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Lei anti-imigração de DeSantis provoca debandada de imigrantes da Flórida

Estudo confirma que pelo menos 5% de trabalhadores indocumentados deixaram o estado em julho

O que era apenas uma suspeita, agora é fato comprovado. Uma pesquisa conduzida por uma entidade de apoio aos imigrantes na Flórida mostrou que os indocumentados estão realmente deixando o Sunshine State com medo das consequências da Lei 1718, aprovada recentemente pelo governador Ron DeSantis. O estudo divulgado pela American for Immigrant Justice apontou que pelo menos 5% dos trabalhadores no estado optaram pela mudança de ares em julho, desde que as medidas restritivas entraram em vigor no primeiro dia daquele mês. Os setores mais afetados foram hotelaria/comércio, construção civil e, principalmente, agricultura, justamente aqueles onde os imigrantes em situação irregular representam a maioria da força de trabalho.

Segundo dados do Migration Policy Institute, com sede em Washington DC, a Flórida tem cerca de 772 mil trabalhadores indocumentados, o que constitui o 3º contingente do país. Se o cálculo da pesquisa estiver correto, isso significa que mais de 38 mil empregados deixaram suas atividades rumo a outros estados. E isso já é bastante visível em alguns locais de trabalho.

Por exemplo, a falta de mão de obra nas últimas semanas paralisou projetos em todo o estado. Juan Baregas, um subempreiteiro que faz estruturas para um grande incorporadora na Flórida Central, disse que perdeu metade de sua equipe de 40 pessoas nas últimas semanas, limitando sua capacidade de concluir as construções. Os indocumentados seguiram para estados onde se sentem menos vulneráveis. “Talvez essa lei nem seja aplicada, mas as pessoas se sentem perseguidas. Elas só querem trabalhar e viver em paz”, disse Baregas.

O problema é semelhante num hotel de Tampa, que precisou limitar a oferta de quartos aos hóspedes por falta de funcionários. A gerente informou que pelo menos cinco deles abandonaram a Flórida só no mês de julho. Ou ainda num restaurante chinês em West Palm Beach, o East Wok Chinese, que está perdendo empregados e até clientes, pois todos temem a abordagem da polícia de imigração. O ativista Juan Flores lamenta as circunstâncias e lembra que os imigrantes foram cruciais na pandemia. “Agora estamos sendo rejeitados e o pânico é geral”, afirmou.   

Mas o cenário é ainda mais preocupante na agricultura – e, nesse sentido, o receio vai além dos casos individuais dos estrangeiros com status irregular, já que a debandada deve provocar alterações na produção agrícola e, consequentemente, nos preços ao consumidor. Numa fazenda em Homestead, no Sul da Flórida, a reportagem da rede de televisão MSNBC entrevistou uma indocumentada da Guatemala trabalhando sozinha: “Éramos sete trabalhadores aqui, mas todos os outros foram para outros lugares com medo de serem deportados”, revelou a imigrante. As safras, que já foram decepcionantes este ano, tendem a ser ainda mais fracas com os trabalhadores sazonais buscando outros estados, e isso pode mudar até a geografia da produção agrícola na América.

A Lei 1718 obriga que empresas com mais de 25 funcionários usem o sistema E-Verify, uma ferramenta do governo que checa se o indivíduo tem permissão de trabalho nos EUA. A legislação prevê ainda penalidades severas para quem transportar indocumentados. Randy Fine, um deputado estadual republicano que votou a favor da nova lei, disse que nenhum negócio deveria depender da imigração ilegal. “O objetivo da lei é fazer com que os indocumentados parem de vir para a Flórida e fazer com que os que estão aqui deixem o nosso estado”, acrescentou.

Apesar de tudo, as lideranças de comunidades imigrantes ainda têm esperanças de que o governo estadual vai perceber o erro: “Somos uma parte vital da economia, pois trabalhamos nas plantações, nas obras, nos restaurantes… e somos também consumidores. Algo tem que acontecer para mudar este contexto”, torce Juan Flores.

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