Especialistas internacionais em migração advertiram que o fluxo de pessoas que saem da América Latina para morar nos Estados Unidos continua crescendo. Apesar do aumento, os especialistas concordaram que as remessas em dinheiro feitas pelos imigrantes para seus países de origem poderiam diminuir no futuro, porque cada vez mais famílias inteiras migram.
No marco da 1ª Conferência Internacional “Migração e Desenvolvimento: uma perspectiva integral a partir do sul”, organizada no México pelo grupo financeiro espanhol BBVA, os especialistas sustentaram que é necessário privilegiar a questão do desenvolvimento dos países em relação ao fenômeno migratório.
Dados do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) indicam que a América Latina recebeu cerca de US$ 54 bilhões em 2005 em remessas enviadas por latinos para seus países de origem, número que superou os fluxos de capital, ajuda internacional e investimento estrangeiro direto para a região.
Na conferência, que reúne especialistas na capital do México até a próxima sexta-feira (16), serão discutidas as causas e as conseqüências dos movimentos migratórios “do sul rumo ao norte”.
Direitos ameaçados
O diretor da Rede Internacional de Migração e Desenvolvimento, Raúl Delgado Weiss, alertou que o abismo que separa os países desenvolvidos dos emergentes “cresceu substancialmente”. Isso resulta em um “aumento da migração trabalhista em direção ao Norte”.
Delgado disse que os migrantes “contribuem para o progresso econômico dos países de destino”, mas que “estão expostos à exploração, a quem são negados seus direitos”.
Para o diretor, muitos os responsabilizam pelos males que afetam a sociedade, e em alguns casos os imigrantes chegam a ser considerados como um “inimigo”.
O analista, também acadêmico da Universidade Autônoma de Zacatecas (UAZ), afirmou que o dilema da imigração costuma ser reduzido “ao problema de negação ou assimilação” do migrante na sociedade que o recebe, algo que qualificou de uma perspectiva hegemônica imposta “pelo Norte”.
Por isso, propôs a criação de “uma perspectiva do Sul”, que tenha mais a ver com o desenvolvimento econômico e social dos países da região.
Estímulo a migração permanente
Por outro lado, o diretor do centro para migração e desenvolvimento da Universidade de Princeton, o cubano Alejandro Portes, argumentou que a política de segurança fronteiriça dos EUA, que prevê um número maior de agentes e a possível construção de um muro na fronteira, prejudicou a migração “cíclica” de mexicanos e latino-americanos para o país.
As estritas medidas de segurança americanas tornam “cada vez mais difícil” que as pessoas voltem para seus lugares de origem. Isso reforça a migração permanente, e serve como incentivo para que as pessoas viajem com toda sua família, e não sozinhos.
Portes e Delgado concordaram que esta dinâmica levará comunidades completas, que tradicionalmente “exportam” pessoas, a serem “desocupadas”, e fará com que o fluxo de remessas para essas regiões diminua.
Imigração econômica
Delgado disse à agência Efe que as remessas são uma “miragem” que levam o tema do desenvolvimento para um “segundo plano”, e que são equivocadamente consideradas uma fonte “inesgotável de recursos”.
O presidente do Conselho de Administração do BBVA Bancomer, Héctor Rangel Domene, lembrou em seu discurso de abertura que a razão fundamental da migração é “de caráter econômico”, por causa das diferenças salariais e de emprego que existem entre a América Latina e os EUA.
Segundo Rangel, os EUA continuam gerando muita demanda de mão-de-obra não qualificada. Por isso, a migração “não apresenta sinais de diminuição” e já são mais de 42,7 milhões de hispânicos vivendo no país.
Neste sentido, destacou que em torno de 25 milhões de latino-americanos vivem fora dos seus países de origem, 22 milhões deles nos EUA, e que a cada ano cerca de 500 mil pessoas migram para o país, apesar de cerca de um milhão tentarem sem sucesso.
O banqueiro concluiu que a migração “tem efeitos positivos” para os países que a recebem, mas sustentou que outros como o México devem criar condições para gerar mais empregos e para reter sua população.