DA REDAÇÃO, com G1 – A polícia do Rio de Janeiro prendeu, na última semana, uma quadrilha que atuava desde 2008 falsificando documentos que ajudavam brasileiros a conseguirem o visto de turista no Consulado Americano no Rio de Janeiro. O golpe funcionava da seguinte forma: brasileiros que não tinham como comprovar vínculos com o Brasil – como dinheiro na conta, emprego fixo, prestações caras, imóveis, entre outros – pagavam $7 mil (R$ 27 mil) para a quadrilha que, além de falsificar documentos, orientava essas pessoas a como se portar nas entrevistas no Consulado Americano do Rio de Janeiro, enganarem os entrevistadores e terem o visto aprovado.
O consulado americano percebeu a repetição de respostas em várias entrevistas e procurou a polícia. As investigações revelaram que a quadrilha agia desde 2008. Uma mulher que faz parte da quadrilha e quatro pessoas que pagaram pelos serviços criminosos foram presas quando ainda estavam na fila do consulado americano.
Os policiais já sabem também que pelo menos outros dois brasileiros que vivem em Boston (MA) fazem parte da quadrilha. Eles recebiam os brasileiros lá e, aqueles que não podiam pagar pelo serviço, eram obrigados a trabalhar para os criminosos. A polícia americana já foi avisada.
Uma das integrantes da quadrilha Valéria, que fazia os contatos com os interessados no Brasil, pode pegar até nove anos de cadeia por associação criminosa e uso de documento falso. Mas quem contratou os serviços da quadrilha também pode ficar preso por muito tempo.
Como funcionava o esquema
De acordo com informações da polícia, o material apreendido revelou um sofisticado esquema de falsificação de documentos. Tudo era forjado para mostrar que os candidatos ao visto americano não tinham a intenção de viver nos Estados Unidos. Só quem de acordo com a polícia, tinham sim.
Para isso, a quadrilha falsificava escrituras para parecer que o candidato era dono de imóveis, extratos bancários com saldo gordo, diplomas universitários, vistos de entrada em outros países e até declaração de Imposto de Renda. “Eles entravam no sistema da Receita Federal, pelo website, informava dados inverídicos, emitiam o recibo e também falsificavam escrituras públicas para dizer que seus clientes teriam uma renda compatível para poder viajar”, afirma o delegado Aloysio Falcão, responsável pelo caso.
Quem pagava pelos serviços também tinha direito a um cursinho preparatório, um treinamento que podia durar até duas semanas para aprender as perguntas feitas no consulado. As questões que simulavam a entrevista estavam em papéis encontrados na casa onde a quadrilha recebia os interessados em Queimados, na Baixada Fluminense.
“Quem se vale do serviço está cometendo o crime, uso de documento falso, em que a pena prevista é de um a cinco anos”, explica o delegado Aloysio Falcão. As informações foram veiculadas no “Bom dia Brasil”, da Rede Globo.
Golpe em MG
Em Minas Gerais, um outro golpe está sendo denunciado por quem queria tirar o visto americano.
João e três parentes dele se dizem vítimas de uma mesma quadrilha. Eles já tiveram o visto negado uma vez e decidiram procurar ajuda de pessoas que se apresentaram como despachantes.
Chegaram a sair de São Gotardo, no interior de Minas, e foram a São Paulo. João conta que foi levado pelos supostos despachantes a um hotel e que tiveram as impressões digitais recolhidas dentro do próprio hotel.
Com a promessa de receber o passaporte pelo Correio, ele pagou R$ 6 mil. O documento chegou, mas em branco. Os supostos despachantes sumiram. “Fez a gente ir no shopping tirar a foto, arrumar tudo certinho dizendo que a gente nem ia precisar ir no consulado. Dizendo que tinha um contato no consulado. Foi R$ 6 mil de cada da minha família. Foram quatro pessoas. Prejuízo de R$ 24 mil”, conta o comerciante João Frederico de Camargo.
O serviço também era anunciado em uma rede social. Outras duas pessoas afirmam que caíram no mesmo golpe. O mototaxista Eduardo Júnior Silva perdeu R$ 3 mil e também recebeu o passaporte sem visto. “Teve gente que vendeu tudo que tinha para conseguir o dinheiro para dar para ele e ele foi embora”, diz.
O pai de Daniane, que viajou com Eduardo para São Paulo, deu R$ 7,5 mil para quadrilha. “Ele ficou arrasado porque ele tinha muita vontade de ir lá e rever o irmão dele. Ele ficou muito triste, principalmente, pelo dinheiro”, afirma a estudante Daniane Amaral.