Luiz Fernando Dias*
O jornalista Luiz Fernando Dias vem sofrendo agressões homofóbicas há mais de vinte anos por uma mesma família, moradora de duas casas da vila onde ele mora, em Santa Rosa, bairro de Niterói, cidade ligada ao Rio pela ponte Rio-Niterói. No Carnaval passado, as agressões extrapolaram e ele se viu obrigado a apelar para os meios de comunicação, a fim de denunciar o crime. Além da denúncia, ele foi orientado a abrir queixa-crime na instituição carioca “Nudiversis” ( Núcleo de Defesa da Diversidade Sexual e Direito Homoafetivos da Defensoria Pública) coordenada pela defensora Livia Casseres. O jornalista também conversou com o advogado Carlos Alexandre Neves Lima, da Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual (CEDS), e vai mover ação por danos morais, homofobia, injúria e direito de vizinhança pelos vinte anos de abuso psicológico que sofreu. Luiz Fernando escreveu uma carta a diversos meios de comunicação – entre eles ‘O Globo’, do Rio de Janeiro, e o AcheiUSA – reproduzida abaixo.
“Fui agredido por vizinhos durante o Carnaval passado. Por volta das onze horas da noite, fui chamado de “veado aidético e aleijado”, entre outros adjetivos nada agradáveis, simplesmente por exercer meu direito de cidadão. Os agressores foram uma família de valentões (dez pessoas) que moram em duas casas da minha vila. Os xingamentos vieram depois de eu reclamar de um churrasco com música alta, ato contínuo onde moro. Fiz o boletim de ocorrência na polícia (BO), mas não senti firmeza. O inspetor me disse que não pode fazer nada porque não existe horário de silêncio.
Estou na base de Lexotan, pensando como fui nascer neste país. São 25 anos sofrendo com a homofobia dessa gente. Isso mesmo, um quarto de século. Eu já tinha feito um BO anteriormente, porque um deles agrediu a minha mãe com uma vassoura. Não durmo, não como, vivo à base de ansiolítico e ainda corro o risco de ser agredido fisicamente o tempo todo.
Em março do ano passado quebrei o fêmur e coloquei uma prótese de titânio com cabeça de cerâmica. Desde então minha vida mudou muito. Tenho muitas dores, faço muita fisioterapia e ando de muletas. Os vizinhos homofóbicos se aproveitaram dessa situação, já que moro sozinho, e me sacaneiam de todo o jeito. Jogam chicletes na minha porta – que sou obrigado a raspar com faca, mesmo sem poder me abaixar – e alho (juro!), muito alho na minha porta. A algazarra é contínua, dia e noite. Fui orientado por um advogado a fotografar e passei a fazê-lo. Desde então eles, que são covardes, diminuíram a pressão, mas no sábado de Carnaval o pote entornou. Eles começaram um churrasco às onze da noite, com música bate-estaca. Sem falar nada, fotografei tudo pela janela e por isso fui agredido por dez pessoas. Infelizmente, continuo sendo achacado. Não sou mais cidadão, não sou mais brasileiro, não sou mais niteroiense.
Em 2006, um jovem da mesma família já tinha agredido a minha mãe com uma vassoura, incidente que resultou no primeiro BO, sem punição alguma. Três anos antes eu já tinha solicitado a presença da polícia por conta de uma agressão verbal ao meu pai. Infelizmente, quando os policiais chegaram eles se acovardaram, fechando as portas e apagando a luz como se não houvesse ninguém em casa. Os policiais perceberam a farsa, e antes de irem embora me disseram educamente que eu poderia chamá-los novamente caso fosse incomodado. Sofri todo tipo de insinuação, subliminar e direta, que me fizeram muitas vezes não voltar para casa ao sair do trabalho ou lazer, já que o achincalhe era cotidiano. Daí parti para a ingestão de ansiolíticos e algodão no ouvido para dormir, tal a vigília que faziam para me desequilibrar emocionalmente e mudar de casa.”
*Jornalista
