A cidade de Governador Valadares (MG) é conhecida no Brasil por sua ligação com os Estados Unidos. Alguns cidadãos valadarenses, porém, se especializaram na travessia ilegal de pessoas para entrar no país. É o caso de três coiotes acusados de agenciar o tráfico de 235 brasileiros que queriam atravessar de modo irregular a fronteira do México com os Estados Unidos, apenas no ano passado. Desse total, 77 eram menores de idade, de acordo com a denúncia feita pelo Ministério Público Federal (MPF) do Brasil.
Os acusados são Erlon Gomes da Silva, Evânio Paraíso Peres e David Gonçalves dos Santos. Entre suas vítimas está Ayron Henrickson Fernandes Gonçalves, de 21 anos, morto durante uma travessia entre os dois países, em 13 de abril do ano passado, de acordo com a Polícia Federal (PF) do Brasil.
Ayron pagou $14 mil para os coiotes. O jovem tinha o sonho de morar nos EUA e trabalhar para ajudar a família. Ele deixou o Brasil em 10 de abril do ano passado. O último contato feito com a família aconteceu no dia de sua morte, pouco antes do início da tentativa fracassada de travessia.
Sem saber o paradeiro de Ayron, a família dele chegou a fazer apelos nas redes sociais, na época: “Se você viu ou sabe como encontrá-lo, entre em contato com a família”, dizia uma publicação feita por parentes, na época.
De acordo com a denúncia, “no momento da travessia terrestre entre México e EUA, Ayron se sentiu mal e foi abandonado à própria sorte pelos atravessadores, falecendo tragicamente em razão de insuficiência respiratória aguda causado por um edema pulmonar”.
A família de Ayron procurou a PF depois que ficou sem notícias do jovem. Os investigadores então conseguiram, na Justiça, a quebra do sigilo telefônico dos envolvidos. E as interceptações telefônicas e telemáticas dos suspeitos revelaram o envolvimento deles com uma série de casos de tráfico de pessoas e detalhes sobre a morte de Ayron.
Em uma das conversas gravadas, Erlon afirma que “o coiote chegou lá e mandou eles correrem lá… Pra subir o morro lá e que o Ayron disparou na frente. Quando chegou lá na frente lá o Ayron passou mal”.
O acusado, no entanto, negava para a família da vítima que o jovem havia morrido, apesar de “já ter ciência da morte do imigrante”, segundo aponta o MPF. Erlon afirmava aos pais de Ayron que o imigrante havia sido preso pelas autoridades americanas.
A investigação resultou na operação “Relicta Mori”, deflagrada em 21 de junho deste ano. Na ocasião, dois suspeitos foram presos. Evânio não foi detido porque vive no México e é responsável pelo recebimento dos brasileiros agenciados pela quadrilha de coiotes.
Os investigadores descobriram os demais casos após terem acessado dados dos suspeitos armazenados “em nuvem”.
Os policiais encontraram imagens; passagens aéreas do Brasil para o México e países vizinhos; passagens aéreas de cidades mexicanas para cidades mexicanas situadas na fronteira com os EUA, sobretudo Tijuana e Mexicali; passagens aéreas de cidades americanas próximas à fronteira, como San Diego e Phoenix, para outras cidades dos EUA; cópias de seguro-saúde de migrantes, o que é necessário para a entrada de viajantes no México; cópias de documentos de migrantes, como passaportes e RG; conversas de Whatsapp, com dados de migrantes e orientações sobre a viagem; e reservas de hotéis.
A partir desses dados a PF identificou o tráfico de famílias inteiras, com dezenas de crianças. Esses grupos familiares geralmente tentavam entrar nos EUA no esquema “cai-cai”. Nestes casos, o imigrante ilegal acompanhado de parente menor de idade se entrega às autoridades americanas e é autorizado a responder ao processo em liberdade.
Esse apenas é mais um caso que confirma a péssima decisão de se envolver com bandidos para tentar entrar ilegalmente em outro país. Além dos riscos inerentes da travessia, ainda gasta-se dinheiro e não há nenhum tipo de segurança. Pelo contrário, caso os bandidos não sejam pagos, as famílias são ameaçadas. Portanto, mais uma vez vale o conselho: fuja desta alternativa e, se possível, denuncie os coiotes às autoridades policiais. (Com informações do G1)