Padre Messias de Albuquerque há três meses presta auxílio às famílias em Margate
Joselina Reis
Padre Messias de Albuquerque caracteriza-se pela informalidade e pela proximidade com os paroquianos
Padre Messias de Albuquerque não é como os outros. Sem cerimônia e muito sorridente, ele garante que quer o rótulo de amigo dos seus paroquianos em vez de líder religioso. “Nem batina eu uso. A única que tive dei de presente para ser usada como fantasia de festa junina”, disse ele que prefere as roupas esportivas às usadas costumeiramente pelos padres.
Natural do Rio de Janeiro, ele está nos Estados Unidos desde 2005, onde já serviu nas comunidades brasileiras na Filadélfia, Massachusetts, e agora na Flórida, substituindo o padre Jeferson Barivieira. Sua permanência na Missão Católica Brasileira Nossa Senhora Aparecida, que é parte da Paróquia Saint Vicent Church em Margate, está prevista para durar três anos.
Ele lembra que muitos dos fiéis católicos acostumados com os líderes religiosos mais formais se assustam com seu jeito despojado de se vestir e celebrar as missas. “Tem alguns que afirmam nunca ter visto um padre tão normal como eu”, disse o vigário, caindo na gargalhada. Ele adora fazer das missas um momento bem descontraído e divertido. O jeito simples tem cativado os fiéis e, no último domingo, os seus ajudantes contaram 670 pessoas se apertando para ouvir o seu sermão.
Messias é padre diocesano e não religioso. Ele garante que há uma diferença gigantesca entre as duas denominações. “Os escalabrinianos fazem votos para copiar Jesus, os diocesanos fazem promessa de celibato, obediência e virtude”, explica.
Há apenas três meses à frente da Missão Nossa Senhora Aparecida em Margate, a maior da diocese de Miami, ele conta com ajuda de uma funcionária que atende os pedidos da comunidade pelo telefone (954) 972-0434 das 2pm às 9pm. As missas em português são oferecidas às terças, quintas-feiras e sábados às 7:30pm, e aos domingos às 9:30am e 7pm, quando a celebração é transmitida ao vivo pela rádio Paz 830 AM.
Leia abaixo a entrevista com Padre Messias Albuquerque, que não gosta de ser chamado de senhor.
AcheiUSA: Você tem visto alguma mudança no imigrante brasileiro nesses anos em que acompanha a comunidade nos Estados Unidos?
Messias de Albuquerque: O imigrante brasileiro continua o mesmo. Os que vêm para cá querem encontrar uma oportunidade que não encontram no Brasil. Eles buscam qualidade de vida, buscam oportunidade de trabalho, de estudos… A mesma pessoa que eu encontrava em 2005 com sonhos e decepções eu encontro hoje. Eles não sabiam que era tão difícil morar fora e quando se deparam com a realidade ficam tristes. Você precisa lutar pelo que você quer onde quer que esteja. As pessoas precisam entender que não existe nada fácil ou dificil, o que existe são os objetivos e a vontade de trabalhar para isso. Não importa onde você esteja – Brasil ou Estados Unidos –, tudo depende da sua atitude.
Às vezes encontro os imigrantes na mesma caminhada de anos atrás, na busca pelo que quer. O tempo passa, eles não foram embora e outros estão chegando, e eles continuam com o sonho de alcançar algo melhor na vida. Ainda existe essa busca, mas com o tempo eles vão perceber que o importante é a disposição para lutar pelo que eles querem. O melhor lugar do mundo é onde você está feliz. Para alguns imigrantes a vida não foi tão generosa com eles, é aí que entra o meu discurso. Trazer esperança.
AU: Você tem sentido a diminuição no número de fiéis na igreja católica?
MA: Posso falar somente quanto ao católico brasileiro que acompanho nesses anos de igreja, desde 2002, quando me formei. O brasileiro é muito sentimental, muito emotivo. Isso é parte da nossa cultura. A fé religiosa significa sentir-se bem no ambiente religioso onde você está. O católico que é católico, aquele que conhece a fé, que conhece a religião que está seguindo, nunca deixará a igreja. Muito se fala que estamos perdendo campo para outras religiões. Geralmente quem migra para outra religião são os não-praticantes. Eles procuram sua identidade, quem encontrou na católica não vai migrar.
AU: Como foi a escolha pela carreira na igreja?
MA: Minha família sempre foi católica. Aos 10 anos eu já era atuante na igreja local e sempre gostei. Sentia-me bem no ambiente de igreja. Mesmo assim minha família estranhou a minha escolha no início. Quando um jovem diz que vai ser padre a família já sabe que ele vai para longe. A família sente que esta perdendo o seu filho ou filha. Isso aconteceu comigo também. Por exemplo, já fiz inúmeros velórios, mas nunca participei de nenhum velório de meus parentes, porque sempre estou servindo longe de casa como missionário.
AU: Como é o déficit de missionários na igreja?
MA: O mundo mudou drasticamente. Aquela realidade da igreja rural, onde as comunidades tinham poucas opções na sociedade, era a igreja e nada mais, mudou há muito anos. Hoje a igreja não é a única opção, é mais uma entre tantas. Ela vem depois de muita coisa, tem muitas opções. Muito diferente do passado. Isso altera o interesse do jovem na vida religiosa. Não fico escandalizado quando pergunto na missa se alguém quer ser padre e ninguém responde. Hoje, eu conheço dois brasileiros em seminários nos EUA, esse número é extremamente pequeno. Os padres estão se aposentando, morrendo e passam-se anos sem ordenar um novo missionário. Freira, por exemplo, nós aqui não temos nenhuma. A igreja católica vem tentando se modernizar para solucionar o assunto, como o investimento nos ministros extraordinários da eucaristia e diáconos. Eles são pessoas da comunidade, casadas, homens e mulheres, que têm uma preparação para celebrar a palavra, o que é diferente de uma missa. Esse grupo vem crescendo.