Plataforma do partido, aprovada durante convenção , descarta anistia
A plataforma republicana aprovada durante a convenção mostrou que a ala mais conservadora do partido rechaça uma anistia aos mais de 12 milhões de indocumentados nos Estados Unidos, ao mesmo tempo que exige firmeza na segurança das fronteiras. Os republicanos, porém, não deixaram de destacar no documento que pretendem promover a integração social dos imigrantes legais no país. As propostas foram aprovadas por unanimidade durante o encontro em St. Paul, no estado de Minnesota.
O projeto de governo do candidato John McCain tem pouco mais de 50 páginas, sendo que duas delas são dedicadas ao tema. Se por um lado os republicanos demonstram seu ponto de vista conservador nas idéias de como resolver a questão da imigração ilegal, por outro procuram se apresentar de forma condenscendente à situação dos imigrantes. Ou seja, deixam claro que não vão permitir a anistia aos indocumentados, que segundo eles foi a causa principal da vulnerabilidade das fronteiras do país, mas querem aproximar os imigrantes da cultura americana.
“A lei fica enfraquecida se as políticas do Governo premiam a atividade ilegal. O povo americano condena a legalização em massa e isso se justifica pelos fracassos recentes do Governo em cumprir a lei”, diz um trecho da proposta. Com isso, segundo analistas, o partido deixa claro que o assunto imigração sera tratado por uma eventual administração republicana como uma questão de segurança nacional, sob a argumentação que os EUA podem ter um sistema de imigração sólido sem a necessidade de sacrificar a legislação. Portanto, tanto como em relação às ameaças de terrorismo, o narcotráfico e outros crimes, a soberania da segurança nacional corre perigo se o país permite em seu território milhões de desconhecidos, sem qualquer registro oficial.
O que fazer, então, com os mais de 12 milhões de indocumentados que vivem na América, já que parte da população exige a expulsão imediata deste contingente e outra parte espera a negociação de uma reforma que pode absorvê-los na sociedade? Para os republicanos, a solução passa por um aumento na vigilância em todos os pontos de entrada do país, na finalização do muro na fronteira com o México, as operações da polícia de imigração (ICE) nas fábricas e na deportação imediata dos imigrantes que já cometeram crimes.
Para tanto, o documento propõe penas mais severas a quem permanecer no país após a expiração do visto e multas altas para os contrabandistas de pessoas (coiotes). Além disso, exige das empresas que utilizem o sistema E-Verify – um programa estabelecido pelo governo federal que determina a todos os empregadores a identificação do status imigratório de seus empregados. O projeto prevê ainda que as cidades consideradas ‘santuários de imigrantes’ serão punidas com a falta de verbas federais, pois dar guarida aos indocumentados é colocar a vida dos cidadãos americanos em perigo. Amenizando o discurso, a plataforma republicana apóia a “identidade comum” do povo americano e a integração dos imigrantes legalizados à cultura e à vida do país, fazendo uma ressalva: o inglês é o idioma oficial dos EUA.
Os comentaristas políticos perceberam algumas diferenças marcantes entre a plataforma do partido para estas eleições e os documentos produzidos por ocasião da candidatura de George W. Bush, em 2000 e 2004. Naquelas ocasiões, o nome do candidato foi mencionado dezenas de vezes, enquanto que McCain só foi citado uma vez na atual proposta, na introdução, deixando claro – na opinião dos especialistas – que a posição adotada tem a cara do partido e não do seu candidato. Outra diferença é em relação ao próprio tema da imigração: na época de Bush, o partido defendia um sistema migratório humano, um programa para trabalhadores temporaries e uma via de legalização para os indocumentados. E foi justamente isso que o senador McCain defendeu no Congresso, antes de ser derrotado pela ala mais conservadora.
O documento foi elogiado pela União Conservadora Americana (ACU, na sigla em inglês) e pelo Conselho dos Direitos da Família, mas o candidato McCain faz questão de manifestar o seu apoio pessoal à reforma. E nem poderia ser diferente: calcula-se que pelo menos dez milhões de latinos vão às urnas no dia 4 de novembro e o voto hispânico certamente sera crucial em estados-chaves como Novo México, Flórida e Colorado.