Para especialistas do Sul da Flórida, reforma imigratória sairá até julho, mas não há previsão sobre o conteúdo da lei
Agora não tem volta. Este é o sentimento dos advogados de imigração do Sul da Flórida, especialmente aqueles que lidam com a comunidade brasileira, em relação ao acordo firmado entre senadores e a Casa Branca para solucionar a situação de milhões de imigrantes ilegais nos Estados Unidos. A expectativa é que o presidente George Bush assine a nova lei até julho, mas antes o projeto será discutido no Congresso Nacional.
“Foi uma fenomenal surpresa”, disse a advogada Iara Morton. Apesar de ter sempre mantido a esperança em uma eventual aprovação da lei, ela disse que o acordo foi alcançado de forma breve e seu teor, melhor do que o esperado. Para isso, segundo Iara, contribuiu muito o discurso inflamado do líder majoritário do Senado, Harry Reid (democrata de Nevada), em que ele pediu aos colegas que analisassem o assunto com rapidez. “O tema está em pauta há muito tempo, mas a expectativa era de que os ‘restricionistas’ iriam tentar frustrar a iniciativa”, explicou.
Ela ressalta que o acordo deverá ser votado no início da próxima semana, mas tudo indica que os parlamentares pró-reforma já contam com os votos necessários. “Depois começa o debate entre as duas Casas (Senado e Câmara de Representantes), mas agora já podemos acreditar que a reforma vai sair, só não sabemos ainda o produto final”, afirmou. O advogado Bruce Coane concorda e imagina que a nova lei deverá ser aprovada em até 60 dias. “Ainda há restrições, como por exemplo, um eventual pagamento de cinco mil dólares, mas a idéia principal é que uma nova e virtual anistia está sendo criada, embora digam que não se trata de uma anistia”, afirmou.
Da mesma forma, a advogada Ingrid Domingues considerou a proposta, de acordo como foi veiculada pela imprensa, “abrangente demais”. Para ela, esta imagem de anistia pode prejudicar os debates no Congresso norte-americano e a lei deverá ser aprovada com algumas mudanças. “A lei, ao que parece, vai sair mesmo. Mas convém esperar, pois o texto acordado no Senado não será o da redação final”, disse Ingrid. Já a advogada Patrícia Milanez, do escritório Coane & Associates, a sensação é de que a lei não vai ser o que todos sonharam. “O que importa é que milhões de pessoas terão essa grande oportunidade de serem legalizadas”, lembra Patrícia.
Genilde Guerra não ficou assim tão entusiasmada com o acordo selado entre os líderes do Senado americano com relação à aprovação de uma nova lei de imigração no país. Na opinião da advogada de imigração, “esta não é a reforma abrangente ideal”.
Embora concorde que, pelo menos, é o passo inicial para solucionar o problema dos 12 milhões de indocumentados que vivem no país, Genilde destacou que até agora nada foi falado sobre o aumento de vistos, “portanto, os processos continuariam demorando uma eternidade e ninguém comentou sobre o fim do backlog”.
Entretanto, ela admitiu que prefere informar-se melhor sobre o conteúdo da proposta – a qual poderá começar a ser votada na próxima segunda-feira – para ter uma idéia mais exata sobre quem serão os beneficiados.
Por sua vez, o advogado Alex Kapetan se mostrou animado com o progresso acerca da reforma imigratória: “Há muitos detalhes a serem resolvidos, mas o importante é que o presidente Bush, os republicanos e os democratas querem a aprovação da lei. Todos reconhecem que existe neste país um grupo que trabalha duro e age dentro da lei que merece a chance de legalização e de cidadania”.
Kapetan admite, porém, que jamais haverá uma reforma perfeita, mas ele acredita que os imigrantes estão mais perto do que nunca de uma solução para o problema da ilegalidade. “Haverá ainda muito debate no Congresso antes que o projeto chegue à mesa de Bush”, adverte.
O advogado Shayne Epstein foi outro a pedir prudência: “Precisamos de mais detalhes, pois tudo o que foi falado é o que está publicado pela mídia. Em poucos dias esse acordo entre republicanos e democratas se tornará efetivamente um projeto e aí poderemos conhecer melhor o seu conteúdo”. Ele, inclusive, aconselha aos que já têm cidadania ou o green card e ainda não aplicaram para os filhos adultos e/ou irmãos que o façam o mais rápido possível. Shayne acrescentou que seu escritório, em Pompano Beach, vai organizar diversos encontros para debater as questões referentes à imigração, como carteiras de motoristas, 245i, deportação etc.