vontade de documentar com suas lentes a natureza exuberante de um dos mais remotos rincões dos Estados Unidos, o Estado do Alaska.
Serpa já fez, por quatro vezes, pilotando uma motocicleta, o inusitado percurso que se inicia no sul da Florida e termina no ponto mais a noroeste da América. O resultado de tamanha aventura, diz ele, compensa, ao ser brindado com “cenas de sonho”, como o fotógrafo define, e espetáculos naturais como a aurora boreal (fenômeno que, no amanhecer, tinge o céu em tons surreais, do roxo ao verde).
Na entrevista a seguir, o brasileiro – que iniciou sua carreira no “Jornal do Brasil”, após seguir a paixão pela fotografia e renunciar a um cargo executivo dentro de uma grande empresa – fala sobre as expedições ao Alaska e revela seu local favorito para fotografar no sul da FL. Serpa deve, em breve, expor os cliques que faz no Alaska, em mostra que abre ao público em maio (em local ainda a ser definido).
AcheiUSA – Por que o Alaska, dentre tantas regiões dos EUA, para suas viagens fotográficas?
Ricardo Serpa – O Alaska sempre foi uma enorme curiosidade, desde criança. Muito provavelmente por causa da distância, do frio, do clima inóspito e, principalmente, pelas belezas naturais em todo o Estado, que é imenso e pouquíssimo habitado. No total, já viajei ao Alaska por 4 vezes, sendo que delas, 3 sobre uma moto. Na última [feita em março], ainda rodei 5 mil quilômetros, dos mais de 35 mil exigidos no percurso, numa van, dormindo no acostamento das estradas para fotografar a aurora boreal nos lugares mais afastados do Alaska.
AU – Qual a sua imagem favorita dessas viagens e a história por trás desse clique?
RS – Acho que uma foto que fiz da minha própria moto, no caminho de volta de Prudhoe Bay, perto do Oceano Ártico, uma estrada isolada e cheia de trechos lindos e difíceis. Quando chove, as partes de terra, que são muitas, se tornam extremamente escorregadias e traiçoeiras, então todo cuidado é pouco. O sol não se põe no verão naquela latitude, e fica fácil perder a noção do tempo. Nessa foto, eu tinha acabado de atravessar uma hora de chuva pesada, por volta das 10 da noite, com ainda uns 400 quilômetros pela frente até chegar ao meu lugar de pernoite. Saí da chuva, comecei um trecho de descida e fui brindado com uma cena de sonho. São momentos como esse que fazem as viagens.
AU – A logística de uma viagem dessas é complexa? O que você leva em termos de equipamento?
RS – É muita preparação na primeira vez, já que tudo é novidade e você não sabe ao certo o que irá precisar. Quem embarca numa viagem solo de muitas semanas em uma moto, sempre exagera na primeira vez. Na segunda viagem, você já sabe o que funciona e o que você precisa ou pode precisar. Tem que equilibrar equipamento com espaço, que é muito limitado. Divido tudo em áreas distintas: roupas e coisas pessoais em uma bolsa a prova d’agua, equipamento fotográfico em um dos boxes da moto, computador e afins em outro, e material de camping no terceiro box. Com isso, dá pra ficar na estrada por meses.
AU – Voltando agora ao sul da FL, há algum lugar na região que você considere inspirador para fotos? Qual e por que?
RS – Não fotografo muito por aqui, mas gosto muito do Everglades [parque nacional localizado a oeste de Miami], e quero explorar mais toda essa enorme área. Dá para fazer muita coisa boa, e fica logo ali ao lado.
AU – Com as câmeras DSLR se tornando cada vez menos complicadas de manusear, a fotografia atrai a cada dia mais adeptos. Qual dica você, como profissional, daria para um fotógrafo iniciante e que deseja melhorar a qualidade de seus cliques?
RS – Comprar uma DSLR simples, com uma ou duas lentes básicas, e fotografar muito. Ao mesmo tempo, uma boa busca online vai mostrar uma infinidade de bons cursos, pagos ou não, que podem ser feitos na web. É uma questão de dedicação e vontade: se ambas existem, as possibilidades são infinitas.
AU – Por fim, que fotógrafos foram e são influência para você?
RS – Sempre gostei muito do Eugene Richards, um mestre do fotojornalismo norte-americano, do Rogério Reis, um mestre e amigo no fotojornalismo brasileiro, e do Sebastião Salgado, que tem projetos de peso e muita consistência.