Com mais de 1.254 milhas de fronteira com o México, o Texas e seus cidadãos consideram a questão imigratória tão importante quanto os problemas da economia quando o assunto é eleição. Como as pesquisas de intenção de voto mostram que a diferença entre os dois principais candidatos ao cargo de governador caiu de 15 pontos percentuais em janeiro para apenas 5 pontos percentuais no último levantamento, os discursos dos dois lados têm sido inflamados em relação ao tema.
Contando com o apoio de aliados conservadores, o atual ocupante do cargo, o republicano Greg Abbott, que luta pelo terceiro mandato, vem usando e abusando da retórica extremista para convencer a população de que os imigrantes são responsáveis pelas mazelas do estado, como violência e falta de empregos. O interessante é que poucos crimes graves são atribuídos a quem cruza a fronteira e a taxa de desemprego no Texas vem caindo mês a mês. Mesmo assim, o próprio vice-governador, Dan Patrick, chegou a comparar o fluxo de indocumentados na divisa entre os Estados Unidos e o México ao ataque a Pearl Harbor.
Para ganhar pontos, Abbott tem desafiado as normas constitucionais e a autoridade do governo federal em relação à política de imigração. Na semana passada, por exemplo, ele emitiu uma ordem executiva autorizando a Guarda Nacional do Texas e o Departamento de Segurança Pública a devolver imigrantes detidos após entrarem ilegalmente em território norte-americano, tirando a possibilidade prevista na lei do pedido de asilo no País. Abbott também cogita a reivindicação de poderes de guerra ao Texas, o que permitiria ao governo local colocar em prática a deportação de indocumentados. Só que tal situação é proibida aos estados pela Constituição dos EUA – a menos, é claro, em caso de uma verdadeira “invasão”.
Já para o candidato democrata Beto O’Rourke, considerado o azarão na disputa, o desafio é bem maior. Ele tem tentado se descolar da política de imigração do governo Joe Biden, mas também critica o seu adversário político. “A solução para o problema também não está com o atual governador, pois nas duas gestões ele não resolveu os problemas. O que precisamos no Texas é de uma liderança que consiga mudar o panorama”, afirmou O’Rourke.
A questão imigratória não é a sua única plataforma polêmica naquela região: ele defende um rígido controle de armas pesadas nas mãos de civis. Apesar de, no geral, 59% da população do País tenha manifestado o desejo de limitar o acesso de armas de fogo, no Texas esse índice cai para 44%. O apoio a O’Rourke cresceu após os recentes tiroteios em massa no Estado – notadamente o de Uvalde, que deixou 21 pessoas mortas – mas talvez não seja suficiente para sua eleição.